São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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FERVURA SOCIAL

Secretaria Nacional de Segurança Pública pediu monitoramento de entidades sociais no Estado

Governo pediu para a polícia espionar movimentos em SP

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dias depois de barulhentas manifestações contra o governo federal em Brasília, integrantes do governo tucano de Geraldo Alckmin e do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trocaram acusações sobre espionagem a movimentos sociais.
Tudo começou com a divulgação de um e-mail enviado pela Dipol (Divisão de Operações de Inteligência), ligada ao governo paulista, solicitando informes às delegacias de São Paulo sobre "qualquer tipo de manifestação popular de movimentos sociais". Citava entidades que reivindicam a reforma agrária, como o MST e o Via Campesina, sindicatos (CUT e CGT), grupos estudantis (UNE e Movimento dos Sem Universidade), entre outros -algumas das quais participaram de ações na quinta-feira em Brasília, que terminaram em enfrentamento com a polícia.
O delegado-geral de polícia de São Paulo, Marco Antonio Desgualdo, nega que esteja espionando os movimentos sociais e acusa o governo federal. "Só atendemos a um pedido da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), que nos enviou ofício no dia 18 pedindo para acompanhar a movimentação", afirma.
Anteontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, negou ter pedido o monitoramento de movimentos sociais em São Paulo e afirmou que "não há polícia política" em sua pasta.
Mais direto nas críticas, o deputado estadual Renato Simões (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, fez críticas à ação da Dipol.
"Esse tipo de investigação remonta aos tempos do Dops (a antiga polícia política do regime militar). Revela uma concepção de inteligência policial gestada na ditadura que ainda hoje é uma caixa-preta", afirmou.
Simões reuniu representantes das entidades citadas no e-mail da Dipol, que pediram uma audiência com Alckmin para protestar contra o "monitoramento descabido", na última quinta-feira. Agendou também um manifesto de repúdio para a próxima terça-feira. "Não há justificativa para tratar esses agentes sociais como agentes da desordem. "
De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça, a Senasp encaminhou à Polícia Civil de São Paulo um pedido de informações logísticas sobre os participantes das manifestações ocorridas em Brasília.
O objetivo era saber quantos ônibus sairiam do Estado e quantas pessoas participariam dos protestos, informações que seriam utilizadas no planejamento do trajeto de autoridades estrangeiras que visitaram o Ministério da Justiça no dia dos protestos. A questão é que esta tarefa não cabe à Senasp, mas à Polícia Militar do Distrito Federal e à Polícia Federal. A assessoria do ministério nega irregularidades.


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