São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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Apesar do desgaste, Lula recomenda "tolerância"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da previsão dos serviços de inteligência de acirramento de tensões no campo e nas cidades em 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve mudar a linha de tolerância em relação aos movimentos sociais. Lula planeja ainda tomar atitudes simbólicas para tentar melhorar a imagem arranhada perante a tradicional base social que o ajudou a chegar ao poder em 2002.
Para Lula, esses movimentos cobram as promessas e as expectativas geradas por sua eleição. Entrar em atrito com eles seria mortal, acredita, do ponto de vista político e até eleitoral (ele vai tentar a reeleição em 2006).
Quando é chamado a dar um soco na mesa em relação ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ou a agir duramente diante de uma greve do funcionalismo, Lula diz que não vai "criminalizar os excluídos".
Essa linha norteou, por exemplo, a insistência na política de boa vizinhança quando, no último "abril vermelho", o MST fez uma série de invasões pelo país. Era um momento delicado, na seqüência do caso Waldomiro Diniz (ex-auxiliar da cúpula do governo envolvido em corrupção) e de notícias ruins na economia, como a queda de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003, o primeiro ano da gestão Lula, na comparação com 2002.
Entre as medidas que pretende adotar para atrair simpatia de seus antigos aliados estão o desejo de elevar o salário mínimo de R$ 260 para R$ 300 e de ampliar os recursos de financiamento para os programas de reforma agrária e de agricultura familiar.
Lula pretende ainda cobrar mais resultado administrativo de sua equipe nos dois últimos anos de seu governo. Ele insistirá nessa cobrança durante a reunião ministerial dos próximos dias 10 e 11, especialmente em relação às pastas da área social.

Política econômica
O presidente tem dito a auxiliares que precisa de uma marca para seu governo que vá além do que julga sucesso na política econômica adotada.
Na reunião da última segunda-feira com 18 ministros e o presidente do PT, José Genoino, Lula cobrou mais eficiência dos ministros da área social quando eles passaram a atacar Palocci. Alguns ministros disseram que medidas econômicas, como aumento dos juros e do superávit primário (toda a economia do setor público para pagar juros de sua dívida), influenciaram nos resultados eleitorais ruins que o partido colheu nas eleições municipais de outubro passado.
"Se tem uma coisa que está dando certo no governo é a política econômica. O PT não pode se esconder, procurando motivos para as derrotas, com críticas a ela", afirmou Lula.
Em seguida, emendou, segundo relato de ministros presentes à Folha: "A gente precisa mostrar resultado nas outras áreas, que é que está faltando".


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