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PODERES EM CONFLITO
Presidente do STF propõe que, em vez de ter ação restringida, Ministério Público possa investigar o chefe de Estado
Corrêa contesta Dirceu e "lei da mordaça"
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Maurício Corrêa, afirmou ontem, em
São Paulo, que não há caixa-preta
para ser aberta no Judiciário e defendeu a ampliação de poderes do
Ministério Público para a investigação de juízes, de ministros e até
do presidente da República.
Hoje, só a Polícia Federal pode
realizá-la e apenas o procurador-geral da República tem competência para processar o presidente
e ministros. Para Corrêa, o fortalecimento dos poderes do Ministério Público também é uma alternativa ao controle externo do
Judiciário proposto pelo governo.
"Não precisa por mordaça na
boca do Ministério Público. O que
precisa é fortalecer o Ministério
Público para que ele possa investigar juízes, ministros e até o presidente da República, se for o caso", afirmou Corrêa.
A declaração foi feita em discurso na inauguração do novo Fórum Trabalhista de São Paulo. Foi
uma resposta ao ministro José
Dirceu (Casa Civil). Ele reclamou
das investigações conduzidas pelo Ministério Público nos casos
Waldomiro Diniz e Santo André.
Acusou o órgão de cometer "violências legais" e ameaçou: "Não
vou deixar isso barato".
Em entrevista antes do discurso,
Corrêa já havia tratado do tema:
"Não sei em que circunstâncias isso foi dito. Mas não pode haver
mordaça no Ministério Público.
Ao contrário de tirar prerrogativas, nós temos de ampliá-las".
Em relação às novas suspeitas
de irregularidades na obra do fórum, ele disse acreditar não haver
problemas, mas defendeu a punição dos responsáveis, caso haja
comprovação.
Troca de farpas
A inauguração do fórum, 12
anos após o início das obras, foi
marcada pela troca de farpas entre Corrêa e o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos.
"Não há caixa-preta para ser
aberta", disse Corrêa em seu discurso, referindo-se às declarações
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de que é preciso abrir a caixa-preta no Poder Judiciário.
Segundo ele, "se existe uma caixa-preta", faz parte do imaginário
de pessoas que não conhecem o
Judiciário. Corrêa defendeu um
controle do Poder, mas interno.
"O que mais desejamos é que
haja um controle da atividade do
Judiciário. Não esse controle [externo], que mais parece a vontade
da presença do Executivo para saber o que faz o Judiciário", disse.
Corrêa foi o único a ser aplaudido.
Bastos, que não quis rivalizar
durante o discurso, afirmou depois em entrevista que o controle
externo encontra respaldo em setores do próprio Judiciário.
"O controle externo é uma luta
da sociedade desde a Constituinte. Hoje temos adesão não só no
Congresso, mas também no Judiciário. Vou só citar só dois exemplos: o futuro presidente do Supremo Tribunal Nélson Jobim e o
presidente atual do Superior Tribunal de Justiça, Edson Vidigal."
Sobre as declarações de Corrêa,
ele afirmou: "O presidente Maurício Corrêa é meu grande amigo,
nós temos pontos de divergência,
mas essa questão é sempre discutida num plano de respeito e amizade". Bastos foi vaiado por um
grupo de cerca de 200 procuradores federais e advogados públicos
da Advocacia Geral da União que
cobravam aumento.
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