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CELSO PINTO
Alemanha: do Leste para o Leste
Leipzig - Reudnitz é a única
grande cervejaria de Leipzig,
maior centro industrial da antiga
Alemanha Oriental, que sobreviveu à reunificação. Fundada em
1862, ela foi vendida para uma
grande cervejaria de Dortmund
(cidade da Alemanha Ocidental)
e passou por uma enorme transformação.
Em 89, ainda no regime comunista, empregava 600 trabalhadores e produzia 450 mil hectolitros
por ano. Hoje, emprega 170 e produz 800 mil hectolitros.
Toda a cúpula da antiga Reudnitz foi demitida, exceto Joachen
Deinert, hoje gerente da fábrica,
porque, como ele explica, "eu não
era filiado ao partido comunista".
Em 89, a fábrica usava carvão e
despejava 6 milhões de toneladas
de cinzas no ar, a cada ano. Hoje
usa gás e é ecologicamente limpa.
Era uma cervejaria obsoleta;
hoje é toda computadorizada e a
de maior produtividade do grupo.
Da linha de montagem, na zona
central de Leipzig, saem 1 milhão
de garrafas por hora, controladas
por apenas cinco funcionários por
turno.
A Reudnitz é um retrato do que
aconteceu no Leste após a reunificação, para o bem e para o mal.
Foi há exatos dez anos, em outubro de 89, nas manifestações de
massa na praça de Leipzig, que o
regime do Leste começou a cair.
Bebidas e alimentação foram
alguns dos poucos ramos onde algumas antigas empresas do Leste
conseguiram sobreviver, depois de
vendidas a grupos ocidentais. O
resto virou sucata.
Mesmo no ramo de cervejas, onde existem 1.350 fábricas na Alemanha, houve um colapso. A Alemanha Oriental produzia 24 milhões de hectolitros por ano (a
Alemanha como um todo produz
115 milhões). Em 90-91, logo depois da reunificação, a produção
no Leste caiu para 7 milhões de
hectolitros. Ano passado, chegou
a 12 milhões, lembra Deinert.
Quem sobreviveu recebeu investimentos e aumentou muito a
produtividade. Só que, no processo, sumiram produção e empregos
e a recuperação tem sido dolorosamente lenta.
Leipzig, que tem a mais antiga
feira comercial do mundo, desde o
século 12, era e continua sendo o
principal centro produtivo do Leste, seguido pela cidade de Dresden. Nas contas de Harald Lehman, da Câmara de Comércio e
Indústria de Leipzig, na região
desapareceram 72% dos empregos industriais, entre 91 e 98, caindo de 136 mil para 38 mil.
Mudou muito o perfil da economia do Leste. Em Leipzig, o número de empresas do setor terciário mais do que triplicou, de 4.300
para 14.350. Os empregos no setor
de serviços subiram de 30% para
41% do total, enquanto na indústria caíram de 46% para 20%. O
número de empresas comerciais
saltou de 10 mil para 13 mil.
A situação de emprego, contudo, é muito ruim. Em todo o Estado da Saxônia, onde está Leipzig,
o desemprego chegou a 18,8% em
98. Nos cinco estados do Leste, depois de dez anos de transferências
do Oeste de US$ 55 bilhões, o desemprego hoje é de 17,2%, enquanto no Oeste é praticamente a
metade, 8,3%. Dos 3,950 milhões
de desempregados hoje na Alemanha, 1,3 milhão está no Leste. Em
91, logo depois da reunificação,
eram 800 mil desempregados; em
janeiro do ano passado, chegou
ao pico de 1,6 milhão.
Uma esperança está no setor de
serviços. Dresden conseguiu atrair
uma fábrica de componentes de
computadores da Siemens e sonha em virar um centro de informática. Leipzig atraiu 70 instituições financeiras e é hoje o segundo
maior centro financeiro alemão,
depois de Frankfurt.
O desejo é transformar a região
num centro de novas tecnologias
ligadas à informática, biotecnologia e eletrônica, diz Ulrich Kromer von Baerle, diretor-gerente
da importante Feira de Leipzig. A
própria feira teve que se adaptar
aos novos tempos.
No regime comunista, a Feira
de Leipzig era o maior "show-room" do Leste. Em duas enormes
exibições anuais, era o grande
ponto de contato comercial entre
Leste e Oeste. Hoje, faz 30 exposições menores por ano, no magnífico novo recinto inaugurado em
1996, com 102 mil metros quadrados e instalações moderníssimas.
Com 1 milhão de visitantes por
ano, a feira vai indo bem, mas
tem que buscar nichos para sobreviver no competitivo mercado de
promoções de feiras.
A grande esperança de Von
Baerle continua voltada para o
Leste. Se e quando a União Européia incorporar os velhos países
do Leste, como Polônia, República
Tcheca e Hungria, Leipzig estará
numa posição estratégica para
ser, outra vez, a ponte com o Oeste.
Não deixa de ser uma enorme
ironia. Dez anos depois de ter
reencontrado o Ocidente, uma
das grandes oportunidades da
antiga Alemanha Oriental continua sendo o Leste.
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