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JANIO DE FREITAS
Novos ou velhos
A segurança com que o governador Anthony Garotinho tem
respondido a Leonel Brizola denota respostas pensadas e amadurecidas bem antes dos episódios que as têm motivado. O mesmo pode ser dito do comentário
corrosivo sobre as queixas do PT
quanto a seus cargos na reestruturação do secretariado fluminense. Desse modo, as falas do governador sugerem que já tem previstas as suas adversidades, o que,
por sua vez, só é possível se houver
um plano de ação pormenorizado
e preciso.
O consenso, a respeito, é a idéia
de Garotinho livrando-se, nos
seus aliados, do lastro de esquerdismo e nacionalismo inconvenientes às composições para sua
candidatura à Presidência. Pela
qual já estaria a caminho de uma
sigla partidária que, além de libertá-lo das pressões e confrontos
do PDT, lhe ofereça estrutura nacional mais ampla do que o precário pedetismo.
Se essa idéia consensual estiver
certa, é provável que Anthony Garotinho não esteja. A precipitação
é um risco tão grande que até cunhou ditos -"morrer na praia",
"acabar no sereno", e por aí. A
propósito, consensual, hoje, é
também a convicção de que Ciro
Gomes, expondo-se cedo demais,
já começou a colher os maus frutos de pôr-se como alvo e gastará
o gás antes de chegar ao final da
corrida.
O caso de Garotinho tem uma
particularidade: político bem-sucedido no norte fluminense, mas
sem presença em Brasília ou outra instância nacional, é, na verdade, um desconhecido. Para
muita gente, mais do que isso, um
mistério: em que medida é, se é,
instrumento dos evangélicos para
alcançar o poder nacional e o predomínio religioso? Até onde poderia ser um homem que só mostraria sua face depois de chegado ao
poder? Ou faz certo gênero de esquerda para se valorizar na busca
de apoio da direita? Incertezas assim, e várias, não têm anulado a
simpatia pelo governador, mas
impedem convicções a seu favor.
Mesmo como governador ninguém sabe ainda quem é Anthony Garotinho. Começa-se a saber, por atitudes do próprio, como
é Anthony Garotinho. E se a compostura e a discrição lhe têm sido
muito favoráveis, como a agilidade de sua atenção de administrador, muitos dos seus simpatizantes dizem descobrir nele um autoritarismo descabido, uma arrogância que contrasta com as primeiras impressões.
Assim como há o receio de que
Ciro Gomes seja uma reedição
parcial de Collor, embora ninguém explique com clareza onde
está a semelhança, começa a haver, suscitadas por atitudes de
Anthony Garotinho, o receio de
que lembre demais Jânio Quadros, pelo individualismo, o mistério e a autoridade presunçosa.
Mas tanto o receio como sua negação ficam só por conta do desejo de cada observador, porque
ainda é preciso saber, pelo menos
minimamente, quem é Anthony
Garotinho, novidade ou contrafação.
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