São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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Coaf aponta uso de loterias da Caixa para lavar dinheiro

Esquema deu aparência legal a R$ 32 mi oriundos do crime, diz senador tucano

Em São Paulo, três irmãos venceram 525 vezes e receberam R$ 3,77 mi; outra pessoa ganhou 327 vezes e ficou com R$ 1,58 mi

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), ligado ao Ministério da Fazenda, apontam indícios de lavagem de dinheiro em loterias da CEF (Caixa Econômica Federal) com a suposta conivência de funcionários.
Os sinais de irregularidades constam de documentos emitidos entre 2002 e 2006 e, segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que divulgou os dados, o esquema teria servido para dar aparência legal a cerca de R$ 32 milhões provenientes de atividades criminosas.
Um dos mecanismos usados seria a compra de bilhetes premiados dos reais vencedores. "Todos nos lembramos do fenômeno João Alves. Quando apanhado na CPI do Orçamento com uma fortuna não justificada em suas contas bancárias, ele declarou que ganhara inúmeras vezes na loteria. Pois ele fez escola", afirmou Dias.
O esquema, com 75 pessoas, foi informado ao Ministério Público, à Polícia Federal e à Procuradoria Geral da República. Entre os que aparecem nos relatórios do Coaf está o doleiro Antonio Claramunt, o "Toninho da Barcelona", que teria recebido R$ 215,7 mil, em 3 de abril de 2002, referente a 38 prêmios, em cinco modalidades distintas de sorteio.
Em São Paulo, três irmãos ganharam 525 vezes, levando ao todo R$ 3,77 milhões. Um outro, de São Paulo, teve sorte 327 vezes e recebeu R$ 1,58 milhão. O Coaf cita ainda um homem que descontou 107 bilhetes no mesmo dia, em São Paulo, no valor de R$ 310 mil.
Entre os 75 supostos envolvidos no esquema estão acusados de homicídio, estelionato, receptação, sonegação fiscal, contrabando, evasão de divisas, loterias clandestinas e crimes contra o sistema financeiro.
Em 2004, a Folha revelou que um grupo de 200 pessoas venceu 9.095 vezes nos jogos da Caixa entre março de 1996 e fevereiro de 2002, enquanto 98,6% das 168.172 pessoas premiadas alguma vez no período só acertou até quatro vezes.
"A Caixa simplesmente comunica ao Coaf e não toma providência interna para evitar o crime", disse o senador.

Outro lado
A Caixa afirmou, por meio de nota, que os indícios de irregularidades foram comunicados pela própria instituição ao Coaf e que a maioria dos pagamentos ocorreu até o ano 2000. Segundo a CEF, o Coaf e a Receita são informados sobre as pessoas que receberam algum tipo de prêmio acima de R$ 800.
A CEF não possui competência para investigar crimes: "A ação conjunta do Coaf, Polícia Federal e da Caixa, com o descredenciamento de unidades lotéricas envolvidas em irregularidades, é a responsável pela diminuição dessa ocorrência nos últimos quatro anos".


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