São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

No ar

Já se sabe, e não de hoje, que em relação aos interesses nacionais, sobretudo se o assunto envolve interesses nacionais ou privados dos Estados Unidos, o nosso é um governo muito aéreo. Mas a falta de alguma atitude ao menos para salvar a face -não a do governo, que seria tarde, mas a do país-, em reação ao veto à compra de 40 aviões da Embraer pela Colômbia, é de um acovardamento que fere, mais do que os interesses, a dignidade nacional.
As duas alegações aqui apresentadas em pessoa pelo subsecretário do Tesouro americano, Kenneth Dam, são ambas evidente e grosseiramente mentirosas. "Os colombianos não precisam de caças a jato" para combater suas guerrilhas, disse ele, e a compra foi suspensa porque os colombianos aceitaram, nesse sentido, a opinião de um conselheiro militar americano.
A única exigência para saber que os aviões Tucano, da Embraer, não são caças a jato é não ser cego. Sua imensa hélice não enganaria nem os leigos, quanto mais os militares colombianos. E, como a própria Embraer já ressaltou, as características do Tucano o situam entre os mais adequados no mundo para as ações pretendidas na Colômbia. E não foi por outro motivo que os militares colombianos o selecionaram para empregar parte dos bilhões de dólares com que os militares americanos adquiriram o pretenso direito de intervir na Colômbia, durante o governo colombiano anterior.
É lastimável que o Brasil se inscreva entre os vendedores de armas ao mundo. Mesmo nesse caso, porém, a já modesta soberania do país não pode ser negada por vontades imperiais externas ou por acovardadas omissões internas.
Na crise das empresas aéreas, pés no chão parece ter a Fundação Ruben Berta, ao recusar o plano de "salvação" apresentado por um grupo de novos conselheiros mais ou menos impostos, ex-integrantes do atual e de passados governos.
A cinco semanas de instalar-se um novo governo, não demonstraria grande sensatez a aceitação de um plano financeiro e administrativo radical, não estando conhecidas as intenções dos futuros governantes para os problemas na aviação comercial.
Mais significativo é que, por trás, sob ou paralelamente ao plano está o fantástico negócio de venda da Varig, de fim da sua propriedade pela Fundação Ruben Berta. A Varig é um patrimônio gigantesco, só a imagem transmitida pela simples menção ou impressão do seu nome tem alto valor na aviação. Não é, portanto, um patrimônio do qual seus proprietários devam abrir mão senão em último caso. E a Varig não está no último caso, embora as pressões que sobre ela alguns credores estejam despejando, sejam quais forem seus propósitos. Como é o caso da BR Distribuidora e da Infraero, por acaso ou não, entidades orientadas por pessoas do governo.
A situação administrativo-financeira pode ser grave, mas não é o único aspecto grave nessa história.

Inveja
"Luma de Oliveira fez a maior doação pessoal para Lula." E quantos sonhavam em vão, Senhor.


Texto Anterior: Presidente fala de clima destrutivo'
Próximo Texto: Alca: Esperança vence sempre o medo, diz embaixadora
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.