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AJUSTE FISCAL
Verba para o combate à pobreza ficou menor do que a que foi gasta em 98 após cortes em 25 programas
Governo tira R$ 2,04 bi da área social
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Só 6 de 31 programas financiados pela
União voltados
para a população de baixa
renda ficaram
imunes aos cortes no Orçamento de 99 em decorrência do ajuste fiscal.
Em 61% dos programas, os cortes foram de tal ordem que a verba
disponível neste ano ficou menor
do que a gasta em 98.
Ao todo, os cortes determinados
pelo governo nos 31 programas
voltados ao combate da pobreza
chegam a R$ 2,04 bilhões.
Pior: o dinheiro do Orçamento
de 99 está chegando aos programas sociais em ritmo de conta-gotas. Alguns programas não receberam um único centavo nos dois
primeiros meses do ano. Um
exemplo disso é o programa de
renda mínima.
Menor alcance
Como a população cresceu e os
recursos diminuíram, o número
de beneficiados deve cair, a menos
que o governo peça suplementação orçamentária ao Congresso.
É o que deve acontecer com os
três programas voltados para os
grupos mais vulneráveis entre a
população de baixa renda: crianças, deficientes e idosos.
Os recursos que garantiriam a
manutenção de 1,5 milhão de
crianças carentes em creches sofreram um corte de 29%. Dos R$
247,1 milhões previstos na primeira versão do Orçamento, sobraram
R$ 175,4 milhões.
São 20% a menos do que o governo havia gasto em 98: R$ 218,6 milhões. Como as verbas para manter
as creches "encolheram", a Secretaria de Assistência Social atenderá 500 mil crianças a menos.
O mesmo aconteceu com o programa de Apoio à Pessoa Idosa
-que garantia a manutenção em
asilos de 276 mil idosos.
O programa sofreu um corte de
30,5% da primeira versão do Orçamento de 99 para a versão pós-corte, ficando com R$ 20,5 milhões
disponíveis.
No ano passado, o governo havia
gasto R$ 26,3 milhões para manter
os idosos carentes em asilos. Com
R$ 5,8 milhões a menos (22%), só
será possível atender 118,6 mil pessoas.
Gasto pequeno
Os 31 programas ligados ao combate da pobreza relacionados no
quadro ao lado foram selecionados pela Folha.
O gabinete do deputado federal
Agnelo Queiroz (PC do B-DF) levantou no Siafi (sistema de acompanhamento de gastos da União)
os cortes que esses programas sofreram da primeira versão do Orçamento de 99 (antes do ajuste fiscal) para a segunda, que foi sancionada pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso na terça-feira
passada.
Também comparou o novo Orçamento com o que havia sido gasto nesses programas em 98 e levantou quanto dos recursos aprovados para 99 já haviam sido gastos
até 23 de fevereiro.
Até ontem, 13 dos 31 programas
não haviam gasto nada do que havia sido aprovado. A liberação lenta dos recursos no início do ano
prejudica o andamento dos programas, porque as prefeituras ficam sem dinheiro e terminam suspendendo o atendimento à população.
Para evitar que isso aconteça, o
BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) conseguiu que o
governo federal montasse uma
"Rede de Proteção Social" com 22
programas que seriam beneficiados na liberação das verbas do Orçamento.
Repasse
O governo brasileiro se comprometeu a liberar, até 30 de junho,
40% dos recursos orçamentários
dos programas protegidos. Caso
contrário, o BID não repassaria
sua parcela de US$ 4,5 bilhões no
empréstimo internacional de ajuda ao Brasil.
Dos 22 programas protegidos, 9
não gastaram nada até agora. É o
caso do Programa de Garantia de
Renda Mínima e do Programa de
Combate ao Câncer Uterino.
Para o secretário-executivo do
Ministério da Saúde, Barjas Negri,
mesmo com o atraso constatado
até este momento, vai ser possível
cumprir a meta estabelecida pelo
BID até junho.
"Alguns programas novos ou
que foram reestruturados demoram mais a deslanchar. É o caso do
combate ao câncer. Mas, até junho,
teremos cumprido a meta", afirmou Barjas Negri.
Os seis programas que não sofreram cortes da
primeira para a segunda versão do Orçamento
de 99 foram: Loas (Concessão e Manutenção de
Benefícios a Idosos e Deficientes), Fundef (fundo
de valorização do magistério), Programa de Alimentação Escolar, Farmácia Básica, Combate ao
Câncer Cérvico-Uterino e Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
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