São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TERRA SEM LEI

Fazendeiro, que teve prisão decretada em 13 de fevereiro, estava foragido

Acusado de mandar matar Dorothy, Bida se entrega

JAQUELINE ALMEIDA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, 34, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, 73, se entregou na manhã de ontem à Polícia Federal, em Altamira, a 140 km de Anapu, onde ocorreu o crime.
O fazendeiro estava com a prisão preventiva decretada desde o dia 13 de fevereiro, um dia depois da morte da missionária.
Bida foi transferido para Belém, à tarde, em um avião da Força Aérea Brasileira. Em depoimento à Polícia Federal, ele negou envolvimento na morte de Dorothy. "Não fui eu, não fui eu", repetiu várias vezes à policia.
O depoimento do fazendeiro à PF ainda não tinha acabado até o fechamento desta edição.

Negociação
A rendição de Bida vinha sendo negociada havia três semanas diretamente com a PF e com a comissão externa do Senado formada para acompanhar o caso.
Os senadores Ana Júlia (PT-PA), presidente da comissão, e Eduardo Suplicy (PT-SP) foram os responsáveis na comissão pelas negociações. Os interlocutores do fazendeiro foram seu advogado Augusto Septímio e seu irmão, Waldir José de Moura, que revelou à policia o local onde o acusado estava escondido.
Segundo a senadora Ana Júlia, o fazendeiro afirmou ao se apresentar que se entregava como forma de provar sua inocência.
De acordo com o delegado da PF Anderson Souza D'áurea, para se entregar Bida exigiu o afastamento de representantes do governo do Pará e do senador Fernando Flexa Ribeiro (PSDB), que integra a comissão do Senado. Ribeiro é aliado do governador do Pará, Simão Jatene (PSDB).
Bida também exigiu para a rendição ficar preso na carceragem da PF em Belém e não no presídio de Americano 3, onde estão os demais acusados.

Exigências
O primeiro encontro entre Vitalmiro e a PF aconteceu em um bar, localizado em uma área de mata fechada, entre os rios Xingu e Iriri, a cerca de 100 km da sede da PF em Altamira. O acesso ao local só é possível de helicóptero.
Segundo Ana Júlia, a confirmação de que o fazendeiro se apresentaria só ocorreu na madrugada de sábado para domingo.
"Ele saiu de uma estrada vicinal próxima de um campo de futebol onde pousou o helicóptero", afirmou a senadora.
O delegado D'áurea afirmou que a PF aceitou as exigências de Bida porque ele tem "informações importantes" que poderão elucidar o crime.
A polícia espera saber, por exemplo, segundo o delegado, se existe mesmo uma lista de fazendeiros que estavam interessados em matar Dorothy.
Ainda de acordo com o delegado, Bida terá de explicar a existência de um bilhete escrito por ele e entregue a Amair Feijoli da Cunha, o Tato (acusado de ser o intermediário do crime), com os nomes de dois fazendeiros da região de Altamira, que já vêm sendo investigados pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga a grilagem de terras no Pará.
Para a senadora Ana Júlia, há outras pessoas envolvidas na morte da missionária e há interesse em que as investigações parem com a prisão de Bida.
Deve ser realizada hoje uma acareação entre Bida e os demais acusados do crime -Rayfran das Neves Sales (Fogoió), 27, Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo), 31, e Tato, 32, que estão presos no presídio de Americano 3, em Santa Izabel (a 100 quilômetros de Belém). Eles chegaram a negar o envolvimento de Bida no caso, mas voltaram atrás.
Todos os acusados poderão responder por homicídio duplamente qualificado, cuja pena varia de 12 a 30 anos de prisão.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Dinheiro público: Jucá toma crédito, não paga e garantia é falsa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.