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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTAS DO PLANALTO
Casa Civil instaurou sindicância interna para investigar denúncia sobre utilização irregular de cartões de crédito corporativos
Notas de gastos da Presidência podem ser frias
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Presidência da República determinou ontem à noite a instauração de sindicância interna para
apurar a existência de notas frias
na prestação de contas de saques
em dinheiro por meio de cartões
corporativos do Planalto. Os cartões são objeto de uma auditoria
no Tribunal de Contas da União.
Pelo menos quatro vezes no período entre fevereiro e agosto do
ano passado, a Presidência da República recorreu a uma pequena
empresa instalada a cerca de 45
quilômetros do Palácio do Planalto - e cuja nota fiscal registra
apenas o endereço de um apartamento, além de um número de telefone celular-, para suprir uma
falta imprevista de cartuchos para
impressoras do Planalto.
Quatro notas fiscais da empresa
FR Comércio Serviço e Representação Ltda. em poder do TCU
(Tribunal de Contas da União) foram reunidas nas prestações de
contas da Presidência da República e justificam parte dos saques
em dinheiro com cartões corporativos do Planalto. As quatro notas somam cerca de R$ 3 mil.
O perfil da empresa chamou a
atenção da equipe de técnicos do
gabinete do senador Álvaro Dias
(PSDB-PR), que suspeita que as
notas sejam frias.
O registro da empresa na Receita Federal informa que ela comercializa alimentos. Francisco Pereira Ramalho, dono da FR, no entanto, diz que vende de tudo:
"roupa, móveis para escritório,
material de limpeza, material de
informática", além de alimentos.
Ramalho não se lembra do negócio com o Planalto: "Foi um
vendedor meu que vendeu, e ele
nem trabalha mais na empresa",
disse à Folha, sobre a venda de
cartuchos à Presidência. "A senhora está fazendo muitas perguntas", disse o empresário.
Em outro telefonema, duas horas mais tarde, Francisco Ramalho reiterou que não se lembrava
da venda. "É possível que tenha
vendido, isso não tem problema
nenhum; se a nota está aí, com
certeza foram vendidos [os cartuchos]", disse. "Minha empresa
não tem prática de emitir nota e
não fornecer", insistiu.
Em contato com assessores do
gabinete do senador Álvaro Dias,
Ramalho teria dito que não vendeu os cartuchos, apenas forneceu a nota fiscal a uma pessoa
chamada Edilson.
Questionada, a Casa Civil reagiu
no início da noite com uma nota,
em que anuncia a abertura de sindicância interna para apurar a
possibilidade de que notas fiscais
frias tenham comprovado despesas com cartões.
"A Casa Civil da Presidência
reafirma sua convicção de que os
pagamentos por meio dos cartões
de pagamento do governo federal
possibilitam maior transparência
e controle do gasto dos recursos
públicos", afirma em nota.
As notas fiscais aparecem entre
as comprovações de gastos de
uma das portadoras de cartão
corporativo do Planalto, de nome
Maria da Penha Pires. Ela sacou
em dinheiro vivo, no ano passado, R$ 74 mil. Em março, mês do
pagamento dos cartuchos, sacou
R$ 10.650, segundo o Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais).
Responsáveis por mais de R$ 20
milhões em gastos desde a posse
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, os cartões corporativos são
objeto de auditoria do TCU, ainda
não iniciada.
Em auditoria anterior, o tribunal considerou o uso dos cartões
para saques em dinheiro um mecanismo pouco transparente de
gasto. Essa auditoria concluída no
final do ano passado não se deteve
nas notas fiscais, entre as quais
aparecem as supostas notas frias.
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