São Paulo, Quinta-feira, 28 de Outubro de 1999
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JANIO DE FREITAS
Novos ou velhos

A segurança com que o governador Anthony Garotinho tem respondido a Leonel Brizola denota respostas pensadas e amadurecidas bem antes dos episódios que as têm motivado. O mesmo pode ser dito do comentário corrosivo sobre as queixas do PT quanto a seus cargos na reestruturação do secretariado fluminense. Desse modo, as falas do governador sugerem que já tem previstas as suas adversidades, o que, por sua vez, só é possível se houver um plano de ação pormenorizado e preciso.
O consenso, a respeito, é a idéia de Garotinho livrando-se, nos seus aliados, do lastro de esquerdismo e nacionalismo inconvenientes às composições para sua candidatura à Presidência. Pela qual já estaria a caminho de uma sigla partidária que, além de libertá-lo das pressões e confrontos do PDT, lhe ofereça estrutura nacional mais ampla do que o precário pedetismo.
Se essa idéia consensual estiver certa, é provável que Anthony Garotinho não esteja. A precipitação é um risco tão grande que até cunhou ditos -"morrer na praia", "acabar no sereno", e por aí. A propósito, consensual, hoje, é também a convicção de que Ciro Gomes, expondo-se cedo demais, já começou a colher os maus frutos de pôr-se como alvo e gastará o gás antes de chegar ao final da corrida.
O caso de Garotinho tem uma particularidade: político bem-sucedido no norte fluminense, mas sem presença em Brasília ou outra instância nacional, é, na verdade, um desconhecido. Para muita gente, mais do que isso, um mistério: em que medida é, se é, instrumento dos evangélicos para alcançar o poder nacional e o predomínio religioso? Até onde poderia ser um homem que só mostraria sua face depois de chegado ao poder? Ou faz certo gênero de esquerda para se valorizar na busca de apoio da direita? Incertezas assim, e várias, não têm anulado a simpatia pelo governador, mas impedem convicções a seu favor.
Mesmo como governador ninguém sabe ainda quem é Anthony Garotinho. Começa-se a saber, por atitudes do próprio, como é Anthony Garotinho. E se a compostura e a discrição lhe têm sido muito favoráveis, como a agilidade de sua atenção de administrador, muitos dos seus simpatizantes dizem descobrir nele um autoritarismo descabido, uma arrogância que contrasta com as primeiras impressões.
Assim como há o receio de que Ciro Gomes seja uma reedição parcial de Collor, embora ninguém explique com clareza onde está a semelhança, começa a haver, suscitadas por atitudes de Anthony Garotinho, o receio de que lembre demais Jânio Quadros, pelo individualismo, o mistério e a autoridade presunçosa. Mas tanto o receio como sua negação ficam só por conta do desejo de cada observador, porque ainda é preciso saber, pelo menos minimamente, quem é Anthony Garotinho, novidade ou contrafação.



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