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BRASIL PROFUNDO
Mantidos em condições consideradas subumanas, empregados ficaram dois meses sem receber remuneração
Ministério liberta 38 trabalhadores no PA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Fiscais do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho libertaram
ontem 38 trabalhadores mantidos
em regime análogo à escravidão
em Itupiranga, no sudeste do Pará. O Estado é recordista em casos
deste gênero com pelo menos 700
registros neste ano.
O caso acontece dois dias depois
de o ministro da Justiça Paulo
Tarso Ribeiro anunciar que o Brasil tem 2.500 pessoas submetidas
ao trabalho escravo e cobrar o
aperfeiçoamento na legislação sobre o assunto. Apenas três fazendeiros foram condenados pela
Justiça até hoje por empregar trabalho escravo.
Das 44 áreas onde existe escravidão identificadas pelo Grupo
Móvel do Ministério do Trabalho
até o primeiro semestre deste ano,
24 estão no Pará, 12 no Maranhão,
3 em Mato Grosso, 2 em Tocantins e 1 em cada um dos Estados
de Espírito Santo, Mato Grosso do
Sul e Santa Catarina.
Segundo dados do Ministério
da Justiça, 3.400 trabalhadores
submetidos à condição de escravidão foram libertados entre 1995
e 2001 em todo o país. Só no primeiro semestre deste ano, foram
1.149 trabalhadores libertados no
Brasil pela equipe de fiscalização
móvel do Ministério do Trabalho.
Condições
Segundo o coordenador do
Grupo Móvel do Ministério do
Trabalho, que atua no Pará, Paulo
Mendes, os 38 trabalhadores libertados ontem estavam havia
dois meses sem receber salários e
eram mantidos em condições subumanas. "Os trabalhadores dormiam em barracos de lona. Encontramos até sapos na água que
eles usavam para beber", disse o
coordenador da fiscalização.
Todos eles trabalhavam no desmatamento de uma área na fazenda Santa Luzia. O proprietário,
que não teve o nome divulgado,
terá que pagar uma dívida de R$
58 mil em direitos trabalhistas.
Segundo Mendes, vários trabalhadores denunciaram ter presenciado o assassinato de um dos trabalhadores no dia 9 de setembro.
O caso foi encaminhado para a
Polícia Civil de Itupiranga, que
abriu inquérito ontem para apurar a denúncia.
Segundo depoimento dos trabalhadores, pelo menos cinco seguranças armados faziam a guarda da fazenda.
A Procuradoria Regional do
Trabalho do Pará entrará com
uma ação civil pública contra o
proprietário da fazenda.
CPT
Em 2000, foram encontrados
265 trabalhadores em condições
de trabalho escravo no Pará.
No ano passado, foram registrados 1.300 casos do gênero no Estado, segundo a CPT (Comissão
Pastoral da Terra).
De acordo com informações do
frei Henri des Roziers, da Comissão Pastoral da Terra no sul do
Pará, "somente nos oito primeiros meses deste ano foram denunciadas à CPT 35 fazendas, que
estariam escravizando 1.325 trabalhadores rurais no Pará".
(MAURÍCIO SIMIONATO)
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