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CASO SANTO ANDRÉ
Advogado de Gomes da Silva, acusado de matar prefeito, diz que peça-chave do caso morreu em briga de rivais
Defesa diz que PCC matou "elo" do caso Daniel
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os advogados de defesa do empresário Sérgio Gomes da Silva,
preso sob acusação de ter mandado matar o prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), divulgaram ontem um depoimento e resumos de conversas gravadas pela
Polícia Civil que apontam ser o
grupo criminoso PCC (Primeiro
Comando da Capital) o autor do
assassinato do presidiário Dionízio de Aquino Severo, em 2002.
Com a divulgação -feita na
mesma semana em que é aguardado o julgamento de um habeas
corpus de Gomes da Silva no STJ
(Superior Tribunal de Justiça)-,
a defesa do empresário pretende
acabar com as suspeitas de que
Severo tenha sido morto como
"queima de arquivo" pelos responsáveis pela morte de Daniel.
O presidiário, segundo o Ministério Público, é o principal elo entre o empresário Gomes da Silva e
a quadrilha da favela Pantanal,
autora do seqüestro e assassinato
do prefeito, em janeiro de 2002.
Severo escapou de um presídio
um dia antes do seqüestro do prefeito, foi recapturado pela polícia
no Nordeste e assassinado em
uma cadeia paulista três meses
depois da morte do petista.
O advogado de Gomes da Silva,
Roberto Podval, criticou os promotores de Santo André por não
terem juntado ao processo os documentos que apresentou ontem
à imprensa, em entrevista coletiva. Também atacou "parte da imprensa" que, segundo ele, "não
deu a ênfase necessária" à versão
de que o PCC foi o verdadeiro autor do assassinato de Severo.
A Folha e outros veículos de comunicação divulgaram, em 2002,
a conclusão policial de que o PCC
tramou a morte de Severo. Para o
Ministério Público, "é possível"
que o PCC tenha matado Severo,
mas isso não elimina as ligações
entre ele e a quadrilha que matou
Celso Daniel (veja texto ao lado).
O depoimento divulgado ontem pelo advogado é uma confissão feita pelo presidiário César
Augusto Roris Silva, 35, o Cesinha, ao delegado Ruy Ferraz, da
Delegacia de Roubo a Bancos. Cesinha é co-fundador do PCC e seu
ex-líder (teria rompido com a organização). Nos últimos anos ele
comandou, segundo a polícia,
uma série de assassinatos de presidiários de facções contrárias ao
PCC, quase sempre com dilaceração de corpos.
"O interrogando confessa ter
determinado a morte de um preso cujo prenome é Dionisio [sic],
que ficou conhecido por ter fugido de helicóptero da penitenciária
de Guarulhos. O interrogando informa que mandou matar Dionisio, que ele era da oposição e que
ele tinha mandado matar irmãos
que estavam no sistema", disse
Cesinha em 24 de maio de 2002.
A tese da defesa é que Severo
mentiu ao dizer que tinha informações sobre o caso Santo André
apenas para poder receber uma
proteção especial do governo estadual contra as ameaças do PCC.
Severo, segundo Cesinha, pertenceria à facção rival CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro
da Criminalidade).
Nos resumos feitos pela polícia
sobre as gravações de 2002, Cesinha admite a outros presidiários e
a uma jornalista da TV Bandeirantes, Fátima Souza, ter participado do assassinato de Severo. À
jornalista, por telefone, Cesinha
diz, segundo o relatório policial,
"que acabamos de matar o Dionísio [sic]". Horas depois, ele telefona para saber se o assassinato fora
divulgado pela TV.
Em outra parte dos resumos da
polícia, um preso, de nome Sandro, telefona para Cesinha para
contar que, "em companhia de
Globo e outros presos, matou
Dionisio [sic]". Em seguida, o
presidiário, apelidado de Globo,
vai ao telefone para conversar
com Cesinha, que, numa aparente
contradição, diz que Severo era
do "CDL, portanto tem que morrer mesmo".
O CDL (Comando Democrático
para a Liberdade) é outra facção
rival do PCC. Mas, em seu depoimento, Cesinha havia dito que Severo era do CRBC, e não do CDL.
O advogado Roberto Podval
não divulgou as fitas nem as
transcrições dos diálogos -termo usado por ele para classificar
os resumos feitos pela polícia. Ele
disse ter obtido o material de
"amigos" da Polícia Civil. "Temos
agora claramente a prova de que
Sérgio não tem nenhuma ligação
com Dionízio", afirmou Podval.
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