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SOMBRA NO PLANALTO
Fracasso de investida colocará decisão nas mãos de Sarney, que pode sair fortalecido
Governo ordena a aliados que desistam da CPI dos Bingos
KENNEDY ALENCAR
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo decidiu mandar seus
aliados retirarem as assinaturas
de apoio à criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
dos Bingos. O senador Magno
Malta (PL-ES), da base aliada ao
governo, diz ter recolhido 33 das
27 assinaturas necessárias à instalação da CPI. Até a conclusão desta edição, ele não forneceu os nomes dos apoiadores, mas disse
que ninguém o procurara pedindo a retirada da assinatura.
Na avaliação da cúpula do governo, sem a retirada das assinaturas, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), seria obrigado a derrubar a abertura da CPI
alegando que lhe falta fato determinado para ser aceita.
Isso elevaria ainda mais a dependência do governo em relação
ao presidente do Senado. Traduzindo: o preço do apoio de Sarney, aliado fundamental na operação do PT para abafar a CPI do
caso Waldomiro Diniz, ficaria alto demais em termos de faturas
políticas, como cargos e verbas,
por exemplo.
Como já sofreu o desgaste da
operação para abafar a CPI do caso Waldomiro, o governo acredita que não deve correr o risco de
deixar nascer outra investigação
congressual desse tipo. Julga que
ela serviria à oposição, que colocaria todo o seu foco nas investigações do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência.
Apesar de ter dito ao senador
Malta que não se opunha à CPI
dos Bingos, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, está na linha de
frente da operação para bombardeá-la. Dirceu avalia que a oposição tentaria convocá-lo para depor na CPI logo após uma ida de
Waldomiro ao Congresso.
Homem da confiança de Dirceu, Waldomiro apareceu em vídeo gravado em 2002 pedindo
propina e contribuição de campanha a um empresário do ramo
dos jogos e das loterias.
Na época, Waldomiro era presidente da Loterj (Loteria do Estado
do Rio de Janeiro), no governo
Benedita da Silva (PT). Em 2003,
Dirceu nomeou o companheiro
subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência.
PT e Sarney
Na próxima semana, quando o
Congresso retoma suas atividades
normais após o recesso prolongado de Carnaval, o governo pressionará para que voltem atrás os
seis senadores petistas que teriam
assinado ou prometido assinar o
requerimento de Malta.
A exemplo da operação para
abafar a CPI do caso Waldomiro,
o enquadramento da bancada do
PT é fundamental para que dê
certo a iniciativa do governo de
não permitir a CPI dos Bingos.
Um movimento junto a aliados
e a oposicionistas seria o suficiente, crê o governo, para derrubar a
iniciativa de Malta.
O senador disse ontem que não
havia sido procurado por nenhum parlamentar com solicitação de retirada de assinatura e que
pretende pressionar pela instalação da comissão.
"Não há nenhuma criança ali
[no Senado]. Todo mundo que
assinou leu o requerimento e colocou o nome com consciência do
que estava fazendo. Se quiser retirar, não vai retirar comigo, vai ter
que ir à Mesa colocar a cara", afirmou Malta.
Se falhar a operação anti-CPI
dos Bingos, caberá a Sarney derrubá-la. Mas essa é a última alternativa do governo no momento.
Dirceu, por exemplo, já se sente
comprometido a apoiar o projeto
de reeleição de Sarney, o que facilitaria a recondução do presidente
da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), ao posto.
João Paulo tem desempenhado
papel fundamental na operação
para tentar salvar Dirceu.
O presidente da Câmara, assim
como o presidente do Senado, organizou iniciativas para prestigiar
o ministro José Dirceu e tentar segurá-lo no cargo.
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