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SISTEMA FINANCEIRO
Instituições não poderão investir mais do que 60% de seu patrimônio líquido em operações cambiais
CMN limita risco de bancos com câmbio
da Sucursal de Brasília
O CMN (Conselho Monetário
Nacional) aprovou ontem uma
norma que limita os riscos que
as instituições
financeiras poderão correr no mercado cambial.
A partir de agora, os bancos só
podem assumir riscos correspondentes a 60% de seu patrimônio líquido (dinheiro investido na instituição pelos seus acionistas).
Antes, não havia limite. A falta de
norma permitiu que o Banco Marka assumisse, em janeiro passado,
risco equivalente a 20 vezes seu patrimônio líquido.
Segundo o diretor de Política
Monetária do Banco Central, Luiz
Fernando Figueiredo, a regra proíbe os bancos de correr riscos cambiais acima do que pode ser coberto pelo capital dos banqueiros.
O Marka assumiu US$ 1,265 bilhão em riscos cambiais -volume
muito além do capital investido no
banco por seu dono, Salvatore
Cacciola. O BC gastou R$ 895,620
milhões para socorrê-lo.
Se a regra estivesse em vigor em
janeiro, o Marka só poderia ter assumido uma posição de US$
33,138 milhões -ou seja, 60% de
seu patrimônio, que em dezembro
de 1998 estava em R$ 66,905 milhões (ou US$ 55,229, pela cotação
do dólar de 12 de janeiro).
Nessa hipótese, a perda do Marka teria sido de R$ 23,462 milhões,
podendo ser arcada por Cacciola.
O diretor de Fiscalização do BC,
Luiz Carlos Alvarez, disse que,
com a nova regra, o patrimônio líquido dos bancos será capaz de cobrir prejuízos com variações cambiais de até 250% (a desvalorização
deste ano teve um pico de 78,63%).
O CMN baixou uma segunda
norma que inclui os limites de risco cambial nas regras da Basiléia
(acordo internacional que visa a
dar maior solidez ao sistema financeiro). "Se um banco ficar abaixo
do limite da Basiléia, está sujeito a
liquidações", disse Alvarez.
As regras da Basiléia fixam limite
mínimo de capital para suportar os
riscos em geral assumidos pelos
bancos. Para cada R$ 1 em operações arriscadas, os bancos têm de
possuir R$ 0,11 em capital para cobrir eventuais perdas.
No caso das operações cambiais,
o banco deverá ter R$ 0,50 em capital para cada R$ 1 em risco. Essa regra só se aplica sobre a parcela de
risco cambial superior a 20% do
patrimônio líquido do banco.
Figueiredo disse que, até o final
do ano, serão adotadas medidas
adicionais para limitar riscos dos
mercado de juros e de ações.
Como funciona
Os riscos dos bancos no mercado
cambial podem ser divididos em
dois tipos: ativos e passivos.
Risco ativo é quando o banco
tem moeda estrangeira em carteira
ou quando tem créditos em moeda
estrangeira a receber. Existe risco
porque, se o real se valoriza, a moeda estrangeira de sua carteira perde valor, e o banco recebe menos
reais de seus credores.
O risco passivo existe quando o
banco tem dívidas ou outros tipos
de obrigação com terceiros em dólares. Há risco porque, se a moeda
nacional se desvaloriza, o banco
tem que pagar mais reais para saldar suas obrigações com terceiros.
A regra criada pelo governo limita o risco cambial líquido. Ou seja,
a diferença entre os riscos ativos e
os riscos passivos, já que os primeiros anulam os segundos.
Outra regra aprovada pelo CMN
aumenta entre 60% e 87% o patrimônio líquido mínimo exigido para operação de bancos. Os bancos
comerciais terão de ter capital mínimo de R$ 17,5 milhões, contra R$
9,346 milhões na regra antiga.
Com essa regra, 17% dos bancos
comerciais e 38% dos bancos múltiplos e de investimento terão que
aumentar seu capital em dois anos.
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