São Paulo, terça-feira, 28 de agosto de 2001

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JANIO DE FREITAS

Trivial à brasileira

Ou por falta de melhor a dizer, ou para não faltar com mais algum deboche dirigido às reivindicações dos funcionários há sete anos sem correção de vencimentos, Fernando Henrique Cardoso deu para reclamar do que chama de seu "salário de doutor".
A lembrança é boa e oportuna. Em uns reacende e, em outros, há de suscitar uma curiosidade que, de preferência, não deveria existir, mas, se surgiu, não foi sem motivo.
Pois é isso: já que lembra o seu "salário de doutor", que aliás é uma senhora aposentadoria para quem lecionou tão poucos anos, e beneficiada por certa marotagem de aulas noturnas, o douto presidente poderia responder à curiosidade de saber-se como foi feito o seu patrimônio imobiliário.
Por herança, é notório que não foi. Antes que o mesmo Fernando Henrique se tornasse presidente, vencimentos de professor universitário guardavam certa dignidade. Mas não permitiam, ainda quando engrossados pela contribuição matrimonial, manter família com filhos e adquirir imóveis. Os professores Fernando Henrique e Ruth Cardoso não saíram do possível.
Da vida de professor passou a de político no Congresso. Os senadores em geral são ricos, o que faz supor que as passagens precedentes, de muitos deles, por governos estaduais, têm uma espécie de mandinga para transformar tudo em dinheiro e bens. Seja como for, os vencimentos de deputados e de senadores são decentes, mas nem de longe dariam para investimento imobiliário.
É compreensível, portanto, que assim como Fernando Henrique não consegue conter os deboches, outros não contenham a curiosidade sobre a relação entre os seus "salários de doutor" e o patrimônio, inclusive ou sobretudo agrícola, com que chegou à Presidência.

Anti-social
Ainda está por ser esclarecida a necessidade dos pastores evangélicos de usar, projetados para fora de seus templos, alto-falantes dignos de trio elétrico baiano e baile funk carioca. Quando vários bairros já estavam ensurdecendo sob o ataque aos tímpanos e ao sono, deu-se o milagre: foi imposto o limite de 55 decibéis para os agressores sonoros.
O Rio está em guerra outra vez: a Câmara de Vereadores aprovou um projeto que restabelece os 80 decibéis, o que é o mesmo que liberar a agressão. O antimilagre resulta, como seria esperável, do projeto de um vereador-pastor. Mas que seja também projeto proveniente do PT, mesmo em se tratando do tresloucado PT fluminense é um excesso além do sonoro.

Indefesa
Eis como são duras as leis de proteção aos consumidores contra as extorsões e outras atividades semelhantes: mesmo que fosse aplicada, a multa para as indústrias que vêm ludibriando o consumidor, com redução do conteúdo das embalagens sem a redução correspondente dos preços, pode ficar em gaiatos R$ 212.
Pouco acima de um salário mínimo, para punir a burla que está rendendo incontáveis milhões.



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