São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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BRASIL PROFUNDO

Mantidos em condições consideradas subumanas, empregados ficaram dois meses sem receber remuneração

Ministério liberta 38 trabalhadores no PA

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Fiscais do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho libertaram ontem 38 trabalhadores mantidos em regime análogo à escravidão em Itupiranga, no sudeste do Pará. O Estado é recordista em casos deste gênero com pelo menos 700 registros neste ano.
O caso acontece dois dias depois de o ministro da Justiça Paulo Tarso Ribeiro anunciar que o Brasil tem 2.500 pessoas submetidas ao trabalho escravo e cobrar o aperfeiçoamento na legislação sobre o assunto. Apenas três fazendeiros foram condenados pela Justiça até hoje por empregar trabalho escravo.
Das 44 áreas onde existe escravidão identificadas pelo Grupo Móvel do Ministério do Trabalho até o primeiro semestre deste ano, 24 estão no Pará, 12 no Maranhão, 3 em Mato Grosso, 2 em Tocantins e 1 em cada um dos Estados de Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.
Segundo dados do Ministério da Justiça, 3.400 trabalhadores submetidos à condição de escravidão foram libertados entre 1995 e 2001 em todo o país. Só no primeiro semestre deste ano, foram 1.149 trabalhadores libertados no Brasil pela equipe de fiscalização móvel do Ministério do Trabalho.

Condições
Segundo o coordenador do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho, que atua no Pará, Paulo Mendes, os 38 trabalhadores libertados ontem estavam havia dois meses sem receber salários e eram mantidos em condições subumanas. "Os trabalhadores dormiam em barracos de lona. Encontramos até sapos na água que eles usavam para beber", disse o coordenador da fiscalização.
Todos eles trabalhavam no desmatamento de uma área na fazenda Santa Luzia. O proprietário, que não teve o nome divulgado, terá que pagar uma dívida de R$ 58 mil em direitos trabalhistas.
Segundo Mendes, vários trabalhadores denunciaram ter presenciado o assassinato de um dos trabalhadores no dia 9 de setembro. O caso foi encaminhado para a Polícia Civil de Itupiranga, que abriu inquérito ontem para apurar a denúncia.
Segundo depoimento dos trabalhadores, pelo menos cinco seguranças armados faziam a guarda da fazenda.
A Procuradoria Regional do Trabalho do Pará entrará com uma ação civil pública contra o proprietário da fazenda.

CPT
Em 2000, foram encontrados 265 trabalhadores em condições de trabalho escravo no Pará.
No ano passado, foram registrados 1.300 casos do gênero no Estado, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra).
De acordo com informações do frei Henri des Roziers, da Comissão Pastoral da Terra no sul do Pará, "somente nos oito primeiros meses deste ano foram denunciadas à CPT 35 fazendas, que estariam escravizando 1.325 trabalhadores rurais no Pará". (MAURÍCIO SIMIONATO)



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