São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Deputado federal José Genoino, favorito, enfrenta hoje em prévia Renato Simões, da ala radical

PT vai às urnas para escolher candidato ao governo de SP

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT escolhe hoje, em eleição interna cuja maior dúvida é quanto à obtenção de quórum mínimo, seu candidato à sucessão do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Estrela da ala moderada do partido, o deputado federal José Genoino é favorito absoluto. Contra ele concorre o "radical" Renato Simões, deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia.
Genoino, apoiado pelo provável candidato à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, defende a formação de uma frente de centro-esquerda para derrotar os tucanos e Paulo Maluf (PPB).
Ele admite rever contratos de privatização e concessão em estradas, mas não fala em anulá-los. Sonha formar uma chapa com a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) e dar uma das duas vagas ao Senado para PDT ou PC do B.
"Vamos ter de rasgar uma alternativa de esquerda que não pode ser só o PT. É preciso fazer um movimento de esquerda, que dispute franjas e segmentos de centro-esquerda", diz Genoino, 55. Criticado pela "esquerda" por sua moderação, ele se defende dizendo ser "radical, mas não sectário".
Simões, 39, que tem o apoio de correntes da "esquerda" partidária, adota posição radicalizada. Rejeita o discurso aberto ao centro, dizendo que a candidatura do partido tem de ser de "denúncia" à atual administração. "O espaço que temos de ocupar é o da oposição de esquerda, ao projeto neoliberal e à política que os tucanos desempenharam. O PT moderado, que propõe uma perspectiva de centro-esquerda, não é capaz de apresentar alternativa", diz.
O radical é um veterano das prévias petistas. Em 98, disputou a indicação com Marta Suplicy, obtendo 19% dos votos. Em sua plataforma, estão a reestatização do Banespa, anulação das concessões nas rodovias e do contrato de refinanciamento da dívida do Estado com a União, em 1997.
A prévia será acompanhada de perto pela direção nacional petista. Em jogo, além do candidato, está a definição do palanque de Lula no principal Estado do país.
Uma vitória folgada de Genoino daria ao presidenciável maior liberdade para adotar um discurso moderado na campanha.
Já uma improvável vitória de Simões, que defende a candidatura presidencial do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues -lançado pela esquerda para "marcar posição" no debate interno-, deixaria Lula em posição desconfortável. Em comum, o partido avalia que o maior rival é Alckmin.
O primeiro desafio do partido será obter quórum na prévia de hoje. A própria direção estadual prevê que apenas 20 mil filiados, de um colégio eleitoral potencial de 200 mil, aparecerão para votar.
Para validar a eleição, é necessário haver 15% dos votantes em pelo menos metade dos 410 municípios onde haverá eleição. O PT aposta nas pequenas cidades para atingir o quórum. Caso não seja obtido, o candidato será definido pelo encontro estadual do partido, no início de dezembro.
"A existência de um claro favorito na eleição [Genoino" sem dúvida é um fator de desestímulo para a militância", diz o presidente do PT paulista, Paulo Frateschi.
Na raiz da apatia está também o acúmulo de eleições no partido. Há menos de dois meses, os filiados foram às urnas para eleger a direção nacional.
Desta vez, não serão usadas urnas eletrônicas, apenas as tradicionais cédulas de papel. O partido diz que a opção não está relacionada ao fracasso na totalização eletrônica de votos na última eleição interna. Por uma falha, o resultado final demorou quase duas semanas para ser divulgado.
"Esta é uma eleição simples, com apenas dois candidatos, que não justificaria o investimento em uma votação eletrônica", diz Frateschi. O partido promete divulgar o resultado até terça-feira.
O PT disponibilizou cartazes para os candidatos e marcou 13 debates no Estado. Para Simões, os debates foram marcados com pouca antecedência e a militância não está informada da prévia.
"Isso é bobagem", responde Frateschi. "Demos estrutura e fizemos a divulgação. Tudo foi acertado com os candidatos."


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