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Desaprovação a lei norte-americana que pune países que façam
certos investimentos na ilha é retirada do texto da Declaração do
Rio durante reunião de chanceleres; Cuba discorda da exclusão
Documento não condenará lei anti-Cuba
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial ao Rio
Uma condenação explícita a uma
lei norte-americana que permite à
Justiça dos EUA punir empresas e
cidadãos de outros países que façam certos investimentos em Cuba
foi retirada ontem do texto da Declaração do Rio.
A versão final vai ser entregue
para o exame dos 48 chefes de Estado e de governo que abrem hoje
a primeira reunião de cúpula América Latina e Caribe e União Européia, no Museu de Arte Moderna,
no centro do Rio.
O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Felipe Pérez Roque,
34, que assumiu o cargo há um
mês, discordou da exclusão da referência à Lei Helms-Burton na
reunião de chanceleres que aprovou o texto.
É possível que o presidente cubano, Fidel Castro, volte a tratar do
assunto nas três plenárias dos líderes marcadas para hoje. Os chefes
de Estado e de governo têm autonomia para alterar textos que lhes
são encaminhados pelos chanceleres, embora isso não seja prática
muito comum.
Pérez Roque argumentou que
tanto a América Latina quanto a
União Européia já condenaram a
Helms-Burton; por isso, não haveria razão para omiti-la na declaração.
Mas, em maio de 1998, o governo
dos EUA e a Comissão Européia
chegaram a um acordo provisório
sobre o que fazer com a lei.
Por isso, os europeus preferiram
não mexer com o assunto em uma
declaração conjunta com os vizinhos de hemisfério dos EUA.
A Helms-Burton foi sancionada
pelo presidente Bill Clinton em 12
de maio de 1996, após a aviação cubana ter afundado um barco de entidade anticastrista com cidadãos
norte-americanos a bordo.
Clinton se opunha ao projeto de
lei, apresentado pelo senador arquiconservador Jesse Helms e pelo
deputado de direita Dan Burton.
Mas, em campanha pela reeleição, o presidente resolveu endossá-la para não perder (como acontecera em 1992) nos importantes
Estados de Flórida e Nova Jersey,
onde a comunidade cubano-americana exerce grande influência.
A Helms-Burton, além de ampliar o embargo econômico que os
EUA impunham a Cuba desde
1962 e aplicar novas sanções contra aquele país, introduziu a possibilidade de punições extraterritoriais.
Cidadãos norte-americanos naturalizados ou filhos de cubanos
que tenham sido proprietários de
terrenos ou negócios expropriados
pelo regime de Fidel Castro a partir
da Revolução de 1959 ganharam o
direito de processar nos EUA empresas estrangeiras que utilizem
suas antigas propriedades.
Além disso, a lei determina que
sejam negados vistos de entrada
nos EUA aos dirigentes das empresas estrangeiras nessa situação.
Apenas uma empresa, a canadense Sherritt, da área de energia,
sofreu até agora as consequências
da Lei Helms-Burton. Clinton tem,
a cada seis meses, usado o direito
de suspender a aplicação dos capítulos mais polêmicos da lei.
A União Européia ameaçava denunciar os EUA na Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Mas recuou depois de Clinton ter
prometido que continuaria suspendendo a aplicação da lei.
Em troca, os europeus prometeram a Clinton que vão desestimular investimentos de suas empresas em terrenos ou negócios desapropriados em Cuba.
A versão final da Declaração do
Rio mantém a condenação genérica a "medidas unilaterais com efeitos extraterritoriais", sem citar nenhum exemplo específico.
A divergência de Cuba, a única
manifestada na reunião de chanceleres ontem, mostra como os EUA,
embora ausentes, são importantes
na cúpula do Rio.
A declaração tem 69 parágrafos e
é seguida de uma lista de prioridades de 48 parágrafos. É genérica,
como todos os documentos semelhantes. Cria um "mecanismo de
seguimento" para garantir que os
contatos entre os dois blocos regionais continuem a se aproximar.
Uma comissão com seis representantes da América Latina e Caribe e quatro da União Européia
será formada para encaminhar o
futuro dos contatos entre elas.
Além das três reuniões, os 48 líderes nacionais jantam juntos hoje
e almoçam amanhã. Os três co-presidentes da cúpula (Brasil, México e Alemanha) dão entrevista
coletiva amanhã à tarde para avaliar os seus resultados.
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