São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

Premiê britânico admite ter convidado brasileiro para reunião da cúpula, em julho; petista deve abordar fundo contra a pobreza

Blair diz que quer Lula em reunião do G8

Lula Marques/Folha Imagem
Da esq. para a dir., Bill Gates (Microsoft), Bono Vox (U2) e Tony Blair, premiê britânico, em Davos


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O primeiro-ministro britânico Tony Blair confirmou ontem o convite para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participe da reunião de cúpula do G8 a realizar-se no Reino Unido em julho. O G8 reúne os sete países mais ricos do mundo (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá) e a Rússia.
"Apreciaríamos muito a participação do Brasil, não só para discutir a questão da pobreza mas também a mudança climática", disse Blair, ao tentar escapar de pergunta de "O Globo" sobre o convite. A repórter insistiu, e Blair acabou dizendo "sim" à pergunta direta sobre se teria havido convite ao presidente brasileiro. O chanceler Celso Amorim disse que chegara carta com o convite e que certamente Lula aceitaria.
Mas, quando tratam de combate à pobreza, os países ricos estão falando dos 48 países mais miseráveis do mundo, a maior parte na África. Falam, por exemplo, de Haiti, não da favela da Rocinha, no Rio, do sertão nordestino ou do Jardim Ângela, em São Paulo.
De todo modo, é um bom palco para Lula insistir na proposta de criação de uma taxa sobre as transações financeiras internacionais, idéia original do norte-americano James Tobin, Prêmio Nobel de Economia. O francês Jacques Chirac repetiu a proposta anteontem, em teleconferência, no encontro do Fórum Econômico Mundial.
Mas Blair não a comprou: ontem, limitou-se a dizer que "todas as propostas [sobre o fundo de combate à pobreza] serão postas à mesa". Ele acha que o importante não é o formato, mas "atender o objetivo de aumentar os recursos que vão para a África".
Ele se adiantou e anunciou que o Reino Unido dará 45 milhões de libras esterlinas para um programa de redes de proteção contra o mosquito da malária, cujo custo total está orçado em modestos 300 milhões de libras esterlinas.
A malária mata 1 milhão de pessoas por ano na África.
Bill Gates, da Microsoft, e Bono, do grupo U2, ladeavam Blair na coletiva, envolvidos nos programas de ajuda à África. Blair não mencionou, mas uma segunda proposta é de seu ministro do Tesouro, Gordon Brown, rival interno no Partido Trabalhista. É a dita solução de mercado pela qual países ricos antecipariam obtenção do 0,7% de seus PIBs e o destinariam a países mais pobres. O Brasil não tem restrição à proposta.
Mas é óbvio que prefere a fórmula da taxação, com efeitos propagandísticos maiores. A prova: o programa com que o encontro anual do fórum anuncia o debate de hoje sobre a pobreza, com a participação do presidente brasileiro, chama a proposta de "fundo Lula" e pergunta se é aceitável.
Não é, foi a resposta antecipada do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, ao participar ontem do debate sobre a prioridade para a África do G8. Mas, na segunda, Clinton telefonou a Amorim para se interessar sobre as propostas de combate à pobreza.
Tudo somado, Lula tem dois palcos globais para defender suas propostas: Davos e o G8. Mas é ilusório supor que foi o seu discurso que mudou a agenda de Davos e inclinou-a ao social. Klaus Schwab, o empresário e professor suíço que criou o fórum, lembra que a ênfase em questões sociais já vinha ocorrendo havia uns cinco ou seis anos. "Lula apenas enfatizou a necessidade", diz.


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