São Paulo, segunda, 27 de julho de 1998

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JORNALISTAS
Ex-funcionário admite ter desviado 29 cheques, no total de R$ 285 mil; crime ficou em sigilo por dez meses
Polícia investiga furto em sindicato de SP

LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local

A polícia está investigando um furto de R$ 285.980,09 no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. A quantia é equivalente a 17,9% do orçamento da entidade para este ano (R$ 1,6 milhão). O inquérito 494/98 está tramitando no 4º Distrito Policial.
O acusado é o ex-funcionário Edson Araújo, 24, já indiciado. Ele admitiu o furto, mas disse à polícia que o praticou "a mando do próprio gerente administrativo Oswaldo Braglia Júnior". Braglia Júnior, há sete anos no cargo, afirmou à polícia que é inocente.
A Folha quis entrevistá-lo, mas ele afirmou que acatou a orientação do sindicato de não falar a respeito. O presidente do sindicato, Everaldo Gouveia, confirmou que restringiu as declarações a ele próprio e ao secretário de Finanças, José Roberto Mello.
A Folha tentou entrevistar Gouveia, mas ele também não quis falar. "O que eu tinha a dizer está publicado no Mural (boletim semanal da entidade)", disse. Mello manteve a mesma posição.
O furto ocorreu entre junho e julho do ano passado, quando Araújo, funcionário há oito anos do sindicato, era o encarregado da tesouraria.
Ele desviou 29 cheques da entidade para três contas bancárias suas - ora preenchendo a seu crédito os cheques assinados em branco que recebia para fazer pagamentos, ora falsificando a nominalidade. Foi demitido com todos os direitos trabalhistas em 1º de agosto de 97.
O caso ficou em sigilo por dez meses - restrito ao conhecimento de Gouveia, de Mello e de Braglia Júnior. Só veio a público no último dia 2 de junho, em nota oficial publicada no "Mural".
"Estamos concluindo nesse momento a apuração das irregularidades, razão pela qual o assunto não foi divulgado antes, a fim de não prejudicar o andamento das investigações", afirma a nota. Informa, também, que o inquérito foi aberto em 5 de maio passado, a pedido de Braglia Júnior.
No último dia 30 de junho, houve assembléia geral para a aprovação ou não do balanço financeiro e patrimonial referente a 1997. Os R$ 285.980,09 entraram na rubrica "realização a longo prazo (responsabilidades a apurar)". Participaram da votação 163 jornalistas -104 aprovaram as contas. A categoria tem cerca de 5.000 jornalistas sindicalizados.
"É lícito supor que o furto só foi revelado diante da iminência da assembléia em que as contas seriam apresentadas", diz o secretário-geral Igor Fuser, coordenador de grupo de oposição a Gouveia.
A direção executiva da entidade, que é composta por nove jornalistas, está "rachada": seis compõem o grupo de Gouveia e três o grupo de Fuser.
No "Mural" e na última edição do jornal "Unidade", publicação mensal da entidade, Gouveia escreveu que está havendo "uma tentativa de exploração política de um caso de polícia".
A polícia não sabe onde está o dinheiro furtado. Ela pediu à Justiça a quebra do sigilo bancário de Araújo - o que ainda não ocorreu. Em rastreamento feito nos cartórios de imóveis da capital, nenhuma propriedade foi encontrada em nome de Araújo. Veículos também não.
Gouveia disse à polícia que Araújo se apresentava para trabalhar "com carro zero quilômetro, celular e outros apetrechos de ostentação de riqueza".



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