São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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Presidente fala de clima 'destrutivo'

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso ontem no Congresso, o presidente Fernando Henrique Cardoso mandou um recado para o futuro governo petista: a transição serve para evitar a descontinuidade indesejada de programas, não para juntar munição sobre os problemas da administração federal e criar um clima "destrutivo".
"Ao ganhar a oposição, a preocupação de quem governa é uma só: informar para permitir uma transição democrática. É fazer tudo para que o Brasil não sofra descontinuidade naquilo que os vencedores acharem que deva continuar. E para que, ao decidirem não continuar, saibam o que estão descontinuando, mas num espírito de construção, não num espírito de destruição", disse após receber a medalha da Suprema Distinção da Câmara dos Deputados.
O comentário do presidente é uma reação à ameaça velada de que os relatórios da transição preparados pelo PT apontem graves problemas na administração. FHC não quer deixar as críticas sem resposta, para não ser responsabilizado por eventuais dificuldades do novo governo em cumprir suas promessas.
Ainda em seu discurso, FHC disse que não pretende, ao deixar o cargo, "ser uma sobra para ninguém" porque quer analisar apenas seus próprios erros e acertos.
"[Pretendo] simplesmente fazer reflexões para saber no que errei e no que eventualmente poderei ter acertado."
FHC se disse "comovido" com a homenagem e com um comentário sussurrado em seu ouvido por d. Paulo Evaristo Arns, também condecorado: "Começamos juntos e terminamos juntos".
O presidente também recordou uma lição que aprendeu quando foi senador: "Há que negociar e não impor, porque impondo não se consegue alcançar um objetivo que tenha sustentação no médio e longo prazo".
No início da cerimônia, FHC foi timidamente aplaudido ao ser chamado de "estadista que abrilhanta e orgulha toda a América Latina", pelo deputado Nilton Capixaba (PTB-RO). Mas, quando foi condecorado, foi aplaudido de pé por uma platéia de cerca de 250 pessoas. Apenas o deputado João Paulo Cunha, líder do PT na Câmara, permaneceu sentado.
Dos 17 condecorados, quatro enviaram representantes para receber suas medalhas: a governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT), o economista Celso Furtado, o ex-governador Leonel Brizola (PDT) e o cacique Raoni.
Também receberam a medalha Antônio Ermírio de Moraes, Leandro Konder, Zilda Arns, Nilson Fanini e Siron Franco, entre outros. A medalha do poeta Carlos Drummond de Andrade foi recebida por seu neto.


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