|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TERRA SEM LEI
Fazendeiro, que teve prisão decretada em 13 de fevereiro, estava foragido
Acusado de mandar matar
Dorothy, Bida se entrega
JAQUELINE ALMEIDA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
O fazendeiro Vitalmiro Bastos
de Moura, o Bida, 34, acusado de
ser o mandante do assassinato da
missionária norte-americana Dorothy Stang, 73, se entregou na
manhã de ontem à Polícia Federal, em Altamira, a 140 km de
Anapu, onde ocorreu o crime.
O fazendeiro estava com a prisão preventiva decretada desde o
dia 13 de fevereiro, um dia depois
da morte da missionária.
Bida foi transferido para Belém,
à tarde, em um avião da Força Aérea Brasileira. Em depoimento à
Polícia Federal, ele negou envolvimento na morte de Dorothy.
"Não fui eu, não fui eu", repetiu
várias vezes à policia.
O depoimento do fazendeiro à
PF ainda não tinha acabado até o
fechamento desta edição.
Negociação
A rendição de Bida vinha sendo
negociada havia três semanas diretamente com a PF e com a comissão externa do Senado formada para acompanhar o caso.
Os senadores Ana Júlia (PT-PA), presidente da comissão, e
Eduardo Suplicy (PT-SP) foram
os responsáveis na comissão pelas
negociações. Os interlocutores do
fazendeiro foram seu advogado
Augusto Septímio e seu irmão,
Waldir José de Moura, que revelou à policia o local onde o acusado estava escondido.
Segundo a senadora Ana Júlia, o
fazendeiro afirmou ao se apresentar que se entregava como forma
de provar sua inocência.
De acordo com o delegado da
PF Anderson Souza D'áurea, para
se entregar Bida exigiu o afastamento de representantes do governo do Pará e do senador Fernando Flexa Ribeiro (PSDB), que
integra a comissão do Senado. Ribeiro é aliado do governador do
Pará, Simão Jatene (PSDB).
Bida também exigiu para a rendição ficar preso na carceragem
da PF em Belém e não no presídio
de Americano 3, onde estão os demais acusados.
Exigências
O primeiro encontro entre Vitalmiro e a PF aconteceu em um
bar, localizado em uma área de
mata fechada, entre os rios Xingu
e Iriri, a cerca de 100 km da sede
da PF em Altamira. O acesso ao
local só é possível de helicóptero.
Segundo Ana Júlia, a confirmação de que o fazendeiro se apresentaria só ocorreu na madrugada de sábado para domingo.
"Ele saiu de uma estrada vicinal
próxima de um campo de futebol
onde pousou o helicóptero", afirmou a senadora.
O delegado D'áurea afirmou
que a PF aceitou as exigências de
Bida porque ele tem "informações importantes" que poderão
elucidar o crime.
A polícia espera saber, por
exemplo, segundo o delegado, se
existe mesmo uma lista de fazendeiros que estavam interessados
em matar Dorothy.
Ainda de acordo com o delegado, Bida terá de explicar a existência de um bilhete escrito por ele e
entregue a Amair Feijoli da Cunha, o Tato (acusado de ser o intermediário do crime), com os
nomes de dois fazendeiros da região de Altamira, que já vêm sendo investigados pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga a grilagem
de terras no Pará.
Para a senadora Ana Júlia, há
outras pessoas envolvidas na
morte da missionária e há interesse em que as investigações parem
com a prisão de Bida.
Deve ser realizada hoje uma
acareação entre Bida e os demais
acusados do crime -Rayfran das
Neves Sales (Fogoió), 27, Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo), 31, e
Tato, 32, que estão presos no presídio de Americano 3, em Santa
Izabel (a 100 quilômetros de Belém). Eles chegaram a negar o envolvimento de Bida no caso, mas
voltaram atrás.
Todos os acusados poderão responder por homicídio duplamente qualificado, cuja pena varia de
12 a 30 anos de prisão.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Dinheiro público: Jucá toma crédito, não paga e garantia é falsa Índice
|