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CELSO PINTO
Quanto pode subir o dólar?
O nervosismo no mercado diminuiu, mas deixou dúvidas.
Se houver mais turbulência
externa e a captação ficar
mais cara e difícil, como nas
últimas semanas, até onde pode subir o câmbio?
Regimes de câmbio flutuante, como se sabe, geram muito
maior volatilidade. Mudanças
de humores se transmitem rapidamente para as cotações do
dólar. Por definição, gera mais
sustos e força respostas mais
ágeis.
Antes que alguém fique com
saudade do regime cambial
anterior, é bom lembrar que
ele exigia juros estratosféricos
para responder a crises. No final, nem mesmo esses juros
conseguiram segurar o câmbio, o ataque especulativo se
intensificou e levou a uma
ruptura traumática.
Com o câmbio flutuando, se
o mercado reduzir o fluxo de
dólares, ou se ficar convencido
de que ele será insuficiente, o
câmbio tende a subir. Em algum ponto ele acabará gerando a correção de contas externas necessária para viabilizar
uma situação de maior equilíbrio.
É importante saber, portanto, até que ponto uma crise externa, puxada, por exemplo,
pela Argentina, ou por uma
correção da Bolsa de Nova
York, poderá mudar fortemente as expectativas e gerar
um salto na cotação do dólar.
Em outros termos, a chave é
saber qual a vulnerabilidade
externa do país a novas crises.
Do ponto de vista do tamanho do buraco externo (a conta corrente), ela ainda é muito
grande. O governo estima em
US$ 20 bilhões o déficit em
conta corrente este ano; bancos calculam em até US$ 25 bilhões (caso do Citi).
As chances de o déficit ser
menor são mínimas, porque
algumas contas de serviço (juros, lucros e dividendos) são
rígidas e porque a balança comercial continua decepcionando. Do lado positivo, contudo, estão as estimativas,
unânimes, de que boa parte do
déficit em conta corrente, ou
todo ele, poderá ser financiada
pela entrada de investimentos
diretos este ano. Quer dizer,
com um dinheiro externo mais
estável.
Resta, contudo, o problema
dos vencimentos de empréstimos, linhas de crédito e bônus
este ano. Se não forem rolados,
serão uma necessidade a mais.
Em maio e junho, o governo
ainda pode usar muitas reservas para cobrir eventuais não
rolagens. O acordo com o FMI
prevê o gasto de US$ 1,5 bilhão, mais 25%, por mês, ou
seja, US$ 1,9 bilhão. Além disso, o Brasil captou US$ 2 bilhões em "cash" com seu bônus
global e US$ 1 bilhão do Banco
Mundial.
O memorando técnico com o
FMI é meio ambíguo sobre o
uso desse dinheiro. Se puder
usar, são US$ 4,9 bilhões por
mês; se não puder, é US$ 1,9 bilhão. Em qualquer hipótese é
uma margem razoável, que
deixa o mercado mais tranquilo.
Outro ponto importante é
que as necessidades de rolagem vão cair, nos próximos
meses. As amortizações totais
de empréstimos e bônus do setor privado, nas contas de um
banco de investimentos, somaram US$ 12,3 bilhões no primeiro trimestre. No segundo
trimestre, caem para metade,
US$ 6,04 bilhões. No terceiro
trimestre caem ainda mais,
para US$ 3,4 bilhões, e no
quarto para US$ 2,9 bilhões.
No caso dos bônus, que são
bastante afetados por crises na
região, como a da Argentina, a
queda é muito expressiva. As
amortizações privadas cairão
de US$ 7,2 bilhões no primeiro
trimestre para US$ 3,6 bilhões
no segundo, US$ 1,2 bilhão no
terceiro e US$ 960 milhões no
quarto.
A rolagem de empréstimos
do setor privado chegou a US$
5,8 bilhões em fevereiro. Caiu
para US$ 4,6 bilhões em março, US$ 1,6 bilhão em abril,
US$ 1,4 bilhão em maio. Em
junho, sobe para US$ 3 bilhões, mas, daí até dezembro,
fica entre US$ 900 milhões e
US$ 1,1 bilhão por mês.
A conclusão é que a pressão
das contas externas e das rolagens tende a diminuir, especialmente no segundo semestre. Está longe, contudo, de
deixar o país imune a agitações no mercado externo. Especialmente se, por razões políticas ou de mercado, ficar
claro que a privatização será
muito menor, reduzindo, também, o ingresso de investimentos diretos.
De todo modo, é uma situação bem mais confortável do
que à do final do ano passado
e início deste ano, e com chances de melhorar.
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