São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Ministro diz que "gente que tinha a confiança do presidente" o traiu e tem de pagar

Para Ciro, pessoas próximas a Lula fizeram "coisa muito suja"

Tuca Vieira/Folha Imagem
Lula, Ciro Gomes e o governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), no centro, se cumprimentam em evento de apoio ao presidente


KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM QUIXADÁ (CE)

Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma solenidade em Quixadá (CE), o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) disse que "gente que tinha a confiança do presidente" fez "coisa muito feia, muito suja".
"Gente que tinha a confiança do presidente da República trocou as mãos pelos pés e fez uma coisa muito feia, muito suja, que só tem uma solução: temos de punir quem quer que tenha feito, por mais amigo, por mais parceiro, por mais que tenha até serviços prestados ao Brasil", disse.
Ciro se manifestou poucas vezes sobre a crise, mas já havia falado em favor de Lula. No último dia 8, disse que o presidente seria "imbatível" caso decidisse disputar a reeleição. "Se ele decidir ser candidato, terá o meu apoio." Sobre a crise, afirmou estar "chocado" e achar que Lula "está limpo".
Ontem, o lançamento de programa de crédito do Banco do Brasil e a inauguração de um galpão de venda de produtos agrícolas se transformaram em atos de apoio ao governo, com falas de três ministros -Ciro, Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário)- e de outros políticos, entre eles o governador do Ceará, Lúcio Alcântara, do PSDB. Os eventos foram acompanhados por cerca de 5.000 pessoas, segundo os organizadores.
Ciro disse que Lula é uma "vítima" dos que traíram sua confiança, mas não citou nomes. "O presidente, mais do que ninguém, é vítima disso. [Para essa] gente que se esbaldou nos malfeitos -que não são pequenos nem pouco graves- a mentira tem sido a resposta. Fizeram a besteira e depois pioraram tudo mentindo, mentindo para o presidente, mentindo para o povo brasileiro, e por isso merecem pagar dobrado."
Sobre as denúncias de corrupção, o ministro da Integração Nacional disse que "tem de investigar, tem de achar as provas, tem de separar os culpados dos inocentes, e isso infelizmente está demorando demais".
Ciro disse ainda: "Coisas muito graves estão acontecendo e, na minha opinião -não é a do presidente, não precisa ser a dele-, ameaçando a democracia brasileira, ameaçando dividir o nosso povo e a nossa nação pelo signo do ódio, do radicalismo".
Ele fez ressalvas, também sem citar nomes: "Há muita gente honesta, muita gente boa na imprensa e na política, inclusive na oposição, que quer apuração, que quer investigação".

"Quem errou, paga"
Em seu discurso, Lula fez referência às declarações do ministro. "Como disse o Ciro, "quem errou paga"." "Quem faz coisa ruim paga, será julgado. Mas ninguém pode esperar que seja o presidente da República [a julgar], porque não estamos no tempo do Império, não somos imperadores nem somos uma monarquia, somos uma democracia, somos uma República, ou seja, o presidente da República apenas faz a parte que lhe cabe", disse Lula.
Ciro pediu que "ajudem o presidente Lula, acompanhem tudo com cuidado e atenção". O ministro Miguel Rossetto, por sua vez, entoou o coro "Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", estampado em faixas.
Ciro viu seu nome envolvido na crise quando seu então secretário-executivo, Márcio Lacerda, apareceu na lista de beneficiários das contas do publicitário Marcos Valério. Segundo Lacerda, o valor (R$ 457 mil) foi usado para pagar despesas do segundo turno da campanha de Lula de 2002. Ele foi exonerado do cargo.
Ciro Gomes foi candidato pelo PPS à Presidência em 2002, mas não chegou ao segundo turno. Apoiou, então, a candidatura de Lula. Trocou de partido em junho, quando se filiou ao PSB.


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