São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Fracasso de investida colocará decisão nas mãos de Sarney, que pode sair fortalecido

Governo ordena a aliados que desistam da CPI dos Bingos

KENNEDY ALENCAR
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo decidiu mandar seus aliados retirarem as assinaturas de apoio à criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Bingos. O senador Magno Malta (PL-ES), da base aliada ao governo, diz ter recolhido 33 das 27 assinaturas necessárias à instalação da CPI. Até a conclusão desta edição, ele não forneceu os nomes dos apoiadores, mas disse que ninguém o procurara pedindo a retirada da assinatura.
Na avaliação da cúpula do governo, sem a retirada das assinaturas, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), seria obrigado a derrubar a abertura da CPI alegando que lhe falta fato determinado para ser aceita.
Isso elevaria ainda mais a dependência do governo em relação ao presidente do Senado. Traduzindo: o preço do apoio de Sarney, aliado fundamental na operação do PT para abafar a CPI do caso Waldomiro Diniz, ficaria alto demais em termos de faturas políticas, como cargos e verbas, por exemplo.
Como já sofreu o desgaste da operação para abafar a CPI do caso Waldomiro, o governo acredita que não deve correr o risco de deixar nascer outra investigação congressual desse tipo. Julga que ela serviria à oposição, que colocaria todo o seu foco nas investigações do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência.
Apesar de ter dito ao senador Malta que não se opunha à CPI dos Bingos, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, está na linha de frente da operação para bombardeá-la. Dirceu avalia que a oposição tentaria convocá-lo para depor na CPI logo após uma ida de Waldomiro ao Congresso.
Homem da confiança de Dirceu, Waldomiro apareceu em vídeo gravado em 2002 pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário do ramo dos jogos e das loterias.
Na época, Waldomiro era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), no governo Benedita da Silva (PT). Em 2003, Dirceu nomeou o companheiro subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência.

PT e Sarney
Na próxima semana, quando o Congresso retoma suas atividades normais após o recesso prolongado de Carnaval, o governo pressionará para que voltem atrás os seis senadores petistas que teriam assinado ou prometido assinar o requerimento de Malta.
A exemplo da operação para abafar a CPI do caso Waldomiro, o enquadramento da bancada do PT é fundamental para que dê certo a iniciativa do governo de não permitir a CPI dos Bingos.
Um movimento junto a aliados e a oposicionistas seria o suficiente, crê o governo, para derrubar a iniciativa de Malta.
O senador disse ontem que não havia sido procurado por nenhum parlamentar com solicitação de retirada de assinatura e que pretende pressionar pela instalação da comissão.
"Não há nenhuma criança ali [no Senado]. Todo mundo que assinou leu o requerimento e colocou o nome com consciência do que estava fazendo. Se quiser retirar, não vai retirar comigo, vai ter que ir à Mesa colocar a cara", afirmou Malta.
Se falhar a operação anti-CPI dos Bingos, caberá a Sarney derrubá-la. Mas essa é a última alternativa do governo no momento. Dirceu, por exemplo, já se sente comprometido a apoiar o projeto de reeleição de Sarney, o que facilitaria a recondução do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), ao posto.
João Paulo tem desempenhado papel fundamental na operação para tentar salvar Dirceu.
O presidente da Câmara, assim como o presidente do Senado, organizou iniciativas para prestigiar o ministro José Dirceu e tentar segurá-lo no cargo.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Para ministros, Waldomiro não irá comprometer Dirceu em depoimento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.