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JANIO DE FREITAS
Sucesso de mídia
Todos se deram mal. Francisco Lopes ofereceu a imagem
de culpado, o Senado meteu-se
em uma situação polêmica e
onerosa, o governo viu fracassar o trabalho para esvaziar a
CPI a partir de hoje.
Os desdobramentos do incidente criado por Francisco Lopes na CPI comportam inúmeras hipóteses, mas, na sua origem, há pelo menos uma certeza: ao decidir a atitude na CPI,
Francisco Lopes desconsiderou o ingrediente político preparado para favorecê-lo. Tanto faz se isso se deveu a falta de
acuidade política ou à impossibilidade de se sair ao menos
razoavelmente.
O fim-de-semana foi ocupado por muita gente na articulação, digamos assim, de um
abrandamento da CPI. O pretexto, distribuído pela Presidência da República, era a retomada de uma tal agenda positiva, segundo os temas, pelo
Congresso.
No domingo e ainda ontem,
foi o próprio Fernando Henrique quem se movimentou na
articulação. Primeiro, um
convite a Antonio Carlos Magalhães para conversar no Alvorada. Na segunda-feira, o
longo café da manhã com o senador Jader Barbalho, proponente, integrante e influência
maior em metade da CPI.
O interesse do governo é,
muitos têm afirmado, deixar
Francisco Lopes como único
devedor de explicações sobre
as irregularidades atribuídas
ao Banco Central. Mas essa
pretensa saída tem uma ressalva limitadora. Ao governo
não convinha que a concentração de Francisco Lopes o
expusesse a efeitos excessivamente duros. Nesse caso, Lopes, como defesa ou como vingança, por certo levaria o governo a embaraços sérios, com
revelações inconvenientes.
Havia, portanto, um jogo sutil a ser feito pelos governistas,
entre a ação esperada da CPI
pela opinião pública e a preservação do oxigênio satisfatório para o depoente. Era
uma oportunidade, mas Francisco Lopes não a percebeu ou
não a quis. E nisso atingiu,
também, a tática do governo.
Em vez de ""tirar as CPIs da
mídia", como deseja, Fernando Henrique vê o crescimento
daquela que o inquieta, porque sujeita a um acaso capaz
de explodir no centro do governo. E, se não um acaso, talvez uma retribuição de Francisco Lopes ao tombo pelas
costas, que é a sua visão da
maneira como foi demitido do
Banco Central.
Presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães mostrava-se seguro, tão logo encerrada a sessão sem sessão da CPI,
de que ""o Senado não sairá
desmoralizado" do episódio.
Como primeira impressão, vá
lá. Daí por diante, a CPI está
sujeita a muitas discussões.
Nenhuma delas conveniente à
Casa e ao Congresso mesmo.
Já ontem, por exemplo, era
contestada a obrigatoriedade
de um convocado como testemunha dispor-se a falar. E,
portanto, a ver-se obrigado,
sob risco de prisão, a assinar o
termo de responsabilidade,
com os juramentos de praxe.
Outras questões começaram a
pipocar tão logo amainado o
incidente.
Mal ao país, nada disso faz.
Nem mesmo porque atrasasse
uma tal agenda positiva a ser
adotada pela Câmara e pelo
Senado, segundo a fórmula
anti-CPI de Fernando Henrique. Todos sabemos e sentimos
que o governo é que precisa de
uma agenda positiva. Ou, já
seria alguma coisa, de uma
agenda. De trabalho, não de
viagem, que essa existe e está
gorda.
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