São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2005

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CAMPO MINADO

MST rompe acordo de trégua; ruralista diz que ato é provocação

Sem-terra invadem fazenda de presidente da UDR no Pontal

CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

Rompendo um acordo de trégua feito com um promotor de Justiça do Pontal do Paranapanema, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu ontem a fazenda Ipezal, em Sandovalina (SP), propriedade do presidente nacional da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia.
Segundo a polícia local, por volta das 6h, cerca de 300 pessoas ligadas ao movimento destruíram cercas e invadiram a área. O MST alega que fez a invasão por se tratar de área "devoluta" e "improdutiva". Já o ruralista classificou o ato como "uma provocação".
"É pura provocação, retaliação pelo nosso posicionamento contrário a esse vandalismo. Minha propriedade é particular e altamente produtiva", disse Nabhan.
Segundo ele, a fazenda tem 360 hectares e 600 cabeças de gado. Até o fechamento desta edição, a Fundação Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) não havia informado a situação jurídica do imóvel. No momento da ação, disse o ruralista, os funcionários da fazenda disseram ter ouvido disparos por parte dos sem-terra -o MST nega.
A invasão ocorreu cinco dias depois de um grupo de coordenadores do movimento, entre eles José Rainha Jr., selar um pacto com o promotor de Justiça de Mirante do Paranapanema Marcos Akira. Pelo acordo, o MST se comprometeu em suspender a agenda de invasões por um mês em troca da liberdade de dirigentes que tinham sido presos.
No início deste mês, a pedido de Akira, a juíza de Mirante do Paranapanema, Adriana Nolasco da Silva, havia determinado a prisão de Rainha. Na última quarta, quando o acordo foi ratificado no fórum da cidade, o promotor ameaçou pedir novamente a prisão de integrantes do MST caso o acordo fosse rompido.
O promotor disse ontem à Folha que pedirá à polícia a identificação dos líderes que planejaram a ação. "Se houver a participação, mesmo que indireta, daqueles que se comprometeram em manter o acordo, já é suficiente para pedir a custódia dos acusados."
Akira diz que o pacto tem o objetivo de manter a ordem no Pontal. "O Ministério Público deve agir na prevenção de conflitos."
Rainha negou participação na invasão. "Estou sabendo agora. Fico pasmo em saber dessa ocupação. A quem interessa isso?" Já a dirigente estadual do MST Maria Aparecida Gonçalves, que participou da invasão, negou o acordo. "A direção do MST não fez acordo. Estamos obedecendo ao calendário de lutas determinado pela coordenação nacional."
O pacto foi criticado por Nabhan. "[Essa invasão] prova que o Ministério Público não pode fazer acordo com chefe de quadrilha." O juiz de Pirapozinho Francisco José Dias Gomes concedeu na tarde de ontem a reintegração de posse da fazenda e determinou um prazo de quatro dias para a saída voluntária das famílias.


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