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DINHEIRO PÚBLICO 1
Banco deve desembolsar R$ 15 bi até dezembro; Estados e estatais estão entre os principais favorecidos
BNDES aumenta empréstimos em 40%
MARCIO AITH
da Reportagem Local
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
enviada especial ao Rio
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) chegará ao final de dezembro tendo desembolsado entre R$
14 bilhões e R$ 15 bilhões, com um
crescimento superior a 40% em relação a 1996.
Com isso, o BNDES vai empatar
com o Banco Mundial, que em 97
liberou créditos no valor de US$
13,9 bilhões (o equivalente a cerca
de R$ 15 bilhões).
No Brasil, nenhum ministério,
nem os que contam com orçamento mais generoso, gerencia com
autonomia uma massa de recursos
tão formidável quanto o BNDES.
Os ministérios da Saúde e da Previdência dispõem de mais dinheiro
do que o banco, só que não têm
autonomia para aplicar os recursos de que dispõem.
A maior parte do dinheiro controlado pelos ministros já entra
nos caixas dos ministérios com
uma destinação obrigatória.
Essas restrições e a escassez de
recursos explicam por que a ação
direta do governo federal encolheu
muito em uma série de setores.
O BNDES, em contrapartida, começou a ocupar os espaços deixados vazios: diversificou as áreas de
atuação, passou a emprestar muito para o setor de serviços, para Estados e municípios e estuda como
financiar investimentos no setor
agrícola. Além disso, iniciou uma
série de projetos sociais e de desenvolvimento regional.
Entre os maiores clientes estão
os Estados e empresas estatais. De
um total de cerca de R$ 12 bilhões
de empréstimos autorizados pelo
banco diretamente ao tomador final, entre o início de 1996 e setembro último, R$ 2,65 bilhões foram
para Estados, para ajuste fiscal.
"O banco está ganhando muito
dinheiro e não depende de orçamento", explica Luiz Carlos Mendonça de Barros. O propósito do
banco hoje é procurar atender todos os pedidos de empréstimo
-baseados em "projetos viáveis"- que recebe.
Para isso, foi buscar novas fontes
de recursos. Acelerou, por exemplo, a venda de ações da carteira do
BNDESpar (o setor do banco que
compra participações em empresas). Tradicionalmente, a desmobilização do BNDESpar ficava entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões ao ano; neste ano, a venda de
ações chegou a quase R$ 4 bilhões.
O banco também passou a emitir
bônus (uma espécie de título) no
exterior em volumes muito maiores do que anteriormente. Em
1993, por exemplo, o BNDES captou US$ 150 milhões em bônus; este ano, foram US$ 905 milhões.
Apesar das mudanças dos últimos anos, com a diversificação das
aplicações, a lista dos tomadores
de empréstimos diretos do BNDES
mostra que ainda são os grandes
grupos, principalmente indústrias, os que mais recebem recursos do banco. O governo também é
um dos seus grandes clientes.
As estrangeiras também passaram a receber dinheiro em volumes expressivos, inclusive as que
venceram leilões de privatização.
"O BNDES está com recursos.
No ano passado, o banco ficou
com R$ 1 bilhão no caixa", justifica
Mendonça de Barros.
Essa política é criticada por alguns empresários. Para Roberto
Nicolau Jeha, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo), as empresas estrangeiras que decidiram investir no
Brasil "deveriam estar nos financiando, e não o contrário".
Segundo Jeha, que citou os setores automobilístico e de telecomunicações, a prática adotada por
quase todos os governos é a de financiar empresas de seus países
quando elas participam de projetos no exterior.
"Não consigo entender a lógica
do BNDES ao dar crédito para empresas estrangeiras. Esses grupos
têm condições de conseguir financiamento nos seus países", concorda Eduardo Capobianco, primeiro coordenador-geral do
PNBE (Pensamento Nacional das
Bases Empresariais).
Apesar da crítica, Jeha reconhece
que não há registro de grande empresa brasileira para a qual o
BNDES tenha negado crédito.
O problema ocorre com as pequenas e médias empresas. Os
bancos privados, agentes do
BNDES nos Estados que negociam
com as pequenas empresas, não
têm interesse em emprestar a taxas
reduzidas. Preferem financiar com
seus próprios recursos e taxas, que
são muito maiores.
Uma das "imperfeições" do
BNDES, como diz Mendonça de
Barros, é mesmo o atendimento às
pequenas e médias empresas. Para
tentar minorar o problema, está
estudando um fundo de aval -um
sistema pelo qual o BNDES daria
garantia de até 70% do repasse de
recursos para uma pequena empresa via banco privado.
Uma das áreas onde a participação do banco ainda é modesta, ao
menos em valores, é a social, mas
esse quadro tende a mudar com o
início de uma série de projetos, diz
Paulo Hartung, diretor do banco.
Na carteira de projetos sociais,
constam desde financiamento para a compra de equipamentos em
47 hospitais universitários e 52 entidades de ensino, por meio de licitação que o Ministério da Educação está abrindo, até antecipações
para a construção de 52 presídios.
Programas em parceria com
ONGs (organizações não-governamentais) também começam a
ser implementados. "Na área social, não basta oferecer crédito e
criar projetos. É preciso buscar alternativas criativas para que os recursos cheguem ao seu destino",
diz Beatriz Azeredo, superintendente da área de desenvolvimento
regional e social do banco.
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