São Paulo, quinta, 28 de maio de 1998

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FHC E A SECA

Leia a seguir declarações do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a seca:

"Eu fui ministro da Fazenda, como os srs. sabem, as sras. também, e houve uma seca muito forte em 93. Eu fui lá. Eu fui no interior do Ceará, eu fui no interior do Rio Grande do Norte e aquilo me comoveu profundamente. Me comoveu profundamente porque primeiro a reação, a paisagem física, que é uma paisagem de tristeza Äeu ia dizer lunar, mas não é lunar. Na lua há um contraste Äsuponho, nunca estive láÄ, mas pelas fotografias de claro e escuro. Existe uma certa beleza. O cinzento da seca, as árvores retorcidas, quando se vê os açudes vazios, não é essa a reação. A reação é de constrangimento, é de perceber que, realmente, há uma adversidade quando se vê a população, sobretudo, como eu vi."

"Nós, naquela época, chamávamos de frente de trabalho, eu creio, Nós incentivamos as frentes de trabalho. Aí é bastante desesperador, dilacerante mesmo, porque se vê que são pessoas que se confundem com aquela paisagem, já alcançadas pela seca e já naturalmente herdeiras de subnutrição, herdeiras de uma espécie de atrofia que vem de séculos de pobreza."

"Este ano já destinamos R$ 400 milhões para essas obras (contra a seca). E essas obras estão em marcha. Sessenta por cento delas terminadas. Eu posso lhes dizer que não há Estado do Nordeste onde não haja uma obra importante do governo federal."

"(...) O nordestino quer dignidade, eu ouvi isso lá, eu conheço a regiãoÄ o nordestino quer respeito a ele. Ele aceita comida porque precisa, mas o que ele quer é trabalho. Então, na medida em que houver mais trabalho, é natural também que diminua a demanda por cestas básicas. Então, estou lhes avisando que, por favor, se daqui a dois meses diminuir a quantidade de cesta básica não tomem isso como descaso, tomem como avanço, se for de fato pela substituição através de renda. Esse é o nosso objetivo de governo."

"Não é crédito não. No caso das frentes produtivas, é transferência direta de recursos. Crédito eu abri também: R$ 450 milhões no Banco do Nordeste estão lá postos à disposição para que haja financiamento dos micros e pequenos produtores das zonas atingidas pela seca."

"(...) A seca vai se prolongar, ela está apenas começando. Não há atraso nessas organizações, tampouco porque elas estão apenas começando (...) Mas eu acho que nós estamos plenamente em condições de quando a seca, realmente, chegar àqueles aspectos mais generalizados de dramaticidade Äque é julho, agostoÄ de o Brasil ter condições de dizer: não vai morrer ninguém de fome aqui. Não haverá brasileiro do Nordeste alcançado por esse flagelo que não vai ter a solidariedade do povo do Brasil e do governo do Brasil."

"Ouvi muitas observações por que o governo não agiu. Eu quero lhes dizer com sinceridade o seguinte: no mês de outubro do ano passado, eu estive reunido com especialistas em matéria de Meteorologia, por causa do El Niño. (...) Pois bem, em outubro havia a previsão de problemas com o El Niño. (...) E havia uma certa probabilidade de seca no Nordeste. Em dezembro, os dados eram outros. A probabilidade diminuiu, provavelmente a seca seria uma seca limitada em microrregiões. Só em março, já na seca, é que foram refeitos os cálculos. É claro que tem um relatório em outubro que diz uma coisa, mas tem outro em dezembro que diz outra. Então, não houve descaso nessa matéria. Houve, talvez, ajustamento de dados e nesse ajustamento não houve uma possibilidade de imaginar que viesse com força a seca."



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