São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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Política econômica de Lula derrotará Marta, diz sociólogo

DO ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

O sociólogo e economista Francisco de Oliveira disse ontem, em Caxambu (MG), que a política econômica do governo Lula será a responsável pela eventual derrota no próximo domingo da prefeita Marta Suplicy (PT), candidata à reeleição.
"Minha tese é que Lula é a asa negra. A asa negra lembra o corvo", disse Oliveira, que participa do 28º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), afirmando que o pleito paulistano foi federalizado e que a possível derrota de Marta reflete um descontentamento com o governo Lula.
Não entre os pobres, mas "num setor ponderável das classes médias de São Paulo, que são mais liberais, quase no sentido norte-americano, e de esquerda".
"A irritação desse setor com a política econômica de Lula é enorme. Parte dessa irritação transforma-se em voto anti-Marta." A vantagem da prefeita em boa parte da periferia, analisa, é uma resposta às políticas de renda, classificadas como "uma política assistencialista bem conduzida" -"não são propriamente políticas de esquerda".
Oliveira diz que "Lula encarna" a irritação. "E o marqueteiro chama o Lula para São Paulo. Aquilo causou uma irritação. Na periferia, o efeito Lula não chega -nem pró nem contra. É o efeito das políticas [de renda]."
A reação, ele diz, é muitas vezes o voto em Serra, por razões variadas e "matizadas". O tucano não encarna essa política econômica -opôs-se a ela no governo FHC, diz Oliveira, que declara voto nulo. "O Serra não é liberal, não é reacionário e nem conservador."
Oliveira não crê que a personalidade de Marta tenha maior impacto eleitoral. "Não acho ela particularmente arrogante. Acho chata. O Serra é muito mais arrogante. Conheço de perto. É incapaz de dar bom dia."
Para o sociólogo, o impacto da eventual derrota será "muito forte". "Estão atenuando o impacto, mas é muito forte. Por uma questão óbvia: porque é São Paulo. Os dois partidos nacionais são paulistas." A reação a uma derrota, diz, não deve alterar a rota da política econômica. "A política econômica é muito forte e não dá para mudar de repente por causa de uma eleição. Em outras áreas do governo isso terá impacto."
O sociólogo diz ver efeitos desse tipo -reação à política econômica- em outras partes do país. Em Salvador, por exemplo, o voto no pedetista João Henrique é representante da oposição ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). "Esses votos seriam do PT."
Durante a campanha do primeiro turno, Oliveira foi um dos intelectuais que lançaram um "manifesto pelo voto crítico", ou seja, nulo. Na época, ele explicou sua opção pela anulação: "Não há disputa de sentido nenhuma, para não dizer disputa ideológica, porque isso já seria pedir demais. Há uma disputa eleitoral, que é só uma técnica de repartição do poder". (RAFAEL CARIELLO)


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