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ANÁLISE
"Foi feito tudo? Não", diz o chefe da República
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso até que tentou negar -"não quero utilizar esse
encontro para fazer pré-campanha"-, mas a entrevista de ontem mais parecia um discurso de
candidato.
Em sua exposição inicial, FHC
procurou passar a imagem de
um presidente sensibilizado com
a situação da seca no Nordeste.
"Não quero deixar de me referir
a uma questão que toca o coração dos brasileiros", disse.
Mais à frente, afirmou: "Eu fui
lá... O cinzento da seca, as árvores retorcidas... É bastante desesperador, dilacerante mesmo". E
prometeu: "Não vai morrer ninguém de fome aqui (no Nordeste)".
Não por acaso, FHC estava
sendo criticado por seus aliados
por se mostrar um presidente insensível, com uma visão sociológica dos problemas brasileiros.
Isso estaria provocando perda de
votos.
FHC procurou dividir com os
governadores e prefeitos o ônus
político pelo combate à seca.
"Os governadores, os prefeitos
têm de organizar recrutamentos,
têm de demonstrar que também
estão contribuindo", disse.
O presidente está irritado principalmente com a falta de ação
de alguns governadores no combate aos saques. Por questões
eleitorais, eles estariam evitando
tomar medidas impopulares. "É
preciso que os governadores
atuem."
FHC aproveitou a entrevista
também para fazer propaganda
de seu governo.
Ao falar sobre os feitos de seu
governo na área de educação,
disse: "Querem que eu dê alguns dados? Eu dou já", passando a citar as principais medidas
na área. Fez o mesmo ao falar de
saúde. "Tínhamos 28 mil agentes comunitários. Temos 50 mil e
vamos ampliar."
FHC evitou, porém, entrar em
detalhes sobre agricultura, emprego e segurança, setores nos
quais o governo não teve um desempenho tão bom. "Querem
que fale dos outros? Da agricultura? Não quero cansá-los, porque aí vira propaganda", esquivou-se.
Depois, reconheceu que não
cumpriu todas as promessas de
campanha. "Foi feito tudo?
Não." Em seguida, acrescentou:
"Mas o rumo foi mudado, mudamos o rumo do Brasil", disse,
em tom eleitoral.
Durante a entrevista, o presidente não deixou passar uma
oportunidade para dar uma estocada no seu principal adversário, o pré-candidato do PT, Luiz
Inácio Lula da Silva.
Ao repetir que ainda não sabe
se será candidato, FHC comentou sobre Lula: "Eu vejo que ele
tem uma dificuldadezinha lá",
uma referência aos problemas
enfrentados com o PT do Rio de
Janeiro, que não queria aliança
com o PDT de Leonel Brizola.
FHC encerrou a entrevista no
mesmo tom de campanha que
marcou sua exposição inicial.
"Eu faço um apelo, expliquem
as coisas. Não usem subterfúgio.
Expliquem que é preciso mobilização para acabar com a pobreza."
Só faltaram os aplausos ao presidente-candidato, que FHC teima em dizer que ainda não existe.
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