São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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MINISTÉRIOS
Matarazzo é cotado para o Desenvolvimento, no lugar de Lafer
FHC procura nomes para fazer reforma em julho

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

Se já tivesse nomes disponíveis e a certeza de que não aparecerá nenhum escândalo em julho, o presidente Fernando Henrique Cardoso daria como certa uma reforma ministerial no mês que vem.
O problema é que os nomes ainda não estão disponíveis, o presidente não sabe o que fazer com os eventuais ministros que podem perder seus cargos e não há garantia de que julho seja, como deseja o governo, um mês sem atropelos e escândalos na área política.
Ainda assim, segundo a Folha apurou, o presidente está convencido de que precisa de alguns novos ministros para tentar reverter para o governo a melhora, ainda que parcial, em alguns indicadores econômicos.
Quanto a uma calmaria na área política, a esperança é que o recesso parlamentar em julho seja suficiente para manter um clima de paz entre os principais partidos aliados. No governo FHC, será a primeira vez em que haverá recesso em julho.
Segundo a Folha apurou com interlocutores próximos ao presidente Fernando Henrique Cardoso, é o seguinte o que se fala dentro do governo sobre reforma ministerial em gestação:

1)Andrea Matarazzo -Atual secretário de Comunicação, é considerado um nome possível para substituir Celso Lafer no Ministério do Desenvolvimento.
Um nome sempre forte para o Desenvolvimento é o de Paulo Cunha, empresário do Grupo Ultra (do setor petroquímico). Mas Cunha fez duras críticas ao governo nesta semana e esfriou o entusiasmo de FHC.
Matarazzo, que é tucano, quase foi ministro das Comunicações, mas teve de ceder o lugar para Pimenta da Veiga no final do ano passado. Agora, é considerado por FHC um reserva de luxo, pronto para entrar no time principal.
Outro nome tucano cotado para o Ministério do Desenvolvimento é o deputado federal Alberto Goldman (PSDB-SP), que no passado foi do PMDB.
2)Pimenta da Veiga - Apesar da antiga amizade que tem com o ministro das Comunicações, FHC considera o desempenho de Pimenta da Veiga ruim. Suas declarações como coordenador político quase nunca ajudam.
No cargo de ministro das Comunicações, também não satisfaz o Planalto. Nomeou Egydio Bianchi para presidir os Correios, uma pessoa que era de confiança de Sérgio Motta (morto em abril do ano passado), mas teria escolhido uma diretoria fraca, na opinião de conselheiros de FHC.
Por tudo isso, Pimenta deve deixar os cargos que ocupa e voltar para a Câmara, onde é deputado federal eleito por Minas Gerais. O problema é como fazer isso sem humilhar o atual ministro.
O ideal para FHC seria colocar Pimenta num cargo de líder -pois a opinião do Planalto é que os líderes governistas têm desempenho apenas mediano. Uma possibilidade é a liderança do governo na Câmara, hoje ocupada por Arnaldo Madeira (PSDB-SP). Madeira é considerado discreto demais para a função.
O único líder partidário governista que tem agradado ao Planalto é o deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), na liderança do governo no Congresso. Virgílio era tido como uma incógnita antes de sua indicação em maio. Mas seu desempenho satisfaz FHC.
3)Celso Lafer - É certa a sua saída do Ministério do Desenvolvimento. Deve voltar a ser embaixador. Poderia até ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores, mas isso dependeria de algum arranjo para satisfazer o atual chanceler, Luiz Felipe Lampreia.
FHC gosta muito de Lampreia e deseja dar a ele um bom cargo, possivelmente na presidência de algum organismo internacional. Caso isso não seja possível, Lampreia permanece no Itamaraty. E Celso Lafer teria de se contentar com alguma embaixada.
4)Clóvis Carvalho - Há várias possibilidades em estudo para resolver a Casa Civil. FHC ainda não formou um juízo definitivo a respeito do melhor caminho.
A possibilidade mais radical seria simplesmente demitir Carvalho. Também é a hipótese mais remota, pois o presidente tem apreço pessoal pelo ministro.
A segunda saída seria colocar Carvalho em algum outro ministério. Mas o mais provável é que ele continue no Planalto, tratando de toda a burocracia ligada ao dia-a-dia da Presidência, como assinatura de documentos e funcionamento operacional do palácio. Perderia, porém, o poder que hoje mantém sobre diversas secretarias de Estado. A parte política da Casa Civil seria entregue a outra pessoa.
O problema de FHC é encontrar essa pessoa capaz de receber atribuições políticas dentro da Casa Civil. Voltou-se a falar em Brasília, recentemente, no nome de José Richa, tucano e ex-governador do Paraná. Mas Richa não tem interesse.
Outro que poderia voltar é Euclides Scalco, coordenador da campanha da reeleição de FHC. Scalco só não está no governo porque FHC ofereceu a ele, no final do ano passado, um posto hierarquicamente subordinado a Clóvis Carvalho. Com a perda de poder de Carvalho, ficaria viabilizada a entrada de Scalco no governo.
5)Renan Calheiros - Vários aliados do governo continuam exigindo a saída do ministro da Justiça. FHC também ficou irritado com Calheiros por causa do episódio da nomeação do diretor-geral da PF. O problema do presidente é que o cargo é do PMDB, que teria dificuldades para encontrar substituto.
O PSDB já tem um nome pronto para a Justiça: o deputado federal Aloysio Nunes Ferreira (SP), atual relator da reforma do Judiciário.
Mas a indicação de Nunes Ferreira só seria possível se FHC desse ao PMDB um outro ministério, para compensar a perda da pasta da Justiça.
6)Francisco Turra - por ser de um partido enfraquecido, o PPB, está prestes a perder a cadeira ocupada no Ministério da Agricultura. O partido receberia uma posição menos importante no governo.
Com a saída de Turra, o Ministério da Agricultura pode ser usado no remanejamento que FHC fará no primeiro escalão.
Está descartada a ida do deputado federal Delfim Netto (PPB-SP) para a pasta da Agricultura. Além de ele ser do PPB, um partido que está definhando (tinha 77 deputados há um ano e hoje só tem 50), há outros dois motivos. O primeiro é que FHC nunca o convidou formalmente nem teria coragem de fazê-lo, pois Delfim participou ativamente do governo militar. O segundo motivo é que Delfim não está interessado em algo menor que o Ministério do Desenvolvimento.
Se a pasta do Desenvolvimento fosse entregue a Delfim, na opinião de FHC, segundo a Folha apurou, haveria atritos indesejáveis entre o pepebista e Pedro Malan (Fazenda). Como FHC não quer mexer em Malan agora, está descartada a entrada de Delfim no governo. Outro que está firme em seu posto é o ministro do Planejamento, Pedro Parente.


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