|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERVURA SOCIAL
Serviços de inteligência projetam cenário de acirramento em 2005
Governo prevê mais focos de tensão no campo e na cidade
IURI DANTAS
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No momento em que o governo
Luiz Inácio Lula da Silva sofre
contestações de ordem política e
social, vindas de aliados e de adversários, seus órgãos de inteligência trabalham com cenários
de acirramento das tensões no
campo e nas cidades para 2005.
As principais preocupações dizem respeito às ações de sem-terra e de sem-teto, mobilizações indígenas, greves de policiais, reajuste salarial de militares, recrudescimento da guerra entre traficantes e até a possibilidade de surgirem dificuldades no escoamento da safra 2004/2005, no caso de
uma greve de caminhoneiros.
A conjunção desses fatores é
vista com preocupação na Polícia
Federal, na Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e na Saei (Secretaria de Acompanhamento e
Estudos Institucionais), os dois
últimos ligados ao Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República.
Segundo o jargão, o alerta de
crise fez acender uma "luz amarela" nos círculos da inteligência do
governo. Na semana passada,
houve alguns sinais incipientes
registrados em protestos de estudantes e sem-terra em Brasília. O
aumento de 10% do diesel na refinaria, autorizado sexta-feira pela
Petrobras, também projeta mais
insatisfação dos caminhoneiros.
Também na semana passada, o
governo teve uma amostra do radicalismo dos sem-terra, tanto
nas ações, como a invasão à sede
nacional do Incra, na qual quebraram portas e vidraças, como
nos discursos, quando atacaram a
política econômica do governo e
pediram a saída de ministros, durante encontro em Brasília.
Demandas reprimidas
As ameaças de crise levam em
conta a demanda reprimida de setores historicamente ligados à trajetória do PT e às promessas feitas
por Lula na campanha eleitoral de
2002. Um dos exemplos mais conhecidos é o ritmo lento da reforma agrária que vem sendo implementada pela atual equipe.
O quadro também se agrava devido à insuficiência de recursos
do governo federal para controlar
as fronteiras brasileiras, desapropriar terras e conceder reajustes
para o funcionalismo. Preocupa
os órgãos de inteligência a possibilidade de uma nova greve da PF
e nas polícias estaduais.
As dificuldades atingem até
mesmo o levantamento de informações. Sem pessoal e mobilidade suficientes para monitorar todo o território, a Abin tenta obter
ajuda da PF e das Forças Armadas. A agência possui cerca de
1.700 homens no quadro.
"O governo, diante disso, tem
de cumprir as suas metas e aparelhar seus órgãos. Além disso, precisa agir imediatamente nos momentos de acirramento, com agilidade para dar uma resposta rápida e transparente às reivindicações", afirma o ministro Nilmário
Miranda, da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos.
Nesta semana, a Abin reúne todos os diretores, coordenadores e
chefes de escritórios dos Estados
para elaborar seu planejamento
para o ano que vem, com base
nesse cenário. Ainda no mês de
dezembro, as Forças Armadas e a
PF farão o mesmo, em conjunto
com alguns diretores da Abin.
Internamente, segundo a Folha
apurou, a avaliação feita pela
agência indica que a Presidência
da República tende a ficar preservada dos conflitos e tensões. Para
os analistas da Abin, o governo
promoveu uma blindagem de Lula, contra choques na economia e
demandas sociais.
Militares
Entre os militares, há dois aspectos em consideração: um novo
capítulo sobre o reajuste salarial e
a reestruturação das Forças Armadas, que poderá assegurar a
presença de soldados nas ruas como complemento na segurança.
Neste ano, o governo concedeu
um aumento de 10% aos militares
e terá de negociar uma segunda
parcela no primeiro trimestre de
2005 -os militares pedem outros
23%, mas a restrição fiscal impediu o governo de se comprometer
com o índice até agora.
Há alguns meses, o processo de
negociação desgastou governo e
comandos das Forças. Familiares
de militares, principalmente de
recrutas, vestiram-se de preto e fizeram protestos nas ruas, ato interpretado como uma provocação aos comandos.
A reestruturação das Forças Armadas, na prática, está diretamente ligada a eventuais investidas do Exército em ações urbanas, em casos de greves de policiais ou de auxílio na segurança
pública dos Estados.
Ou seja, um clima de insatisfação entre militares tornaria ainda
mais difícil concretizar a aspiração do governo de fazer grandes
operações conjuntas. Planeja-se
para o próximo ano ações de
maior fiscalização nas fronteiras,
de modo a estrangular rotas de
entrada de drogas no país.
A PF estabeleceu o combate ao
narcotráfico como prioridade para 2005, mas só poderá agir em
harmonia com Estados, que reprimiriam o maior número de
embates entre traficantes com a
queda no fornecimento de drogas, e militares, os responsáveis
pelo incremento na fiscalização
de fronteiras.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Apesar do desgaste, Lula recomenda "tolerância" Índice
|