São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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"Polêmicas são políticas e não correspondem à realidade", afirma no Rio presidente da França, que aponta um déficit de US$ 2 bilhões na balança agrícola de seu país com Brasil e Argentina

Protecionismo europeu é lenda, diz Chirac

do enviado especial ao Rio

O presidente da França, Jacques Chirac, disse ontem que "o protecionismo europeu é uma lenda".
A declaração foi feita a jornalistas após encontro de uma hora que teve com seu colega brasileiro, Fernando Henrique Cardoso.
Como argumento, disse que os franceses têm déficit de US$ 2 bilhões na balança agrícola com Brasil e Argentina. "Vocês chamam isso de protecionismo? Não se deixem impressionar por polêmicas que são políticas e não correspondem à realidade", disse Chirac.
A resistência da França ao início das negociações entre União Européia e Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) mais Chile quase condenaram a cúpula do Rio ao fracasso antecipado.
Chirac vetou, em reunião com seus colegas europeus em Colônia (Alemanha), em 4 de junho, a autorização para o anúncio das conversações, previsto para hoje.
Pressionado por Espanha, Portugal e latino-americanos, voltou atrás. Mas a França, que dá grandes subsídios a seus produtores agrícolas, continuou a restringir decisões assertivas sobre o futuro das negociações com o Mercosul.
Por exemplo, em relação à fixação de uma data-limite para elas. O Mercosul queria estabelecer 2005 como prazo final, a fim de obter o máximo poder de barganha tanto com a União Européia quanto com os EUA, com quem negocia a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que tem como alvo estar pronta em 2005.
A FHC, Chirac disse que "houve agitação sobre as posições da França", mas afirmou que "a via está traçada e vamos segui-la".
O brasileiro deu boas-vindas ao francês lembrando que a idéia da cúpula iniciada hoje foi lançada pelos dois, em Brasília, em 1997.
Eles conversaram sobre diversos temas da agenda internacional, como a Guerra dos Bálcãs. Chirac explicou o apoio francês à ação militar contra a Iugoslávia e FHC disse que a Organização das Nações Unidas (ONU) deve ter primazia nesse tipo de assunto.
Chirac manifestou satisfação pelo fato de o vôo diário entre Caiena (Guiana Francesa) e Macapá e Belém (na Amazônia brasileira) estar tendo altos índices de ocupação, como reflexo do crescente intercâmbio entre esse território francês na América do Sul e o Brasil.
Os dois falaram sobre a situação econômica brasileira. Chirac afirmou que a percepção internacional é de que ela melhorou muito.
FHC deu razão ao colega e lembrou a ele que o Brasil está tendo uma safra recorde este ano, o que motivou Chirac a se referir de novo ao déficit de seu país na balança agrícola com o Brasil.
Questões sociais também ocuparam a agenda de Chirac e FHC. O brasileiro disse que 96% das crianças em idade escolar no país estão estudando. Ambos reafirmaram que, na cúpula, os problemas sociais devem ter a mesma prioridade que os econômicos. (CELS)


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