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JANIO DE FREITAS
Trivial à brasileira
Ou por falta de melhor a
dizer, ou para não faltar
com mais algum deboche dirigido às reivindicações dos funcionários há sete anos sem correção
de vencimentos, Fernando Henrique Cardoso deu para reclamar do que chama de seu "salário de doutor".
A lembrança é boa e oportuna. Em uns reacende e, em outros, há de suscitar uma curiosidade que, de preferência, não
deveria existir, mas, se surgiu,
não foi sem motivo.
Pois é isso: já que lembra o seu
"salário de doutor", que aliás é
uma senhora aposentadoria para quem lecionou tão poucos
anos, e beneficiada por certa
marotagem de aulas noturnas,
o douto presidente poderia responder à curiosidade de saber-se como foi feito o seu patrimônio imobiliário.
Por herança, é notório que
não foi. Antes que o mesmo Fernando Henrique se tornasse
presidente, vencimentos de professor universitário guardavam
certa dignidade. Mas não permitiam, ainda quando engrossados pela contribuição matrimonial, manter família com filhos e adquirir imóveis. Os professores Fernando Henrique e
Ruth Cardoso não saíram do
possível.
Da vida de professor passou a
de político no Congresso. Os senadores em geral são ricos, o
que faz supor que as passagens
precedentes, de muitos deles,
por governos estaduais, têm
uma espécie de mandinga para
transformar tudo em dinheiro e
bens. Seja como for, os vencimentos de deputados e de senadores são decentes, mas nem de
longe dariam para investimento
imobiliário.
É compreensível, portanto,
que assim como Fernando Henrique não consegue conter os deboches, outros não contenham a
curiosidade sobre a relação entre os seus "salários de doutor" e
o patrimônio, inclusive ou sobretudo agrícola, com que chegou à Presidência.
Anti-social
Ainda está por ser esclarecida
a necessidade dos pastores
evangélicos de usar, projetados
para fora de seus templos, alto-falantes dignos de trio elétrico
baiano e baile funk carioca.
Quando vários bairros já estavam ensurdecendo sob o ataque
aos tímpanos e ao sono, deu-se o
milagre: foi imposto o limite de
55 decibéis para os agressores
sonoros.
O Rio está em guerra outra
vez: a Câmara de Vereadores
aprovou um projeto que restabelece os 80 decibéis, o que é o
mesmo que liberar a agressão. O
antimilagre resulta, como seria
esperável, do projeto de um vereador-pastor. Mas que seja
também projeto proveniente do
PT, mesmo em se tratando do
tresloucado PT fluminense é um
excesso além do sonoro.
Indefesa
Eis como são duras as leis de
proteção aos consumidores contra as extorsões e outras atividades semelhantes: mesmo que
fosse aplicada, a multa para as
indústrias que vêm ludibriando
o consumidor, com redução do
conteúdo das embalagens sem a
redução correspondente dos
preços, pode ficar em gaiatos R$
212.
Pouco acima de um salário
mínimo, para punir a burla que
está rendendo incontáveis milhões.
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