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RACISMO
Entidade quer ir à Justiça contra Eliseu Padilha, dos Transportes, por declaração considerada ofensiva aos negros
Ministro pode ser processado por racismo
OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local
O ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, deve ser processado
por ter declarado, anteontem, que
Pelé e asfalto são "dois pretos" admirados no Brasil.
Na próxima terça-feira, o secretário-executivo do Centro de Articulação das Populações Marginalizadas (CEAPM), Ivanir dos Santos, 42, entrará com uma representação no Ministério Público
Federal pedindo o ingresso de
duas ações contra Padilha.
"A primeira ação será criminal,
com base na lei 7.716, que tipifica o
crime de racismo. A segunda será
uma ação civil pública por dano à
coletividade", afirmou Santos.
A declaração de Padilha, publicada ontem pela Folha, foi feita
durante seminário internacional
sobre hidrovia em Araçatuba.
"Eu ontem ouvi uma expressão
interessante: no Brasil, existem
dois pretos que são admirados por
todo o Brasil. Um é o Pelé, que é o
nosso rei de sempre. O outro é o rei
asfalto, todo mundo gosta do asfalto. É o preto que todo mundo
gosta", afirmou o ministro.
"A declaração é muito ruim. Na
escola, quando alguém queria me
ofender, dizia que eu era 'picolé de
asfalto"', disse Ivanir dos Santos.
No início deste ano, o CEAPM pediu o ingresso de uma ação contra
o cantor Tiririca pela letra da música "Veja o Cabelo Dela", que a
entidade considerou racista.
A reação à declaração de Padilha
não se limitará às duas ações propostas pelo CEAPM. Na próxima
semana, o senador negro Abdias
Nascimento (PDT-RJ), 84, pretende discursar no plenário do Senado e pedirá a exoneração do ministro dos Transportes.
"Esse ministro mostra que não
está afinado com a política do presidente Fernando Henrique Cardoso, que, na campanha eleitoral,
disse que tinha um 'pé na cozinha'
e, depois, criou um grupo interministerial de trabalho para combater o racismo no Brasil", disse o
senador. "O presidente deveria
demiti-lo imediatamente", afirmou Nascimento, que ocupa a vaga aberta com a morte do antropólogo Darcy Ribeiro.
Para o economista negro Hélio
Santos, 51, coordenador do Grupo
de Trabalho Interministerial para
Valorização da População Negra,
criado por FHC, a frase reflete "o
racismo velado introjetado na sociedade brasileira". "Não é o ministro Padilha que é racista. É a sociedade como um todo", disse.
Também a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), seção São Paulo, poderá se manifestar. A advogada Maria da Penha Guimarães,
50, coordenadora da subcomissão
do negro da entidade, iria propor a
discussão do assunto, em reunião
marcada para ontem à noite. "É
uma frase racista. Ele comparou o
ser humano ao asfalto, onde todos
pisam. Todo mundo pisa no negro", afirmou Guimarães.
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