São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Advogado de Gomes da Silva, acusado de matar prefeito, diz que peça-chave do caso morreu em briga de rivais

Defesa diz que PCC matou "elo" do caso Daniel

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os advogados de defesa do empresário Sérgio Gomes da Silva, preso sob acusação de ter mandado matar o prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), divulgaram ontem um depoimento e resumos de conversas gravadas pela Polícia Civil que apontam ser o grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital) o autor do assassinato do presidiário Dionízio de Aquino Severo, em 2002.
Com a divulgação -feita na mesma semana em que é aguardado o julgamento de um habeas corpus de Gomes da Silva no STJ (Superior Tribunal de Justiça)-, a defesa do empresário pretende acabar com as suspeitas de que Severo tenha sido morto como "queima de arquivo" pelos responsáveis pela morte de Daniel.
O presidiário, segundo o Ministério Público, é o principal elo entre o empresário Gomes da Silva e a quadrilha da favela Pantanal, autora do seqüestro e assassinato do prefeito, em janeiro de 2002.
Severo escapou de um presídio um dia antes do seqüestro do prefeito, foi recapturado pela polícia no Nordeste e assassinado em uma cadeia paulista três meses depois da morte do petista.
O advogado de Gomes da Silva, Roberto Podval, criticou os promotores de Santo André por não terem juntado ao processo os documentos que apresentou ontem à imprensa, em entrevista coletiva. Também atacou "parte da imprensa" que, segundo ele, "não deu a ênfase necessária" à versão de que o PCC foi o verdadeiro autor do assassinato de Severo.
A Folha e outros veículos de comunicação divulgaram, em 2002, a conclusão policial de que o PCC tramou a morte de Severo. Para o Ministério Público, "é possível" que o PCC tenha matado Severo, mas isso não elimina as ligações entre ele e a quadrilha que matou Celso Daniel (veja texto ao lado).
O depoimento divulgado ontem pelo advogado é uma confissão feita pelo presidiário César Augusto Roris Silva, 35, o Cesinha, ao delegado Ruy Ferraz, da Delegacia de Roubo a Bancos. Cesinha é co-fundador do PCC e seu ex-líder (teria rompido com a organização). Nos últimos anos ele comandou, segundo a polícia, uma série de assassinatos de presidiários de facções contrárias ao PCC, quase sempre com dilaceração de corpos.
"O interrogando confessa ter determinado a morte de um preso cujo prenome é Dionisio [sic], que ficou conhecido por ter fugido de helicóptero da penitenciária de Guarulhos. O interrogando informa que mandou matar Dionisio, que ele era da oposição e que ele tinha mandado matar irmãos que estavam no sistema", disse Cesinha em 24 de maio de 2002.
A tese da defesa é que Severo mentiu ao dizer que tinha informações sobre o caso Santo André apenas para poder receber uma proteção especial do governo estadual contra as ameaças do PCC.
Severo, segundo Cesinha, pertenceria à facção rival CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade).
Nos resumos feitos pela polícia sobre as gravações de 2002, Cesinha admite a outros presidiários e a uma jornalista da TV Bandeirantes, Fátima Souza, ter participado do assassinato de Severo. À jornalista, por telefone, Cesinha diz, segundo o relatório policial, "que acabamos de matar o Dionísio [sic]". Horas depois, ele telefona para saber se o assassinato fora divulgado pela TV.
Em outra parte dos resumos da polícia, um preso, de nome Sandro, telefona para Cesinha para contar que, "em companhia de Globo e outros presos, matou Dionisio [sic]". Em seguida, o presidiário, apelidado de Globo, vai ao telefone para conversar com Cesinha, que, numa aparente contradição, diz que Severo era do "CDL, portanto tem que morrer mesmo".
O CDL (Comando Democrático para a Liberdade) é outra facção rival do PCC. Mas, em seu depoimento, Cesinha havia dito que Severo era do CRBC, e não do CDL.
O advogado Roberto Podval não divulgou as fitas nem as transcrições dos diálogos -termo usado por ele para classificar os resumos feitos pela polícia. Ele disse ter obtido o material de "amigos" da Polícia Civil. "Temos agora claramente a prova de que Sérgio não tem nenhuma ligação com Dionízio", afirmou Podval.


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