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ENTREVISTA DA 2¦
Relator da lei eleitoral quer
limitar o uso da máquina
SOBRE O FUNDO
ELEITORAL
Seria até moralizador
se você conseguisse
criar um fundo e não
precisasse pedir
dinheiro para
empresa nenhuma,
para que não tivesse
que oferecer favores a
essas empresas depois
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LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
O possível uso da máquina do
governo pelo presidente, governadores e prefeitos será a principal
preocupação do relator da lei eleitoral para 1998, deputado Carlos
Apolinário (PMDB-SP). A comissão especial que vai elaborar a lei
eleitoral será instalada amanhã.
``Temos que disciplinar o que é
uso da máquina. Entendo que participar de inaugurações e mandar
dinheiro voluntário para os Estados nos últimos seis meses que antecedem as eleições podem trazer
benefícios para uma candidatura.''
Na sua opinião, o presidente não
deve usar os aviões do governo em
atos típicos de campanha eleitoral:
``Se ele for para um comício em
determinado Estado, para uma
inauguração que traga dividendos
políticos, será uso da máquina.''
O relator acha que seria polêmico criar um fundo de financiamento de campanha com verbas públicas. ``Seria moralizador. Mas não
sei como a população encararia a
criação desse fundo, quando há
tanta gente passando fome.''
Apolinário quer excluir da propaganda eleitoral gratuita os chamados partidos ``nanicos'', que
não têm representantes na Câmara. Por esse critério, o Prona, de
Enéas Carneiro, seria excluído do
horário gratuito, por exemplo.
Folha - Amanhã será instalada a
comissão responsável pela lei eleitoral. Que linha o sr. vai seguir na
regulamentação de campanhas?
Carlos Apolinário - A maior
preocupação será com a novidade
desta eleição, que será a reeleição
para cargos executivos. Então, temos que disciplinar o que é usar a
máquina durante o período eleitoral. Eu entendo que o presidente
da República participar de inaugurações nos últimos seis meses que
antecedem as eleições e mandar
dinheiro voluntário (que não está
previsto no Orçamento da União)
para os Estados, ou o governador
mandar para as prefeituras, podem trazer benefícios para uma
determinada candidatura.
Folha - Um governante que inaugurar uma obra nesse período poderá usar as imagens na propaganda eleitoral gratuita?
Apolinário - Se não previrmos
na lei que ele não pode participar
de inaugurações, ele vai participar.
Então, cabe à Câmara disciplinar
uma coisa nova. A nossa assessoria
vai levantar experiências de outros
países, como França, Argentina e
EUA, onde já existe a reeleição.
Folha - O presidente poderia, por
exemplo, usar aviões do governo
na campanha pela reeleição?
Apolinário - Quanto ao presidente da República, o meu temor
talvez seja menor. Teremos a imprensa fiscalizando o governo. Se
ele usar um avião do governo para
ir a outro país, resolver um problema nacional, isso não será uso da
máquina de forma eleitoral. Se ele
for para um comício em determinado Estado,
para uma inauguração que
traga dividendos políticos,
será uso da máquina. A lei terá que separar,
o que não é fácil, o que é uso
da máquina e o
que não é. Participar de inaugurações durante a campanha eleitoral dá
privilégios ao
candidato que
está no posto.
Folha - Essa lei será aprovada por
um Congresso onde o presidente
tem maioria folgada. A bancada
governista não vai acabar aprovando o que mais beneficia o atual
presidente?
Apolinário - Acho que a melhor
forma de o presidente Fernando
Henrique fazer uma boa campanha é ajudar a população em relação ao emprego, à melhoria das
condições de vida etc. Ele não deve
se apegar a verbas para Estados,
andar de avião do governo, usar
inaugurações para ser privilegiado. Os atuais governantes têm
quatro anos de campanha. Se fizerem um bom governo, até por inteligência, não vão usar a máquina
na campanha.
Folha - Sobre o financiamento de
campanha, deve continuar a fórmula dos bônus eleitorais?
Apolinário - Se for para continuar do jeito que está, não importa
se será bônus ou recibo. O que importa é que haja transparência. A
doação tem que estar na declaração de renda de quem doou e registrada na Justiça Eleitoral. O que
precisa é a lei estabelecer um limite
de quanto cada candidato pode receber para concorrer a deputado,
senador ou governador. E isso deve ser de acordo com o número de
habitantes de cada Estado. É preciso estabelecer o máximo que uma
empresa ou pessoa física pode
contribuir para uma campanha.
