São Paulo, quinta, 28 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


"Eu também errei", diz presidente, reconhecendo que algumas das metas de campanha não foram alcançadas
FHC admite não cumprir promessas

RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem que não conseguiu cumprir todas as metas da campanha de 1994 e que "o governo errou em uma porção de coisas". "Eu também errei. Ninguém é infalível."
Ao comentar as promessas feitas em sua campanha presidencial -a marca era a mão direita espalmada, mostrando os cinco dedos-, FHC ignorou três itens: o desemprego, a falta de segurança e os problemas da agricultura.
Mencionou apenas as realizações nas áreas de saúde e educação. Em seguida, perguntou: "Foi feito tudo?". Ele mesmo respondeu que não, "porque não dá para fazer tudo". Acrescentou, porém, que "o rumo foi mudado".
Segundo ele, houve "mudanças de rumo" em relação a vários projetos programados. Disse que seu governo foi o que mais assentou sem-terra e o que mais delimitou terras indígenas. "Eu demarquei mais terras indígenas do que qualquer presidente do Brasil."
Para FHC, "falta informar" sobre as realizações. Mas negou que haja problemas de comunicação entre ele e a imprensa. "A batalha não é na mídia. A batalha é na vida", disse. "Não tenho obsessão antimídia. Não estou dizendo que a mídia faz isso ou aquilo."
FHC disse ainda que os erros "não são só da comunicação". "Há erro", afirmou. "Não é meu estilo tapar o sol com a peneira."
FHC disse que não comenta resultados de pesquisas. "Isso é guerra psicológica. Como eu não estou em campanha, não faço guerra psicológica." Repetindo uma das frases que mais cita em discursos, disse: "o importante é não perder o rumo, a confiança".
O presidente afirmou que não é por má-fé que erra. "Eu quando erro, erro porque não sei ou porque minha convicção estava errada", disse. "Não é por má-fé. Não é por não querer bem ao Brasil."

"Praticamente tudo"
FHC citou, detalhadamente, parte de suas ações nas áreas de saúde e de educação. Segundo ele, na educação foi feito "praticamente tudo" o que foi proposto na campanha presidencial -exceto quanto ao ensino superior.
Ele mencionou os avanços no ensino primário (96% das crianças nas escolas, segundo o governo), o aumento na distribuição da merenda escolar, as mudanças nos currículos escolares, o provão e o programa de valorização do professor. "É só olhar", afirmou.
Ao falar de saúde, negou que o governo queira criar um novo imposto para financiar a área -já existe a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), lembrou.
Segundo FHC, na saúde "ainda não foi feito tudo porque houve mudanças de rumos". Mas ressaltou aumentou o número de agentes comunitários de saúde -de 28 mil passaram para 50 mil- e criticou a falta de entrosamento dos Estados e municípios com a União no combate à dengue.

Reformas
FHC voltou a reclamar da demora na aprovação das reformas. Segundo ele, se a da Previdência tivesse sido aprovada, haveria R$ 4 bilhões a menos no déficit em 98.
Depois, afirmou estar confiante que terá apoio para aprovar as demais reformas. "Vamos continuar nesse rumo, fazer mais reformas, porque senão é dar para trás. Dar para trás significa inflação."
FHC também criticou o Congresso por não "encontrar eco" à simpatia que declara pela proposta de realizar uma constituinte restrita, que analisaria as reformas política e tributária.
Pela proposta, do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), é necessário que haja um plebiscito popular, na mesma data das eleições, para saber se a população aprova as reformas tributária e política.
Por causa da necessidade de plebiscito, FHC disse que é "pouco provável" que a constituinte restrita promova avanços nas reformas tributária e política.
FHC comparou a aprovação das reformas com uma estratégia de guerra. "Perde uma guerra, ganha outra, perde uma reforma, cede um ponto, avança no outro."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.