São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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Para partido de Lula, quase a metade dos postos criados não seria com carteira assinada

PT admite ser "irreal" criar 10 milhões de empregos formais

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco mais da metade dos 10 milhões de empregos que o PT quer criar em um governo de Luiz Inácio Lula da Silva seriam com carteira assinada. O restante dos postos eventualmente gerados, reconhece o PT, nasceria na informalidade.
De acordo com o economista Antônio Prado, coordenador do programa para geração de emprego e renda de Lula, "não é realista" criar 10 milhões de empregos com carteira assinada no prazo de quatro anos. "Não é a nossa expectativa e nós nunca prometemos tal coisa", declara.
Pesquisador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Prado estima que um crescimento econômico anual de 5% do PIB (Produto Interno Bruto), como promete o programa de Lula, resultaria na criação de cerca de 1,3 milhão de empregos formais a cada 12 meses. Em quatro anos, seriam, assim, 5,2 milhões de empregos formais gerados no país, ou 52% da expectativa.
"Investindo em áreas que favorecem empregos formais, como promoção de exportações, substituição de importações e incremento em áreas sociais, é possível ampliar o coeficiente um pouco", diz ele. Prado não calcula qual seria a elevação, mas adianta que não seria "dramática".
Segundo ele, para que o crescimento econômico possibilitasse a geração de mais empregos formais, seria preciso mudar radicalmente a estrutura econômica, "o que não se faz em um período de quatro anos".
No documento "Mais e melhores empregos", lançado por Lula em 23 de julho, o candidato menciona a necessidade de criação de 10 milhões de empregos, mas não faz a ressalva de que nem todos seriam com carteira assinada.
Na semana passada, em entrevista ao jornal "O Globo", o petista foi instado a definir quantos dos empregos que geraria seriam formais. "Seria pedir muito", respondeu. Em discursos, Lula tem defendido o aumento da economia formal, como forma de evitar um rombo na Previdência.
De acordo com Prado, o partido contempla a geração de 10 milhões de "postos de trabalho" -com e sem carteira. "Emprego, na definição técnica, é com carteira assinada. Mas na linguagem de campanha, acaba virando sinônimo de posto de trabalho", disse.
A geração de milhões de postos de trabalho deflagrou uma guerra entre as campanhas de Lula e de José Serra (PSDB) na TV. Serra, que promete 8 milhões de empregos -e também já reconheceu que não seriam todos formais-, acusa o petista de ter desistido de sua meta de 10 milhões.
Recentemente, Lula passou a dizer que a cifra representa uma "necessidade" para o país e tem evitado se comprometer com um número específico. "Não sabemos em que condições receberíamos o país. A cifra de 10 milhões é uma referência", diz Prado.


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