FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Araripina (PE)

O armazém Artefil, de Araripina, no sertão de Pernambuco, foi saqueado ontem duas vezes no período de seis horas.
Foram saqueadas cerca de 2.300 das 3.800 cestas básicas do governo federal que estavam guardadas no local, além de quase 15 toneladas de merenda escolar e materiais diversos da prefeitura, como colchões e vassouras.
As ações envolveram cerca de 1.700 pessoas, entre integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e moradores da periferia da cidade.
Houve tumulto. Saqueadores e policiais militares quase entraram em confronto. Foram jogadas pedras sobre os PMs, que sacaram suas armas, mas não dispararam.
Uma janela de um microônibus da polícia quebrou com uma pedrada. Duas pessoas foram presas, entre elas a professora Edna Elízia da Silva, 27, integrante da coordenação estadual do MST.
O primeiro saque ocorreu por volta das 3h. Cerca de 350 pessoas -50 delas ligadas ao MST- invadiram o depósito, arrombaram um de seus quatro armazéns e roubaram cerca de 1.500 cestas básicas do governo federal.
"Eles quebraram os cadeados na base da porrada, com machado e marreta", disse o vigia do armazém, Luiz Lima de Barros. "Eles arrombaram a porta de ferro com chutes, pegaram a comida e fugiram cada um para um lado."
A notícia do saque se espalhou na periferia e, em pouco tempo, mais de mil pessoas, segundo a PM, aglomeraram-se diante do armazém, que pertence ao deputado estadual Valdeir Batista (PSB).
O clima ficou tenso quando, às 9h, policiais tentaram retirar do local 1.500 cestas básicas para doá-las a comunidades carentes. Um caminhão da PM que transportava os alimentos foi bloqueado com troncos pelos manifestantes. Um homem retirou uma cesta básica do veículo e a confusão aumentou. A multidão avançou em direção aos depósitos. O veículo da polícia conseguiu escapar.
Além das cerca de 800 cestas básicas que ainda restavam, os saqueadores atacaram outro galpão e roubaram 15 toneladas de merenda escolar.
O prefeito de Araripina, Manoel Santiago (PSB), responsabilizou políticos da oposição pelos saques e disse que os ataques "vão continuar", caso o governo federal não consiga 8.000 empregos para os agricultores do município.
No final da manhã, cerca de 500 quilos de alimentos que restaram dos saques foram distribuídos pela PM entre as pessoas que continuavam em frente ao armazém.
O deputado estadual Valdeir Batista, dono do armazém, não foi encontrado ontem pela Agência Folha em sua casa, nem na Assembléia Legislativa, em Recife.