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GOVERNO SOB PRESSÃO
Presidente fala com assessores do Japão e critica a base aliada por manter assinaturas
Lula faz mea-culpa e atribui derrota na CPI a PT e PC do B
KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em telefonema a auxiliares, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu sua parcela de culpa no fracasso da operação para
abafar a CPI dos Correios, mas
responsabilizou principalmente
os 14 deputados federais do PT e
os seis do PC do B que mantiveram as adesões ao requerimento
de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito.
Do Japão, Lula conversou por
telefone com os ministros José
Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo
(Coordenação Política) antes e
depois da meia-noite de anteontem, prazo limite para a retirada
de assinaturas do pedido de criação da CPI. Falou duas vezes com
Dirceu, que foi quem lhe contou,
por exemplo, que o senador
Eduardo Suplicy (SP) descumprira decisão da bancada e assinara
chorando o requerimento da CPI.
"É um ator", falaram ambos.
Na primeira conversa com Lula,
Dirceu disse que "estava difícil"
barrar a CPI. Afirmou que no PT e
no PC do B, que apóiam Lula desde a eleição presidencial de 1989,
havia um número alto de adesões
que poderia minar o recuo considerável no PMDB, PTB, PL, PP e
PSB -os demais partidos que
apóiam a gestão Lula.
Na contabilidade final do governo, faltou a retirada de nove assinaturas para que a CPI não alcançasse o mínimo exigido na Câmara (171). Dirceu disse a Lula que
haviam reduzido essas adesões a
180. A oposição ainda tinha pelo
menos três para incluir de última
hora. Se os 20 petistas e comunistas tivessem recuado, o governo
teria saído vencedor.
Dirceu ficou contrariado com o
acordo dos líderes para apresentar a retirada de assinaturas apenas se houvesse garantia contra a
CPI. Acha que possibilitou guerra
psicológica favorável à oposição.
Para ele, CPI com 180 assinaturas
mostraria mais força do governo
do que com 236 -resultado final
na Câmara. No Senado, 52 dos 81
senadores aderiram.
Apesar da derrota, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) disse que ela teve um
"lado positivo": "O governo agora
sabe com quem pode contar. E a
operação permitiu uma ação organizada do governo no Congresso em semanas".
Operação geladeira
Em relação a rebeldes do PT, as
cúpulas do governo e do partido
pretendem colocá-los na "geladeira". Serão tratados como "bancada paralela", excluídos de postos importantes no Congresso.
No processo eleitoral petista para a escolha do novo comando
partidário, já em curso, moderados e setores da esquerda que deram suporte à operação abafa deverão iniciar um debate a fim de
"convidá-los" a sair do partido.
Um ministro importante com gabinete no Planalto pensa assim.
O presidente do PT, José Genoino, falou em "quebra de confiança", apesar de os rebeldes não poderem ser punidos oficialmente.
O Diretório Nacional, com o aval
dos moderados e de alas radicais,
apenas recomendou que não
apoiassem a CPI. Segundo Genoino, serão sanções de caráter "político". "Os deputados que assinaram [o documento de apoio] a comissão fizeram opção política
unilateral. Foi um divisor de
águas. Não respeitaram o partido,
inclusive a opinião de suas tendências", disse, em referência aos
deputados de alas radicais, exceto
Virgílio Guimarães (MG). "São
deputados que não percebem que
a CPI é cabeça de ponte política
do PSDB. Mas não vou transformá-los em vítimas."
Já as adesões de 6 de 9 deputados do PC do B deixaram ainda
mais fragilizado Aldo, que, na
prática, perdeu o comando da articulação política para Dirceu. O
PC do B tem dois ministros.
Tranqüilidade e mudanças
Nas conversas por telefone, Lula
pediu a Aldo "tranqüilidade". A
Dirceu, admitiu que ele próprio
demorara a tomar medidas para
reorganizar politicamente o governo, que enfrenta tropeços políticos graves no Congresso desde a
eleição de Severino Cavalcanti para presidente da Câmara (PP-PE)
em fevereiro. Foi quando disse:
"A ficha demorou a cair".
Outros auxiliares que conversaram por telefone com Lula dizem
que ele voltará de viagem disposto
a fazer ampla reforma ministerial
a fim de reorganizar politicamente o governo e adotará medidas de
combate à corrupção (endurecendo regras de compras governamentais, por exemplo).
Há caciques petistas defendendo que todos os ministros, presidentes de estatais e de bancos oficiais, inclusive do Banco Central,
coloquem seus cargos à disposição para que Lula faça mudanças.
Alguns defendem as saídas de
Romero Jucá da Previdência e de
Henrique Meirelles do Banco
Central. São demissões complicadas. Lula já disse publicamente
que não os tiraria mesmo com as
investigações autorizadas pelo
STF (Supremo Tribunal Federal)
a respeito deles. Mais: Jucá é peemedebista, e o governo dependerá do PMDB nas próximas batalhas políticas. Meirelles conduz a
política monetária, e o governo
quer evitar que a crise política
contamine a economia.
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