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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA
Contratos de publicidade de banco do governo paulista foram prorrogados sem amparo legal; Ministério Público abre investigação criminal
Favorecimento a agências em SP é investigado
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Estado
de São Paulo abriu procedimento
criminal preliminar para apurar
denúncia de prorrogação ilegal
dos contratos de publicidade da
Nossa Caixa -banco do governo
paulista- com as agências Full
Jazz e Colucci entre 2003 e 2005.
A prorrogação ilegal não é a
única irregularidade que envolve
a Nossa Caixa. A Folha revelou
ontem que o governo Geraldo
Alckmin (PSDB) direcionou recursos do banco para favorecer
jornais, revistas e programas de
rádio e televisão mantidos ou indicados por deputados da base
aliada na Assembléia Legislativa
(veja quadro nesta página e leia
texto na pág. A9).
A investigação criminal sobre a
prorrogação dos contratos, iniciada em dezembro, a partir de denúncia anônima enviada ao MP,
está a cargo da promotora Carla
Maria Altavista Mapelli. Ela solicitou ao promotor de Justiça da Cidadania Sérgio Turra Sobrane cópia dos depoimentos, na área cível, do presidente do banco, Carlos Eduardo Monteiro, e do ex-gerente de marketing Jaime de Castro Júnior.
O presidente do banco já prestou esclarecimentos iniciais, por
escrito. O ex-gerente deverá ser
notificado para depor no início de
abril. Sobrane requisitou documentos ao Tribunal de Contas do
Estado, cópias das sindicâncias da
Nossa Caixa e informações a deputados citados na denúncia.
Em depoimento à comissão de
sindicância da Nossa Caixa, Castro Júnior admitiu a responsabilidade pelo não-acompanhamento
dos vencimentos dos contratos. E
reconheceu que Monteiro desconhecia a não-prorrogação.
Mas disse que "o simples fato de
não saber, não acompanhar a validade dos contratos, a utilização
das verbas, não pode eximir ninguém de responsabilidades, nem
mesmo o diretor-presidente".
Nos documentos juntados ao
processo, há contradições e trocas
de acusações entre Castro Júnior e
os dirigentes das agências de propaganda Full Jazz e Colucci, Maria
Christina de Carvalho Pinto e Oscar Colucci, respectivamente.
Castro Júnior disse ter percebido que os contratos não haviam
sido prorrogados quando a unidade bancária da Nossa Caixa na
rua Bela Cintra -onde a empresa
de Colucci mantinha conta corrente- solicitara cópias dos contratos para adiantamento de valores, mediante operações de crédito. Ou seja, a Colucci tomava dinheiro emprestado, no limite de
R$ 800 mil, oferecendo como garantia direitos creditórios -comprovantes de serviços prestados
sem amparo legal, pois os contratos não haviam sido renovados.
Depoimentos de outros funcionários indicam que, naquela ocasião, houve recusa da agência da
Nossa Caixa de fazer a operação
de crédito com garantia de recebíveis do próprio banco.
A Comissão de Disciplina e Ética da Nossa Caixa registra que, "a
partir de novembro de 2002,
quando já não havia mais verba
contratualmente prevista, o departamento de marketing [do
banco] continuou a solicitar a
prestação de serviços junto à Colucci", violando, assim, a Lei de
Licitações.
Oscar Colucci afirmou à comissão de sindicância que, em outubro de 2003, assinara a prorrogação do contrato, em "encontro fora das dependências do banco", e
que só estavam presentes ele e
Castro Júnior. Disse ainda que
"assinou o contrato em três vias e
não lhe foi entregue nenhuma cópia". Castro Júnior disse à comissão de sindicância que essas afirmações de Colucci são "fantasiosas".
Pressões
A presidente da Full Jazz, Maria
Christina de Carvalho Pinto, disse
à comissão de sindicância que
Castro Júnior "trabalhava muito,
vivia bastante atarefado e fazia
muitas coisas ao mesmo tempo".
Atribuía a isso o fato de que "a relação com a agência de propaganda era bem distante e atípica".
Sobre a não-renovação do contrato, Maria Christina contou que
entregara carta ao presidente do
banco manifestando o interesse
na continuidade da prestação de
serviços. Como demorou a receber uma resposta, pediu à diretora de atendimento de sua agência
que telefonasse para a Colucci.
Segundo transcrição do depoimento, ela teria obtido a seguinte
resposta: "Não se preocupem e
acima de tudo não pressionem,
porque nós da Colucci, que estamos há vários anos atendendo o
banco Nossa Caixa, já ficamos
sem a renovação oficial e aparentemente não é de agrado do banco
que se exerça essa pressão".
Castro Júnior disse que as declarações prestadas pela presidente
da Full Jazz à comissão de sindicância eram "demagógicas, contraditórias, mentirosas e tendenciosas". Disse que teve poucos
contatos com ela, "relacionados
ao péssimo atendimento que estava sendo prestado pelas suas
áreas de redação e criação".
O ex-gerente criticou ainda o fato de que a diretoria da Nossa Caixa, inclusive o presidente Monteiro, tenha participado de festa de
aniversário na Full Jazz, quando
estava em andamento concorrência para contratar agências de
propaganda, certame que a empresa anfitriã disputava.
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