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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DEPÓSITOS SUSPEITOS
Saques coincidentes indicam que partido pode ter usado recursos próprios para saldar dívida de R$ 29 mil atribuída ao presidente Lula
PT recebeu R$ 3 milhões em espécie em 2004
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O extrato bancário da principal
conta do PT nacional tem registros de depósitos em dinheiro que
totalizam R$ 3,28 milhões em
apenas cinco meses e meio. São,
ao todo, 23 depósitos, todos em
valores redondos, variando de R$
20 mil a R$ 300 mil.
O período abrangido pelo extrato bancário vai de 15 de dezembro
de 2003 a 31 de maio de 2004. Nessa época, estava em pleno vigor a
relação entre o PT e o empresário
Marcos Valério de Souza, apontado como um dos provedores de
dinheiro de caixa dois para a sigla.
Nesses extratos em poder da
CPI dos Correios, em apenas dois
casos há a identificação de quem
teria realizado a operação de depósito em dinheiro. Em 29 de dezembro de 2003, uma pessoa chamada Carlos Alberto Timóteo
aparece como "portador". Em 6
de janeiro de 2004 há outro depósito de R$ 300 mil, tendo como
portador Alex Vieira Costa.
A Folha localizou ontem Timóteo, que disse ser funcionário do
PT, mas não confirmou os depósitos. Costa não foi encontrado
pela reportagem.
A conta desses extratos é a de
número 13.000, no Banco do Brasil, agência 3.344. Trata-se da conta bancária onde o PT movimenta
o seu fundo partidário -os recursos oficiais a que todos os partidos têm direito, de acordo com
seu desempenho eleitoral.
A Folha apresentou ontem à
tarde os dados ao escritório nacional do PT. O partido alegou no
início da noite que não havia sido
possível checar com precisão a
que se referiam os depósitos em
dinheiro. A sigla também não
soube explicar quem seriam os
dois depositantes identificados.
Além das duas operações identificadas, há outras 21 para as
quais não há descrição no extrato
dos responsáveis pelos depósitos.
É possível que esse dinheiro seja
resultado de doações legais recebidas pelo partido. Ainda assim,
chama a atenção que sejam sempre números redondos.
Empréstimo de Lula
Esses extratos bancários estão
sendo analisados porque a CPI
dos Correios buscava uma explicação mais detalhada sobre a dívida de R$ 29.436,26 do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva com o
PT. Esse débito foi saldado de maneira parcelada, de dezembro de
2003 a março de 2004 -daí a razão de os documentos se referirem a esse período. A análise preliminar da CPI indica uma possível operação de reutilização de recursos do PT para saldar a dívida.
Nos dias anteriores aos pagamentos efetuados para quitar a
dívida de Lula há também saques
realizados em valores semelhantes. Por exemplo, nos dias 24 e 29
de dezembro de 2003, alguém cujo nome não aparece nos documentos sacou duas vezes o valor
de R$ 7.000. Total: R$ 14 mil.
No dia 30 de dezembro de 2003,
foram feitos dois depósitos on-line. O primeiro, no valor de R$ 12
mil para quitar dívida de Luiz Inácio Lula da Silva. O segundo, de
R$ 2.000 para pagar débito atribuído ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP). O valor total das
operações é de R$ 14 mil.
O senador petista já declarou ter
como comprovar o saque de sua
conta pessoal para entregar ao PT
e quitar a pendência financeira.
Em 28 de janeiro de 2004, aparece um saque no valor de R$ 7.000
da conta do PT -sem identificação. No dia seguinte alguém faz
um depósito on-line, também
sem identificação, no valor de R$
6.000 para quitar outra parcela da
dívida de Lula. O valor sacado ficou R$ 1.000 acima do depositado. Essa "sobra" pode estar explicada no pagamento seguinte. Em
26 de fevereiro de 2004 ocorre um
saque de R$ 5.000. No dia seguinte, alguém realiza um depósito
on-line de R$ 6.000 e salda a terceira parcela da dívida de Lula.
Só o pagamento da última parcela do débito presidencial, de R$
5.436,26, em 30 de março de 2004,
não foi precedido de saques em
dinheiro na conta do PT.
A Folha procurou o PT ontem,
mas o partido disse que não teria
como dar uma resposta até o fechamento desta edição. O Palácio
do Planalto alega que Lula recebeu, antes de assumir o governo,
adiantamento de verbas do PT
para uma viagem ao exterior. Por
problemas não conhecidos, o valor acabou sendo lançado como
débito na contabilidade da sigla.
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