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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CÂMARA NO ESCURO
Jaques Wagner e Dilma Roussef passaram o dia fazendo campanha para Aldo Rebelo
Planalto pressiona Câmara e prefere 2º turno contra Nonô
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O governo ligou ontem o rolo
compressor sobre o Congresso
para tentar emplacar Aldo Rebelo
(PC do B-SP) na presidência da
Câmara. Ministros passaram o
dia ligando para deputados, e, no
final, calculavam ter, no máximo,
160 votos a favor do ex-ministro.
Em público, governistas dizem
que Aldo já tem contabilizados
cerca de 180 votos. A Câmara, que
tem 513 cadeiras, realiza amanhã
a eleição para a sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou na semana passada. O
vencedor da eleição vai cumprir o
restante do mandato de Severino,
devendo ficar no cargo até o final
da legislatura de 2006.
Logo cedo, o Palácio do Planalto
se transformou num comitê informal do candidato preferido do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No comando, os ministros Jaques Wagner (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa
Civil). Ambos passaram o dia falando com possíveis apoiadores
de Aldo. O objetivo -até agora
frustrado- era criar algum fato
político, como a renúncia, a favor
do nome oficial, de algum dos até
agora oito outros candidatos.
Um dos argumentos usados pelo governo tem sido, segundo a
Folha ouviu de congressistas, a liberação de verbas para as emendas dos parlamentares. Na semana passada, o Planalto autorizou o
pagamento de R$ 500 milhões. O
problema é que o pagamento dessas emendas não será realizado
até amanhã, dia da eleição. Assim,
o convencimento de deputados a
votar em Aldo fica mais difícil.
"O governo peca por liberar essas emendas só nos momentos
críticos. Aí fica parecendo que estamos negociando votos", disse o
líder de uma das bancadas, que
pediu para não ser identificado.
Como será possivelmente uma
eleição com vários candidatos, é
necessário ter perto de 180 votos
para se garantir num eventual segundo turno. Por enquanto, o governo acha que conseguirá disputar esse turno final contra José
Thomaz Nonô (PFL-AL).
Para o Planalto, num segundo
turno entre Aldo e Nonô, a maioria optaria pelo governo. "Aí precisaremos de mais uns 60 votos.
Se não conseguirmos 60 em 300,
podemos ir embora para casa",
disse o deputado e ex-ministro
Eduardo Campos (PSB-PE).
Os 180
A coalizão a favor de Aldo (PC
do B, PT e PSB) chegou a 180 a
partir da conta: 75 votos do PT
(bancada de 88, que pode cair para 84), 40 do PMDB (passará de 87
para 90), 20 do PSB (25), 9 do PC
do B (9) e 36 apoios pontuais nos
outros partidos. O governo aplicou um "índice de traição" para
considerar 160 mais realista.
Ressalte-se que, em fevereiro,
quando Severino derrotou o petista Luiz Eduardo Greenhalgh
(SP), a expectativa de votos do governo não se confirmou.
Já a oposição aposta num descontentamento com o governo e
na oferta da vice-presidência, cargo de Nonô, para arregimentar
apoios no segundo turno. Nonô
disse que esperaria até hoje para
oficializar sua candidatura, sustentada por PFL e PSDB, com o
aval de pelo menos mais três partidos, PPS, PDT e PV. Ele também
conta com os dois votos do Prona.
Se todos esses votarem nele, teria
quase 150 a seu favor. No bastidor,
oposicionistas diziam que 130 é
um número mais realista.
"Gostaria de exibir a minha candidatura com os seis partidos
[PFL, PSDB, PV, PDT, PPS e Prona]. Por isso vou esperar até a tarde de amanhã [hoje] para fazer o
registro", disse.
As negociações entre os demais
candidatos avançou mais, o que
contraria o desejo do governo de
que, fracassadas as articulações
para que alguns nomes desistissem em favor de Aldo, seja mantido o cenário com vários postulantes. Os registrados eram nove até
as 21h de ontem. O prazo para inscrições termina às 18h de hoje.
Consenso
Três dos principais candidatos
que transitam fora da órbita "governo e oposição" fecharam acordo para um deles ser o candidato
de consenso hoje: Ciro Nogueira
(PP-PI), João Caldas (PL-AL) e
Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP). Ciro deverá ser o escolhido.
Se isso se confirmar, Aldo e Nonô poderão correr o risco de ficar
fora do segundo turno. O governo
teme que Ciro, herdeiro direto de
Severino, surpreenda amanhã.
Ciro diz ter mais de 160 votos.
Outro fato relevante atende pelo
nome de Michel Temer (SP), presidente do PMDB. Apesar de traído pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Temer dedicou o dia de ontem a um
corpo-a-corpo e diz que mantém
a candidatura, apesar de afirmar
que pode compor com o trio Nogueira-Caldas-Fleury.
Ontem, em reunião da bancada
do PT, Aldo conseguiu manter o
apoio a seu nome, apesar das intervenções segundo as quais a vitória seria mais fácil com Arlindo
Chinaglia (PT-SP), que abriu mão
em favor do comunista.
O líder do PL, Sandro Mabel
(GO), disse ontem que o primeiro-secretário, deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE), registra hoje
sua candidatura.
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