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CELSO PINTO
Um teste para a política industrial
A indústria química responde por 13% do PIB industrial, é o segundo maior setor industrial do país, com 4.500
empresas, depois de alimentos e
antes de petróleo e automóveis.
Em 1990, o setor tinha um déficit comercial de US$ 1,2 bilhão;
no ano passado, ele foi de US$
6,3 bilhões, nas contas do setor.
Nos próximos cinco anos, o déficit pode subir para algo entre
US$ 16 bilhões e US$ 20 bilhões.
Nos últimos cinco anos, a rentabilidade média foi de apenas
2,8%.
Por isso mesmo, o setor químico, junto com o eletroeletrônico,
foi o exemplo citado em dez entre dez estudos feitos por economistas do PT, ou ligados a ele,
como candidato preferencial a
uma política industrial ativa,
que turbine os investimentos e
substitua importações. Um estudo do Iedi, instituto financiado
pela indústria, prevê que o setor,
que já ocupa 84% da capacidade instalada, chegue na casa crítica dos 90%, se for mantido algum crescimento dos mercados
interno e externo.
Política industrial ativa e
substituição de importações,
contudo, são daquelas idéias
consensuais do PT, antes da
posse, que até agora não deram
sinal de vida. Supõe-se que elas
ainda estejam de pé, mas não
em todos os ministérios. Na Fazenda, o secretário de Política
Econômica, Marcos Lisboa, é
co-autor da "Agenda Perdida",
onde se diz: "O tamanho do déficit comercial de um setor particular de forma alguma é um critério adequado para a adoção
de políticas industriais". Está dito, ainda, que "no caso de setores intermediários, a adoção de
proteção tarifária é negativa
para os setores posteriores da
cadeia produtiva". A agenda rejeita políticas que impliquem
transferência de recursos a setores, subsídio e proteção, mas
aplaude políticas "horizontais"
de estímulo à tecnologia e à redução do custo Brasil.
Os empresários, é claro, estão
se mexendo. O Iedi pediu ao
presidente Lula um programa
emergencial de US$ 10 bilhões
para superar gargalos em setores básicos. O setor químico, por
sua vez, encomendou à consultoria Booz-Allen, junto com a
Abiquim, uma radiografia do
setor e entregou ao ministro do
Desenvolvimento, Luiz Furlan,
há duas semanas. O ministro
prometeu designar um assessor
para trabalhar na questão.
A principal conclusão do estudo é que, se nada mudar, em
cinco anos o déficit externo químico pode chegar até a US$ 20
bilhões, as importações saltariam de 27% do consumo aparente para até 40%, os investimentos cairiam de 5% do faturamento para 2% a 3%. O Brasil
é o nono maior produtor químico mundial, mas, com baixa
rentabilidade e poucos investimentos, "progressivamente se
verifica o sucateamento da indústria".
Por que simplesmente não importar? Guilherme Duque Estrada, vice-presidente executivo
da Abiquim, lembra três razões:
muitos insumos não são commodities e são difíceis de encontrar; nenhum país emergente
importante prescinde de uma
indústria de base forte; e não dá
para jogar fora o enorme investimento já feito no setor. Ele admite que o critério do déficit comercial setorial pode ser mais
bem discutido: muitos insumos
químicos são exportados embutidos na produção agrícola, de
sapatos, de veículos etc.
O que o setor químico pede,
em parte, são políticas "horizontais": desoneração de exportações, redução do custo Brasil
(capital, logística, infra-estrutura, tributação e processos ligados ao ambiente); desoneração
das importações de tecnologia;
estímulo a novos investimentos
em energia elétrica.
Outras demandas são para o
setor: 1) mudar a política de preços da Petrobras para a nafta
(hoje é o preço internacional,
mais transporte e internação);
2) usar médias móveis nos preços em dólar para reduzir a volatilidade; 3) mudar a precificação do gás da Bolívia; 4) dar
acesso direto aos dutos do gás
para grandes consumidores; 5)
estabilizar a definição de preços
da energia elétrica, considerando cada segmento; 6) ampliar
investimentos em refino e em
nafta; 7) fomento e financiamento de tecnologia para o setor.
Um pedido mais polêmico é
para manter a proteção tarifária nas negociações de livre comércio da Alca. Cerca de 77%
dos produtos químicos brasileiros já entram nos Estados Unidos com tarifa zero, enquanto os
produtos químicos americanos
pagam, no Mercosul, tarifa média de 8,8%. O setor quer manter tudo igual.
A agenda, como se vê, é ambiciosa e vai muito além dos domínios de Furlan. Se ela for
cumprida, diz o estudo, em cinco anos os investimentos subiriam para 6% a 8% do faturamento, o déficit se estabilizaria
entre US$ 6,1 bilhões e US$ 8,6
bilhões e as importações cairiam para 22% a 25% do consumo aparente. O setor sabe que é
impossível levar tudo, mas será
um bom teste para conferir a
quantas anda a gana por política industrial dos petistas.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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