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JORNALISTAS
Ex-funcionário admite ter desviado 29 cheques, no total de R$ 285 mil; crime ficou em sigilo por dez meses
Polícia investiga furto em sindicato de SP
LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local
A polícia está investigando um
furto de R$ 285.980,09 no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
Estado de São Paulo. A quantia é
equivalente a 17,9% do orçamento
da entidade para este ano (R$ 1,6
milhão). O inquérito 494/98 está
tramitando no 4º Distrito Policial.
O acusado é o ex-funcionário
Edson Araújo, 24, já indiciado. Ele
admitiu o furto, mas disse à polícia que o praticou "a mando do
próprio gerente administrativo
Oswaldo Braglia Júnior". Braglia
Júnior, há sete anos no cargo, afirmou à polícia que é inocente.
A Folha quis entrevistá-lo, mas
ele afirmou que acatou a orientação do sindicato de não falar a respeito. O presidente do sindicato,
Everaldo Gouveia, confirmou que
restringiu as declarações a ele próprio e ao secretário de Finanças,
José Roberto Mello.
A Folha tentou entrevistar Gouveia, mas ele também não quis falar. "O que eu tinha a dizer está
publicado no Mural (boletim semanal da entidade)", disse. Mello
manteve a mesma posição.
O furto ocorreu entre junho e julho do ano passado, quando Araújo, funcionário há oito anos do
sindicato, era o encarregado da tesouraria.
Ele desviou 29 cheques da entidade para três contas bancárias
suas - ora preenchendo a seu
crédito os cheques assinados em
branco que recebia para fazer pagamentos, ora falsificando a nominalidade. Foi demitido com todos os direitos trabalhistas em 1º
de agosto de 97.
O caso ficou em sigilo por dez
meses - restrito ao conhecimento de Gouveia, de Mello e de Braglia Júnior. Só veio a público no
último dia 2 de junho, em nota oficial publicada no "Mural".
"Estamos concluindo nesse
momento a apuração das irregularidades, razão pela qual o assunto
não foi divulgado antes, a fim de
não prejudicar o andamento das
investigações", afirma a nota. Informa, também, que o inquérito
foi aberto em 5 de maio passado, a
pedido de Braglia Júnior.
No último dia 30 de junho, houve assembléia geral para a aprovação ou não do balanço financeiro
e patrimonial referente a 1997. Os
R$ 285.980,09 entraram na rubrica "realização a longo prazo (responsabilidades a apurar)". Participaram da votação 163 jornalistas
-104 aprovaram as contas. A categoria tem cerca de 5.000 jornalistas sindicalizados.
"É lícito supor que o furto só foi
revelado diante da iminência da
assembléia em que as contas seriam apresentadas", diz o secretário-geral Igor Fuser, coordenador
de grupo de oposição a Gouveia.
A direção executiva da entidade,
que é composta por nove jornalistas, está "rachada": seis compõem o grupo de Gouveia e três o
grupo de Fuser.
No "Mural" e na última edição
do jornal "Unidade", publicação
mensal da entidade, Gouveia escreveu que está havendo "uma
tentativa de exploração política de
um caso de polícia".
A polícia não sabe onde está o
dinheiro furtado. Ela pediu à Justiça a quebra do sigilo bancário de
Araújo - o que ainda não ocorreu. Em rastreamento feito nos
cartórios de imóveis da capital,
nenhuma propriedade foi encontrada em nome de Araújo. Veículos também não.
Gouveia disse à polícia que
Araújo se apresentava para trabalhar "com carro zero quilômetro,
celular e outros apetrechos de ostentação de riqueza".
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