São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Sou o único líder que passou fome"

Ricardo Stuckert/Agência Brasil
Lula discursa no encerramento de uma conferência promovida pelo Banco Mundial em Xangai


DA ENVIADA ESPECIAL A XANGAI

Com a trajetória de retirante nordestino que conheceu a pobreza de perto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se apresentou ontem como o mais qualificado defensor dos famintos entre os dirigentes mundiais. "Tenho de falar da fome em todo o lugar que eu puder. Se eu não falar, ninguém tem a obrigação de falar. Não tem outro governante que passou fome", declarou em Xangai, segunda e última etapa de sua viagem à China, que termina hoje.
A afirmação foi feita na entrevista coletiva que o presidente concedeu para avaliar a visita. De manhã, porém, Lula havia encontrado a platéia ideal para falar do tema na abertura da conferência internacional sobre redução da pobreza que o Banco Mundial promove em Xangai.
Lula dividiu a mesa com o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, o presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, o presidente da Tanzânia, Benjamin William Mkapa, e a primeira-ministra de Bangladesh, Begum Khaleda Zia.
"Sei o que é a fome e sei o que é a pobreza", afirmou Lula, no início de seu discurso, no qual criticou os subsídios agrícolas dos países ricos. "Não é possível que as vacas em alguns países desenvolvidos recebam mais de dois dólares em subsídios a cada dia, enquanto metade da população do globo tem que sobreviver com menos do que isso", disse, sob aplausos.
O presidente relembrou o roteiro que vem cumprindo desde o início de seu mandato para falar do tema. "Venho a Xangai para reiterar o apelo que fiz em outros encontros internacionais: Porto Alegre, Davos, Evian, Londres, Nova York e Genebra."
O segundo aplauso veio quando Lula criticou a concentração da agenda internacional na preocupação com a segurança e lançou mão de um de seus slogans: "A fome é, na verdade, a pior arma de destruição em massa".
O discurso abordou ainda os programas sociais do governo. Lula disse que o número de famílias beneficiadas pelo Bolsa-Família subirá dos atuais 4 milhões para 6,5 milhões até o fim de 2004. (CLÁUDIA TREVISAN)


Texto Anterior: Viagem ao Oriente: Direitos humanos é tema superado, diz Lula
Próximo Texto: Lula afirma que viagem define "nova geografia"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.