São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Presidente fala com assessores do Japão e critica a base aliada por manter assinaturas

Lula faz mea-culpa e atribui derrota na CPI a PT e PC do B

KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em telefonema a auxiliares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu sua parcela de culpa no fracasso da operação para abafar a CPI dos Correios, mas responsabilizou principalmente os 14 deputados federais do PT e os seis do PC do B que mantiveram as adesões ao requerimento de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito.
Do Japão, Lula conversou por telefone com os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) antes e depois da meia-noite de anteontem, prazo limite para a retirada de assinaturas do pedido de criação da CPI. Falou duas vezes com Dirceu, que foi quem lhe contou, por exemplo, que o senador Eduardo Suplicy (SP) descumprira decisão da bancada e assinara chorando o requerimento da CPI. "É um ator", falaram ambos.
Na primeira conversa com Lula, Dirceu disse que "estava difícil" barrar a CPI. Afirmou que no PT e no PC do B, que apóiam Lula desde a eleição presidencial de 1989, havia um número alto de adesões que poderia minar o recuo considerável no PMDB, PTB, PL, PP e PSB -os demais partidos que apóiam a gestão Lula.
Na contabilidade final do governo, faltou a retirada de nove assinaturas para que a CPI não alcançasse o mínimo exigido na Câmara (171). Dirceu disse a Lula que haviam reduzido essas adesões a 180. A oposição ainda tinha pelo menos três para incluir de última hora. Se os 20 petistas e comunistas tivessem recuado, o governo teria saído vencedor.
Dirceu ficou contrariado com o acordo dos líderes para apresentar a retirada de assinaturas apenas se houvesse garantia contra a CPI. Acha que possibilitou guerra psicológica favorável à oposição. Para ele, CPI com 180 assinaturas mostraria mais força do governo do que com 236 -resultado final na Câmara. No Senado, 52 dos 81 senadores aderiram.
Apesar da derrota, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) disse que ela teve um "lado positivo": "O governo agora sabe com quem pode contar. E a operação permitiu uma ação organizada do governo no Congresso em semanas".

Operação geladeira
Em relação a rebeldes do PT, as cúpulas do governo e do partido pretendem colocá-los na "geladeira". Serão tratados como "bancada paralela", excluídos de postos importantes no Congresso.
No processo eleitoral petista para a escolha do novo comando partidário, já em curso, moderados e setores da esquerda que deram suporte à operação abafa deverão iniciar um debate a fim de "convidá-los" a sair do partido. Um ministro importante com gabinete no Planalto pensa assim.
O presidente do PT, José Genoino, falou em "quebra de confiança", apesar de os rebeldes não poderem ser punidos oficialmente. O Diretório Nacional, com o aval dos moderados e de alas radicais, apenas recomendou que não apoiassem a CPI. Segundo Genoino, serão sanções de caráter "político". "Os deputados que assinaram [o documento de apoio] a comissão fizeram opção política unilateral. Foi um divisor de águas. Não respeitaram o partido, inclusive a opinião de suas tendências", disse, em referência aos deputados de alas radicais, exceto Virgílio Guimarães (MG). "São deputados que não percebem que a CPI é cabeça de ponte política do PSDB. Mas não vou transformá-los em vítimas."
Já as adesões de 6 de 9 deputados do PC do B deixaram ainda mais fragilizado Aldo, que, na prática, perdeu o comando da articulação política para Dirceu. O PC do B tem dois ministros.

Tranqüilidade e mudanças
Nas conversas por telefone, Lula pediu a Aldo "tranqüilidade". A Dirceu, admitiu que ele próprio demorara a tomar medidas para reorganizar politicamente o governo, que enfrenta tropeços políticos graves no Congresso desde a eleição de Severino Cavalcanti para presidente da Câmara (PP-PE) em fevereiro. Foi quando disse: "A ficha demorou a cair".
Outros auxiliares que conversaram por telefone com Lula dizem que ele voltará de viagem disposto a fazer ampla reforma ministerial a fim de reorganizar politicamente o governo e adotará medidas de combate à corrupção (endurecendo regras de compras governamentais, por exemplo).
Há caciques petistas defendendo que todos os ministros, presidentes de estatais e de bancos oficiais, inclusive do Banco Central, coloquem seus cargos à disposição para que Lula faça mudanças.
Alguns defendem as saídas de Romero Jucá da Previdência e de Henrique Meirelles do Banco Central. São demissões complicadas. Lula já disse publicamente que não os tiraria mesmo com as investigações autorizadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito deles. Mais: Jucá é peemedebista, e o governo dependerá do PMDB nas próximas batalhas políticas. Meirelles conduz a política monetária, e o governo quer evitar que a crise política contamine a economia.


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