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"Eu também errei", diz presidente, reconhecendo que algumas das metas de campanha não foram alcançadas
FHC admite não cumprir promessas
RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem
que não conseguiu cumprir todas
as metas da campanha de 1994 e
que "o governo errou em uma
porção de coisas". "Eu também
errei. Ninguém é infalível."
Ao comentar as promessas feitas
em sua campanha presidencial
-a marca era a mão direita espalmada, mostrando os cinco dedos-, FHC ignorou três itens: o
desemprego, a falta de segurança e
os problemas da agricultura.
Mencionou apenas as realizações nas áreas de saúde e educação. Em seguida, perguntou: "Foi
feito tudo?". Ele mesmo respondeu que não, "porque não dá para
fazer tudo". Acrescentou, porém,
que "o rumo foi mudado".
Segundo ele, houve "mudanças
de rumo" em relação a vários projetos programados. Disse que seu
governo foi o que mais assentou
sem-terra e o que mais delimitou
terras indígenas. "Eu demarquei
mais terras indígenas do que qualquer presidente do Brasil."
Para FHC, "falta informar" sobre as realizações. Mas negou que
haja problemas de comunicação
entre ele e a imprensa. "A batalha
não é na mídia. A batalha é na vida", disse. "Não tenho obsessão
antimídia. Não estou dizendo que
a mídia faz isso ou aquilo."
FHC disse ainda que os erros
"não são só da comunicação".
"Há erro", afirmou. "Não é meu
estilo tapar o sol com a peneira."
FHC disse que não comenta resultados de pesquisas. "Isso é
guerra psicológica. Como eu não
estou em campanha, não faço
guerra psicológica." Repetindo
uma das frases que mais cita em
discursos, disse: "o importante é
não perder o rumo, a confiança".
O presidente afirmou que não é
por má-fé que erra. "Eu quando
erro, erro porque não sei ou porque minha convicção estava errada", disse. "Não é por má-fé. Não
é por não querer bem ao Brasil."
"Praticamente tudo"
FHC citou, detalhadamente,
parte de suas ações nas áreas de
saúde e de educação. Segundo ele,
na educação foi feito "praticamente tudo" o que foi proposto na
campanha presidencial -exceto
quanto ao ensino superior.
Ele mencionou os avanços no
ensino primário (96% das crianças
nas escolas, segundo o governo), o
aumento na distribuição da merenda escolar, as mudanças nos
currículos escolares, o provão e o
programa de valorização do professor. "É só olhar", afirmou.
Ao falar de saúde, negou que o
governo queira criar um novo imposto para financiar a área -já
existe a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), lembrou.
Segundo FHC, na saúde "ainda
não foi feito tudo porque houve
mudanças de rumos". Mas ressaltou aumentou o número de agentes comunitários de saúde -de 28
mil passaram para 50 mil- e criticou a falta de entrosamento dos
Estados e municípios com a União
no combate à dengue.
Reformas
FHC voltou a reclamar da demora na aprovação das reformas. Segundo ele, se a da Previdência tivesse sido aprovada, haveria R$ 4
bilhões a menos no déficit em 98.
Depois, afirmou estar confiante
que terá apoio para aprovar as demais reformas. "Vamos continuar nesse rumo, fazer mais reformas, porque senão é dar para trás.
Dar para trás significa inflação."
FHC também criticou o Congresso por não "encontrar eco" à
simpatia que declara pela proposta de realizar uma constituinte
restrita, que analisaria as reformas
política e tributária.
Pela proposta, do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), é necessário
que haja um plebiscito popular, na
mesma data das eleições, para saber se a população aprova as reformas tributária e política.
Por causa da necessidade de plebiscito, FHC disse que é "pouco
provável" que a constituinte restrita promova avanços nas reformas tributária e política.
FHC comparou a aprovação das
reformas com uma estratégia de
guerra. "Perde uma guerra, ganha
outra, perde uma reforma, cede
um ponto, avança no outro."
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