São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HOLOFOTES

Presidente do Congresso alerta que disputa pode levar à impunidade e marca reunião com representantes das comissões para definir ações

Renan critica "guerra de vaidades" de CPIs

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou ontem que há uma "guerra de vaidades" entre as três CPIs em funcionamento, o que poderia resultar, segundo ele, em impunidade devido à desordem nos trabalhos. A oposição também está preocupada com a perda de foco das comissões parlamentares de inquérito.
As CPIs dos Correios, dos Bingos e do Mensalão aprovaram anteontem a convocação do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona. A disputa maior é entre a dos Correios e a do Mensalão, que vão ouvir, por exemplo, o ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), o banqueiro Daniel Dantas e quebraram o sigilo das aplicações financeiras de dez fundos de pensão no Banco Rural e no BMG.
Para tentar disciplinar as investigações, Renan marcou uma reunião para a próxima terça com os presidentes e relatores das comissões. Preocupado com a imagem do Congresso, ele vai pedir aos parlamentares que se fixem nos limites de cada CPI, evitem a superposição de requerimentos, troquem informações resultantes de quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico e, quando inevitável, façam reuniões conjuntas para tomar depoimentos.
"Não dá para ficar nessa guerra de vaidades. As pessoas já estão cobrando resultados, e com razão. A repetição [de depoimentos e quebras de sigilo] acontece geralmente para causar impunidade. Ninguém vai perdoar quem quer desviar o foco para não haver punição", afirmou Renan.
Em seus discursos, os parlamentares da oposição têm deixado clara a preocupação com a falta de visibilidade de alguns depoimentos marcados e, na CPI dos Correios, pressionam a Mesa Diretora afirmando que a CPI do Mensalão "passou na frente", aprovando primeiro requerimentos comuns às duas comissões. As sessões têm sido transmitidas pelas TVs e têm registrado altos índices de audiência, tornando-se um palco para os parlamentares.

Foco
As lideranças do PFL e do PSDB convocaram senadores e deputados para uma conversa na segunda. "Estamos vivendo um festival de denúncias e uma superprodução de escândalos. Isso leva à perda de foco", disse o líder do PFL, senador José Agripino (RN).
O objetivo da oposição é acertar os procedimentos a serem adotados nas CPIs, definir um cronograma de depoimentos a ser defendido e estabelecer prioridades.
O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), também afirmou, anteontem, que está sendo criado "um clima de desordem" no Congresso para que as investigações sobre o suposto esquema de corrupção não tenham resultado. Para ele, há "uma disputa de holofote" entre as CPIs.
Já o presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), insiste na investigação de fatos que, segundo a CPI dos Correios, não seriam competência sua. "Se houve alguém que recebeu, houve alguém que colocou. Antes de ouvir parlamentares, tem de se saber o que de fato aconteceu", disse o senador.
Na semana passada, Delcídio e o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), foram ao gabinete de Lando para tentar definir os assuntos de cada comissão. A dos Correios investigaria supostas irregularidades nos contratos da estatal e a origem do dinheiro que abasteceu o caixa dois do PT. Já a CPI do Mensalão se dedicaria à identificação dos parlamentares que teriam recebido dinheiro para apoiar o governo.


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