São Paulo, segunda, 27 de julho de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Telesp Celular compra, por R$ 45 milhões, equipamentos com tecnologia que havia sido criticada por ministro
Telesp fecha contrato a 2 dias do leilão

da Sucursal do Rio


A Telesp Celular assina hoje, antevéspera de ser privatizada, dois contratos para a instalação de telefones celulares digitais em 30 municípios do interior de São Paulo.
Os contratos, para 160 mil telefones, somam R$ 45 milhões e serão assinados com as empresas norte-americanas Lucent Tecnologies e Motorola, na presença do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros.
A última compra da estatal está sendo feita sem concorrência pública. A empresa afirma que os equipamentos são apenas "up grade" (atualização tecnológica) da planta já existente e que contratos similares foram assinados na maioria dos Estados para que as estatais pudessem competir com o serviço digital privado da banda B.
O maior contrato é o da Motorola: 120 mil telefones nas regiões de Campinas, São José do Rio Preto, Araçatuba e Araraquara, no valor aproximado de R$ 34 milhões.
A Lucent fornecerá equipamentos para 40 mil celulares digitais na região de Bauru, Presidente Prudente e Marília. Seu contrato é de cerca de R$ 11 milhões.
A tecnologia dos equipamentos, chamada CDMA (Code Division Multiple Acess), foi criticada por Mendonça de Barros no mês passado, quando esteve na Europa para divulgar o leilão da Telebrás.
Na ocasião, disse que o CDMA não era a melhor alternativa para São Paulo e chegou a sugerir que a população aguardasse a venda da Telesp para comprar celular. "Se eu fosse comprar um celular, eu esperaria", disse em Paris.
A afirmação foi uma bomba no mercado. A Telesp havia acabado de comprar da NEC, por concorrência pública, um sistema para 1 milhão de linhas celulares digitais para a Grande São Paulo com a mesma tecnologia CDMA.
A NEC do Brasil é uma empresa das Organizações Globo, em sociedade com a NEC Corporation, do Japão. A presença do ministro na assinatura do contrato é um desagravo à Globo e aos demais fornecedores da tecnologia CDMA, como Motorola e Lucent, que já instalaram fábricas para produzir os equipamentos no Brasil.
O edital de concorrência para a Grande São Paulo previa que a tecnologia vencedora seria adotada no interior do Estado, mas, segundo o ministro, o governo estava "cozinhando" para não assinar o contrato, deixando a decisão para quem comprasse a Telesp.
A Globo respondeu às declarações do ministro afirmando que ele estava "mal informado".
A Motorola produz centrais telefônicas em CDMA em Jaguariúna (SP), e a Lucent, em Campinas.
O CDMA foi desenvolvido nos EUA e difere do padrão digital europeu, GSM. As grandes indústrias européias de telecomunicações -Ericsson (Suécia) e Alcatel (França)- não dominam o CDMA e, segundo circulou no mercado, influenciaram o ministro. (ELVIRA LOBATO)



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