São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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VIAGEM AO ORIENTE

"Não viajo a um país para fazer julgamento político dos seus problemas", afirma presidente; Anistia critica repressão na China

Direitos humanos é tema superado, diz Lula

DE PEQUIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a questão dos direitos humanos na China é "um problema superado". Segundo ele, o assunto foi discutido na Organização das Nações Unidas, e o Brasil concluiu que a China colocou na Constituição o respeito aos direitos humanos.
"A ONU discutiu e resolveu o problema para nós", afirmou Lula em entrevista coletiva em Xangai. O presidente embarca hoje para Guadalajara (México), onde participará de encontro entre os dirigentes do Mercosul e da União Européia para a negociação de um acordo de livre comércio.
O comunicado conjunto que Lula assinou na segunda-feira com o presidente chinês, Hu Jintao, critica a "politização" do tema dos direitos humanos, atitude que a China freqüentemente atribui aos Estados Unidos. Na entrevista, Lula evitou fazer comentários sobre a situação da democracia na China: "Eu não viajo a um país para fazer julgamento político dos problemas do país".
O presidente lembrou que o Brasil votou a favor da China na Organização das Nações Unidas, o que evitou a apreciação de um relatório que condenava a questão dos direitos humanos no país.

Anistia Internacional
O pesquisador da Anistia Internacional (uma das mais influentes organizações de defesa dos direitos humanos do mundo) para o Brasil, Tim Cahill, disse ontem que Lula deveria ter mencionado os abusos contra direitos civis e políticos dos chineses, em vez de apenas citar as conquistas econômicas e sociais do governo.
Na contramão do que disse o presidente Lula, o relatório anual da Anistia sobre a situação mundial dos direitos humanos, divulgado ontem em Londres (Reino Unido), faz uma série de críticas às políticas repressivas da China em 2003. "Dezenas de milhares de pessoas continuaram a ser detidas ou presas em violação de seus direitos de liberdade de expressão e associação, correndo sério risco de tortura ou maus tratos."
Parte dessas prisões foi feita em razão de uso da internet e de mensagens de texto em celulares para "divulgar segredos de Estado", "defender idéias subversivas" ou "espalhar rumores" relativos à epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave), que atingiu o país no ano passado.
A ONG afirma que houve um aumento da repressão a minorias, principalmente da comunidade Uighur, majoritariamente muçulmana, e de líderes da região do Tibete, que buscam independência.
Segundo a Anistia, a pena de morte "continuou a ser usada extensivamente e arbitrariamente". Foram 1.639 sentenças de morte em 2003, com 726 execuções. A entidade diz acreditar que os números reais são maiores. O relatório aponta que milhares de refugiados da ditadura norte-coreana que pediram asilo à China foram enviados de volta a seu país.


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