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FOLCLORE POLÍTICO
Batismo de fogo
AUGUSTO MARZAGÃO
No período democrático pós-Estado Novo os vestígios do velho coronelismo eleitoral, com seu
universo de caciques, feudatários
e até pistoleiro, ainda produziam
reflexos nos altos níveis do cenário político nacional. Desse contexto faziam parte frequentes
bravatas de líderes egressos da
República Velha, que não se bastavam com o poder de fogo da retórica, mas estavam sempre disponíveis para as soluções radicais
à bala. Parlamentares armados
para quaisquer eventualidades
eram pontos comuns de referência nas histórias que então cruzavam os novos horizontes republicanos ainda não consolidados.
Lembremo-nos de um "flash"
daquele tempo, que nos remete ao
comentário acima aduzido.
O deputado federal (1959-1963)
e coronel do exercito Menezes
Cortes foi Chefe de Polícia do Rio
de Janeiro. Era um homem austero, muito respeitado no cumprimento do dever. Quando se elegeu pela UDN (União Democrática Nacional), foi substituído pelo
coronel Amaury Kruel no cargo
policial que ocupava.
Menezes Cortes passou a ser informado de que Amaury Kruel
estaria fazendo ácidas críticas a
sua administração, o que ele punha em dúvida. As notícias continuaram chegando até que, inconformado, Menezes Cortes decidiu
tirar satisfações com o substituto,
o que acabou se transformando
num desfecho de vias de fato, com
mesas e cadeiras quebradas, segundo algumas testemunhas.
De alma lavada, o representante udenista regressou à Câmara
dos Deputados e foi ao gabinete
do primeiro secretário da Casa,
José Bonifácio de Andrada. Lá se
encontrava reunido um grupo de
parlamentares, entre eles o deputado Aloísio Nonô, de Alagoas.
Menezes Cortes estava pálido, o
que fez com que José Bonifácio indagasse, preocupado, sobre o que
acontecera. Ouviu-se então um
relato dramático, até que foi interrompido por uma pergunta de
Aloísio Nonô: "O caro colega
quando entrou no gabinete do
Chefe de Polícia estava armado?"
"Não", respondeu Menezes Cortes, "não costumo portar nenhuma arma". Aí o colega alagoano
exclama, com cara de espanto:
"Pois Vossa Excelência fez muito
mal. Nós, em Alagoas, não vamos
desarmados nem em batizados,
pois ignoramos a intenção do recém-nascido...".
AUGUSTO MARZAGÃO, jornalista,
autor do livro "Memorial do Presente",
ex-secretário particular dos presidentes
Jânio Quadros e José Sarney e
ex-secretário de Comunicação
Institucional de Itamar Franco, escreve
às sextas-feiras nesta seção
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