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DINHEIRO PÚBLICO
Ministério Público vê atuação de ex-assessor no negócio
Socorro a frigorífico pelo
BNDES chega a US$ 137 mi
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CHAPECÓ
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) desembolsou US$ 137 milhões, entre abril de 97 e dezembro de 99, na operação que cedeu
o controle do frigorífico Chapecó
para o grupo argentino Macri.
Na operação de socorro ao Chapecó, o BNDES usou recursos na
forma de empréstimos à empresa,
financiamento para sua compra
pela Alimbras S/A, subsidiária
brasileira do grupo do empresário Francisco Macri, e na aquisição de 36,18% do capital do Chapecó -após a compra do controle deste pela Alimbras.
O negócio é apontado pelo Ministério Público Federal como
exemplo da atuação do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira, em ação
que move contra ele em Brasília.
Em 24 de julho de 1998, quando
havia deixado o governo para
coordenar a campanha do presidente FHC à reeleição, EJ cobrou,
em conversa telefônica com o então presidente do BNDES, André
Lara Resende, o andamento da
operação com o Chapecó.
Em conversa captada no grampo ilegal no telefone do BNDES,
EJ pergunta como está ""aquele
negócio da Chapecó". Resende
responde que ""está praticamente
equacionado (...). Está nos finalmentes mesmo".
Em depoimento no Senado, EJ
afirmou que apenas estava querendo saber sobre a situação dos
trabalhadores da empresa, que na
época haviam feito uma greve
-e, com isso, programar eventuais viagens de FHC à região.
Antes do telefonema de EJ, o
BNDES já havia feito quatro empréstimos entre abril de 97 e janeiro de 98, totalizando US$ 51 milhões (R$ 54 milhões na época)
para o Chapecó, então controlado
por Plínio David de Nes Filho.
Esses empréstimos ocorreram
depois que os principais credores
da empresa contrataram em 24 de
março de 97 a firma paulista Option Serviços Financeiros, sob o
comando de Luiz José Fabiani,
para controlar a empresa.
Os maiores credores são o
BNDES, o BNDESPar (BNDES
Participações), Banco do Brasil e
o banco Bozano, Simonsen.
Além de um empréstimo de
US$ 40 milhões, de 16 de abril de
97, para socorro imediato à empresa, em outubro e dezembro de
1997 e em janeiro de 1998 novos
empréstimos, totalizando US$ 11
milhões, foram feitos a título de financiamento para exportação.
Mas o Ministério Público Federal já comprovou que nesse período o frigorífico não exportou.
Praticamente um ano depois do
telefonema de EJ, o grupo Macri
acertou com o BNDES um acordo
para a compra da empresa.
No acerto, o BNDES fez um empréstimo, em 20 de outubro de 99,
de US$ 58 milhões para a Alimbras S/A, empresa subsidiária do
grupo Macri no Brasil e que virou
a principal controladora do Chapecó. Pela cotação do dólar no dia
da reunião do BNDES que decidiu
pelo empréstimo, o valor era
equivalente a R$ 114 milhões.
Conforme ata da reunião do
BNDES, o empréstimo com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) visava ""financiar a aquisição de 97% do capital
da Chapecó, bem como os custos
pertinentes à referida aquisição".
Com o dinheiro recebido, o grupo
argentino comprou o controle
acionário da família Nes e ainda
integralizou o aumento de capital
em R$ 85,5 milhões.
O empresário Dácio Gonçalves
Pozzi, que era o presidente da
Alimbras quando ocorreu o empréstimo, não quis comentar o assunto. Segundo ele, na época apenas ""assinou em cruz" o contrato
com o BNDES. ""Eu era o presidente, mas cuidava apenas do setor de farináceos da empresa, carne era com o Fontana (Alex Fontana, atual presidente da Alimbras e do Chapecó)."
Fontana estava viajando na semana passada. Em seu lugar, respondeu o diretor Celso Mário
Schmitz. Ele defende a operação.
Pozzi deixou a Alimbras em fevereiro deste ano. Ele não quis comentar sobre quanto foi pago à
família Nes pelo controle acionário do Chapecó. Além de emprestar US$ 58 milhões para a Alimbras comprar a empresa, o
BNDES desembolsou mais US$
28 milhões (R$ 54 milhões) para
adquirir 36,18% do capital total
do Chapecó, em dezembro de 99.
Os US$ 51 milhões emprestados
entre abril de 1997 e janeiro de
1998, com vencimento em junho
de 1999, não foram pagos ao
BNDES. Na compra do Chapecó,
a Alimbras assumiu o débito referente a esses empréstimos e outros US$ 86,9 milhões da dívida financeira da empresa.
No total, a Alimbras assumiu
US$ 137,9 milhões das dívidas do
Chapecó -pouco mais do que o
BNDES aplicou na operação. Em
novembro de 99, a dívida total da
empresa era de US$ 285,4 milhões. Para pagar esses US$ 137,9
milhões, foram negociados prazos entre 8 e 25 anos.
A Agência Folha apurou que o
restante da dívida, US$ 147,5 milhões, deverá ser assimilada pelos
antigos credores -apesar de
constar, no anúncio de compra
do Chapecó, que a diferença remanescente seria objeto de emissão de um ""reduzido números de
ações preferenciais de classe distinta daquelas ora existentes".
Colaboraram Fernanda Krakovics
e Andréa de Lima, da Agência Folha
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