São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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Bicheiros prestam depoimento no Rio e negam a compra de sentenças judiciais

RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Em depoimentos prestados ontem à Justiça Federal do Rio, os bicheiros Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, Aniz Abrahão David, o Anísio, e Antônio Petrus Kalil, o Turcão, negaram participação em um esquema de compra de sentenças judiciais por uma organização criminosa vinculada a caça-níqueis e a casas de bingo.
Presos há duas semanas durante a Operação Hurricane, da PF (Polícia Federal), os bicheiros foram transferidos de Brasília para o Rio com mais 14 dos 25 réus do processo que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) e na 6ª Vara Criminal Federal da capital fluminense.
O primeiro a depor foi Capitão Guimarães, 65. Falou à juíza Ana Paula Vieira de Carvalho por uma hora. Negou todas as acusações que lhe foram feitas. Disse que não tem mais ligações com o jogo do bicho, onde teria atuado de 1982 a 1993.
Guimarães disse atuar como agente financeiro autônomo que aplica na Bolsa de Valores, onde ganha cerca de R$ 400 mil mensais. Ele se disse "massacrado" e que acredita ter sido incluído na investigação só por ser "o Capitão Guimarães". "Ele repudiou a denúncia como um todo, refutou-a por completo", disse Nélio Machado.
A seguir, Anísio, 69, também falou por uma hora. Ele admitiu à juíza ter trabalhado no jogo do bicho até 1993, quando foi condenado pela Justiça do Estado do Rio a seis anos de prisão por formação de quadrilha.
Após cumprir três anos da pena, Anísio disse ter abandonado a contravenção, mas que no período em que atuou no bicho ganhou muito dinheiro. Segundo ele, após sair da cadeia passou a viver do aluguel de imóveis e do dinheiro obtido com a venda de apartamentos e de jóias. Disse que ganha, em média, R$ 100 mil por mês.
A respeito da apreensão de US$ 46 mil em seu apartamento, disse que o dinheiro foi obtido com a venda de imóveis e tinha sido declarado ao Imposto de Renda no exercício de 2005.
No saguão de espera, antes de depor, Turcão, 82, disse estar passando mal. Uma equipe médica não constatou alterações na pressão sangüínea e na taxa de glicose. O interrogatório foi autorizado. Turcão disse várias vezes que não se lembrava de detalhes porque faz tratamento para a memória. Ele falou que abandonou o jogo do bicho em Niterói há quatro meses, "por causa da idade e da doença".
A defesa pediu à juíza que Turcão passe para o regime de prisão domiciliar, pois sofreria de doenças neurológica e cardíaca. Ela convocou uma junta médica. Apenas após a avaliação pela junta Ana Paula de Carvalho dará uma decisão.
Os advogados de Capitão Guimarães e de Anísio impetraram habeas corpus pedindo a libertação de seus clientes. Caso a prisão seja mantida, eles pedem que os presos não sejam transferidos para o presídio de segurança máxima em Campo Grande (MS) após o fim dos depoimentos, conforme a determinação da juíza federal.


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