São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO MINEIRA

Cláudio Mourão, que cuidou das contas de campanha de Eduardo Azeredo, isenta senador de responsabilidade pelo esquema

Ex-tesoureiro admite caixa 2 tucano em 98

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Ex-tesoureiro da campanha do hoje presidente nacional do PSDB Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998, Cláudio Mourão assumiu a responsabilidade do caixa dois naquele pleito e isentou de envolvimento o senador Azeredo, que tentava se reeleger, e o candidato a vice, o empresário Clésio Andrade -na época filiado ao PFL e atual vice-governador de Minas pelo PL.
Mas a versão de Mourão, dada à revista "Veja", que divulgou trechos na internet, tem contradições, que poderão ser esclarecidas pela CPI dos Correios, que já o convocou. Mourão foi secretário de Administração e Recursos Humanos da gestão Azeredo (95-98).
"Azeredo e Clésio não tiveram nenhuma responsabilidade na operação do esquema de caixa dois da campanha de 1998. Eu tinha total autonomia e fiz tudo da minha cabeça. Logo depois da campanha, prestei contas de tudo ao Azeredo. Informei-lhe, inclusive, que a maior parte dos R$ 20 milhões gastos foram oriundos de caixa dois", disse Mourão.
O caixa dois tucano teve a participação do publicitário Marcos Valério, suposto operador do "mensalão" do PT. Segundo Mourão, Valério entrou no circuito porque o seu nome estava numa lista de Clésio com nomes de empresários que poderiam pôr dinheiro na campanha. Mourão disse que Valério emprestou R$ 2 milhões, pagos logo depois, e no turno seguinte "doou" R$ 9 milhões. "Depois que perdemos a eleição, ele passou a dizer que foi empréstimo, mas na verdade o combinado foi uma doação."
Ontem, Valério divulgou nota contestando a declaração. Ele disse, por exemplo, que foi Clésio quem apresentou Mourão a ele e que "o pedido de empréstimo", no valor de R$ 9 milhões, "foi idéia do sr. Clésio Andrade" -o valor original do empréstimo, no contrato, é de R$ 8,35 milhões.
Valério disse que "nunca fez doação" àquela campanha e que o pagamento ao publicitário Duda Mendonça, marqueteiro da campanha de Azeredo, foi feito por meio da conta bancária da SMPB -Mourão disse que foi ele quem pagou os R$ 4,5 milhões à sócia de Duda, Zilmar Fernandes.
As outras contradições são de atitudes do próprio Mourão. Em novembro de 2004, ele moveu ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra Azeredo e Clésio para pedir indenização de R$ 3,5 milhões, sob a justificativa de que contraíra dívidas para cobrir gastos da campanha de 98. Mas, neste mês, ele desistiu da ação por danos morais e materiais.
A desistência ocorreu um dia após Azeredo ter ido espontaneamente à CPI dos Correios para admitir que houve caixa dois na sua campanha, que Mourão foi o único responsável e que ele não sabia do empréstimo que foi feito.
Mourão disse ainda que depois de 1998 não teve mais relação comercial com Valério. Mas em 2001 Valério fez empréstimo de R$ 250 mil para o ex-tesoureiro. Quem pagou o débito (R$ 270 mil) foi o empreiteiro Bruno Bedinelli Filho, da Diedro Construções e Serviços, conforme o histórico da ação de execução movida pelo Banco Rural na Justiça.
Mourão não foi localizado ontem para explicar as contradições. (PAULO PEIXOTO E THIAGO GUIMARÃES)


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