Folha - O sr. é contra o financiamento público, com recursos do
Orçamento da União?
Apolinário - Vai surgir a discussão sobre a criação de um fundo
eleitoral, no qual todos os partidos
recebem um valor de acordo com
suas bancadas no Congresso. Não
sou contra a criação desse fundo.
Seria até moralizador se você conseguisse criar um fundo e não precisasse pedir dinheiro para empresa nenhuma,
para que não
tivesse que oferecer favores a
essas empresas
depois de eleito. Seria muito
mais moralizador. O problema é que, na situação atual do
país, eu não sei
como a população encararia
a criação desse
fundo, quando
há tanta gente
passando fome. Com tanta gente passando necessidade, você cria um fundo para
financiar campanha? Como sou
deputado, quero fazer algo que
atenda à sensibilidade popular.
Folha - A possibilidade de coligações nas eleições proporcionais
deve ser mantida?
Apolinário - Eu sou favorável.
Você tem que permitir que os partidos que pensam igual possam fazer uma coligação. Mas é claro que
você vai ter os dois lados na Casa:
os que precisam da coligação, como o PCB, e os que não precisam.
Mas não podemos fazer uma lei só
pensando nos grandes partidos ou
só nos pequenos.
Folha - A propaganda gratuita
deve manter a permissão do uso
de imagens externas ou retornar
aos discursos feitos em estúdio?
Apolinário - Segundo o pessoal
de mídia, o eleitor que tem pouco
interesse pela campanha eleitoral
perde ainda mais o interesse quando fica apenas o candidato falando. As imagens externas dão uma
audiência maior. E, quando você
pensa na propaganda, você pensa
também no eleitor.
Folha - Como será o espaço dos
chamados partidos ``nanicos'' no
horário eleitoral gratuito? Muitas
vezes eles fazem campanha para
candidatos de outros partidos.
Apolinário - Você chama de
partido "nanico", mas eu chamo
de partido de aluguel. São partidos
que muitas vezes prestam serviço a
um grande partido. Não querendo
ser agressivo com outro candidato, um partido contrata o serviço
desses "nanicos" para atacar determinados adversários. Eu gostaria de colocar no relatório que, para ter acesso ao horário gratuito, o
partido teria de ter representantes
na Câmara. Hoje, temos partidos
para todas as ideologias.
Folha - Mas o Prona, que hoje
não tem deputados federais, ficou
em terceiro lugar na última eleição. Esse partido seria excluído?
Apolinário - Se eu estivesse convencido de que o voto do Prona,
do Enéas, foi um voto ideológico,
em cima de um programa, em cima de uma esperança de que algo
novo pudesse acontecer, elegendo
o Enéas como presidente, eu não
quereria que ele tivesse 30 segundos, mas cinco minutos. Mas, na
realidade, o voto do Enéas foi um
voto de protesto. Aquele que não
queria votar no Fernando Henrique, no Lula, votou no Enéas. Não
foi o voto da consciência. Foi contra todo mundo. Não queremos o
voto apenas de protesto. Se alguém
quer protestar, então que vote em
branco.
Folha - E a participação feminina?
Apolinário - Eu pretendo, no
mínimo, manter a cota de 20% nas
vagas reservadas às mulheres. Em
São Paulo, por exemplo, um partido pode lançar 70 candidatos. Ele
terá de reservar 14 vagas para mulheres. Existem partidos que são
machistas e, de repente, excluem
as mulheres das candidaturas.
Folha - O sr. vai criar algum tipo
de restrição à divulgação de pesquisas eleitorais?
Apolinário - Não. A única coisa
que vou fazer é tornar a metodologia o mais transparente possível.
Os institutos têm de dizer claramente quem encomendou e quem
pagou. Mas eu não posso proibir o
eleitor de tomar conhecimento da
realidade do seu candidato até
mesmo no dia da eleição: ele tem o
direito de saber como está o seu
candidato até o final.
Os critérios e o financiamento da
pesquisa têm de ser claros para
evitar, nos Estados e cidades em
que a mídia tem pouca força e é
menos transparente, o aparecimento daquelas pesquisas fantasmas que apresentam números beneficiando determinado candidato e ninguém sabe de onde vieram
e quem pagou por elas.
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