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PRIVATIZAÇÃO
Receita exige multa; ministério prevê vitória da MCI na Justiça
Cobrança de impostos à
Embratel divide governo
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
A cobrança de multas à Embratel está dividindo o governo. A
Receita Federal não abre mão da
cobrança, mas avaliações técnicas
do Ministério das Comunicações
apontam que a norte-americana
MCI, atual controladora, poderia
ganhar eventual disputa jurídica.
Enquanto a Receita bate pé no
valor da multa e do imposto devido, o ministério avalia informalmente que o débito da empresa
pode ser reduzido a cerca de R$
800 milhões -quase a metade da
estimativa atual de R$ 1,3 bilhão.
Na opinião da Receita, segundo
a Folha apurou, há duas questões
envolvidas: uma é a tributária, na
qual não haveria dúvida; outra é
qual controladora terá de pagar a
multa -se a atual (MCI) ou a anterior (a União).
Nesse sentido, a Advocacia Geral da União não estaria analisando a parte tributária, mas apenas
a da responsabilidade pela dívida.
Ministério e Receita concordam
num ponto: o de que a MCI esteve
devidamente informada da pendência fiscal e da possibilidade de
multa desde antes da privatização, ocorrida no ano passado.
Havia no "data-room" (serviço
oficial de informações aos interessados na privatização) da Embratel informação sobre o problema.
"É evidente que havia", afirmou
Pimenta da Veiga (Comunicações). "Ninguém pode alegar ignorância quanto ao débito." Anteontem, ele disse não saber se o
"data-room" trazia a informação.
A MCI se recusa a pagar a multa
aplicada em março deste ano na
Embratel pelo não-recolhimento
de Imposto de Renda referente ao
lucro obtido com o aluguel de
suas redes às operadoras estrangeiras. A multa e o imposto devido também se referem às remessas ao exterior feitas para pagar o
uso de redes telefônicas nos países
que recebem as ligações feitas no
Brasil.
Avaliação no ministério
O corpo técnico do Ministério
das Comunicações avalia que a
Receita terá que diminuir o valor
da multa porque cometeu incorreções. A Receita recusa a idéia. O
secretário da Receita, Everardo
Maciel, discutia o assunto ontem,
no início da noite, com o ministro
Pedro Malan (Fazenda).
A avaliação do ministério sobre
a vitória da MCI em uma eventual
disputa jurídica com a Receita
tem como base os pareceres de escritórios de advocacia contratados para assessorar a privatização
da Telebrás.
A Embratel deixou de recolher o
IR sobre os lucros com ligações de
outros países e sobre remessas ao
exterior entre janeiro de 1996 e julho de 1998.
Após ser privatizada, em julho
de 1998, a empresa retomou os
pagamentos sobre remessas. Mas
a multa da Receita teria sido calculada como se nenhum pagamento tivesse sido realizado em
todo o ano passado.
Outra redução terá que ser feita,
segundo o ministério, porque o
Brasil participa do chamado Tratado de Melbourne. Assinado em
1988, o documento estabelece que
as chamadas internacionais são
tributadas só no país de origem.
Para a Receita, porém, esse tratado só tem valor depois de ratificado pelo Congresso, o que só
ocorreu em outubro de 1998
-três meses depois, portanto, da
privatização da Embratel.
Na tréplica, o ministério acusa a
Receita de ter desconsiderado os
efeitos do tratado e calculado a
multa referente aos lucros obtidos
mesmo após outubro do ano passado com ligações feitas em outros países e destinadas ao Brasil.
A Folha teve acesso às consultas
feitas pela própria MCI ao "data-room" da Embratel.
A operadora fez perguntas sobre o fato de a Embratel não estar
recolhendo o IR sobre remessas
ao exterior, questionou a origem
de débitos apresentados nos balanços e pediu detalhes sobre a
discordância com a Receita.
Além disso, ela teve acesso a
questionamentos semelhantes
feitos pela Sprint e pela Stet (que
participaram do leilão) sobre os
mesmos assuntos. Há, inclusive,
uma troca de correspondência
entre a Embratel e sua antiga controladora, a Telebrás, discutindo
o que fazer com a multa.
A Embratel sugeriu o parcelamento do débito, então de R$ 250
milhões, em 60 meses. Na resposta, o então presidente da Telebrás,
Dílio Sérgio Penedo, descarta o
pagamento e o parcelamento.
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